sexta-feira, 7 de agosto de 2015



07 de agosto de 2015 | N° 18250
RINDO DAS DIFERENÇAS

Comédia ecumênica


SUCESSO DE BILHETERIA, filme faz graça com o tema da integração na França

Como no Brasil, são as comédias que têm levado o público aos cinemas na França. Pois o maior sucesso de bilheteria francês em 2014 entrou em cartaz nesta semana na Capital: Que Mal Eu Fiz a Deus? atingiu a marca de 12 milhões de espectadores, fazendo rir de temas espinhosos como preconceito racial e religioso, conservadorismo e colonialismo. Sexto maior êxito cinematográfico francês da história, a comédia já somou 10 milhões de espectadores fora do país.

Na trama de Que Mal Eu Fiz a Deus?, Claude (Christian Clavier) e Marie (Chantal Lauby) formam um casal tradicional e católico, cujas três filhas mais velhas escolheram homens de etnias e religiões diferentes para casar: um advogado muçulmano de origem argelina, um empresário judeu e um investidor chinês. Em nome da harmonia familiar, os pais tentam esconder o desconforto com os genros, alimentando a esperança de que Laure (Elodie Fontan), a filha mais nova, case-se com um francês legítimo. Para desconsolo dos Verneuil, porém, a caçula está noiva de Charles (Noom Diawara), jovem ator negro nascido na Costa do Marfim.

O diretor e roteirista Philippe de Chauveron, especialista em comédias como O Aluno Ducobu (2011) – adaptação de uma popular série belga de quadrinhos –, e o ator Diawara estiveram no Brasil em junho, integrando a comitiva que veio promover o Festival Varilux de Cinema Francês 2015.

– O que representa bem essa ideia de integração é a sequência em que os três filhos de imigrantes cantam emocionados A Marselhesa (hino da França). Há cada vez mais franceses de origem estrangeira no nosso cinema, porque eles estão se integrando bem. Antes, poucas pessoas com esse perfil ousavam fazer carreira cinematográfica – disse Diawara em entrevista a Zero Hora.

ENTREVISTA: PHILIPPE DE CHAUVERON - Diretor francês

Como você criou essa história?

Tudo começou com um artigo que li no jornal que dizia que a França é o país onde há mais casamentos mistos entre comunidades diferentes. Isso me interessou porque espelha o que é a França, uma terra de misturas e contradições. Também foi uma forma de homenagear as comunidades de estrangeiros que formam a França. Quis dar a eles empregos verdadeiros, e não como costumam aparecer no cinema, como traficantes e coisas assim.

Você sempre pensou em abordar esse tema no registro de comédia?

Sempre penso em comédias. É o que eu dizia antes sobre a esquizofrenia do país. Os filhos dos imigrantes têm a mesma cultura que os filhos de franceses, mas, apesar disso, são considerados menos franceses do que estes. Quis falar sobre isso.

Como você chegou a Noom Diawara?

Eu o vi pela primeira vez em uma peça chamada Amour Sur Place ou à Emporter (“Amor no local ou para viagem”), que foi um grande sucesso na França. Ele foi minha primeira opção para o papel. Eu queria personagens que fossem sedutores, mas engraçados ao mesmo tempo.

roger.lerina@zerohora.com.br