09 de agosto de 2015 | N° 18253
CAPA
Meu velho, meu amigo
Pai é pai. Mas também pode ser o melhor companheiro para curtir junto o que a vida tem de bom
Esses seus cabelos brancos, bonitos, esse olhar cansado, profundo
Me dizendo coisas, um grito, me ensinando tanto do mundo
E esses passos lentos de agora caminhando sempre comigo,
Já correram tanto na vida,
Meu querido, meu velho, meu amigo
Pode ser clichê, mas vamos combinar que, neste final de semana, é difícil não lembrar da canção que Roberto Carlos compôs em 1979, em homenagem a seu pai. A letra de tom melancólico torna-se ainda mais tocante quando se assiste ao clipe, montado com imagens do velhinho de estatura pequena, cujas feições assemelham-se às do cantor, sentado em uma poltrona, recebendo um beijo do filho. A poesia cantada traz muitos dos elementos relacionados às figuras tradicionais dos pais especialmente os pais de pessoas adultas: cabelos brancos, passos lentos, olhar cansado. Roberto inspirou-se no próprio pai, é claro, um senhor já bastante idoso. Mas será que todas as relações entre pais e filhos chegam à maturidade com o tom grave e introspectivo que o Rei deu a sua canção?
Ao buscar histórias para ilustrar esta reportagem especial de Dia dos Pais, descobrimos que não. Pai rima, cada vez mais harmoniosamente, com amigo, companheiro, parceiro. Depois de boa parte da vida sendo (apenas) pai, muita gente descobre que também pode ter nos filhos os companheiros ideais para praticar esportes, pular Carnaval, viajar, cozinhar ou qualquer outro hobby que faça a vida ficar mais leve e saborosa. E os filhos, que já tiveram naquele homem somente a figura paterna, percebem que há muito mais naquele sujeito do que poderiam supor.
Observar as mudanças nos arranjos familiares prova que a figura paterna já não tem o mesmo papel que ostentava há 20 anos na sociedade brasileira. Segundo números do IBGE, o modelo pai + mãe + filhos já representa menos da metade das famílias no país. Outras configurações, como lares em que só um dos pais toma conta da prole, são cada vez mais comuns desde que as mulheres ingressaram de forma expressiva no mercado de trabalho – o que deu a elas a independência necessária para, por exemplo, encarar um divórcio. As mudanças em ritmo acelerado fizeram surgir inquietações e discussões sobre o papel do homem na nova estrutura social e, principalmente, o papel do pai na formação dos filhos e na organização familiar.