09 de agosto de 2015 | N° 18253
CAPA
Meu velho, meu amigo
Com mais tempo e sem o peso da responsabilidade de ser o único provedor, o homem passou a descobrir novas possibilidades de relacionamento com os filhos, tornando a paternidade algo naturalmente mais próximo e presente.
Mas isso não significa que pais mais velhos, que viveram o período da paternidade à moda antiga, não experimentem, também eles, a sensação de descobrir-se, mesmo que na maturidade, os melhores amigos de seus rebentos. Ao compartilhar gostos, interesses e hobbies com os filhos, fica selada uma herança íntima deixada de um para o outro. Ou melhor: uma herança desfrutada por todos, sem necessidade de inventariar o tamanho da felicidade.
Assim são as histórias que recolhemos para esta reportagem. Pais e filhas que descobriram-se, em algum momento, os companheiros ideais para curtir a vida. É o caso, por exemplo, do pai que encontrou na filha a melhor parceira para duas das suas maiores paixões: degustar vinhos e viajar – hábitos que também são os hobbies preferidos dela. A ausência da mãe, acometida pelo mal de Alzheimer, fez com que a dupla se tornasse ainda mais próxima nas questões familiares e também na necessária diversão.
Em busca de vinhos e aventuras, já andaram por destinos como Caribe, Punta del Este e Portugal – e já planejam incursões por Itália e Estados Unidos. Ele, um comerciário de 67 anos, há tempos não marca férias sem antes consultar a agenda da filha, a jornalista que agora escreve este texto emocionado. E ela, quem diria, percebeu que a letra da música de Roberto Carlos – outra paixão transmitida pelo pai – não é só melancolia. Quando, nos versos finais, o Rei canta que “seu sorriso franco me anima”, ele bem poderia estar nos observando, a mim e ao meu pai, ao bebericar um branco bem gelado em algum lugar do mundo.