Livro usa economia para falar de amor, drogas e amizades
Divulgação/Santosfc | ||
O jogador Jean Chera, que tem a trajetória analisada em "Pode Não Ser o que Parece", em 2011 |
Quando um tema ganha projeção no noticiário, é comum surgirem obras tentando surfar na popularidade do assunto para capturar a atenção de leitores. Isso, de uma maneira geral, acaba dando origem a uma série de publicações com variações do mesmo tópico –algumas melhores, outras piores. A economia comportamental, que rendeu ao americano Richard Thaler o Nobel de Economia neste ano, é a bola da vez no que diz respeito ao universo financeiro.
Sua ideia principal é que decisões são pautadas mais por emoções e vivências pessoais do que pelo racionalismo que marca outras correntes econômicas. "Pode não ser o que parece", de Samy Dana, professor da FGV, e Sérgio Almeida, professor da USP, parte dessa concepção para abordar as razões econômicas que estariam por trás da escolha dos amigos, dos parceiros afetivos e até do número de filhos de um casal.
São dez capítulos que recorrem a pesquisas, estudos e teorias para destrinchar como o comportamento molda decisões econômicas e influencia a sociedade. Um exemplo envolve as atualizações das leis de divórcio nos Estados Unidos, que eliminaram a necessidade de que um dos parceiros tenha feito algo errado para que a Justiça aceite dissolver a união.
Os autores citam pesquisa que indica que as regras explicam parte (17%) do aumento da taxa de separação nos 30 anos seguintes ao surgimento das normas. Em outros casos, porém, o comportamento do consumidor fica em segundo plano, como ocorre na discussão sobre tráfico de drogas. A concentração de mercado –são poucas facções– e a lei da oferta e demanda estão entre os fatores que influenciam a procura pelos entorpecentes.
Segundo estudos mencionados pelos autores, as forças de combate às drogas têm sido mais bem-sucedidas em coibir maconha –mais fácil de detectar por causa do volume e do cheiro– do que cocaína. O resultado é que o preço da maconha sobe e o da cocaína cai –o que leva ao aumento do consumo da segunda. Nem o amor escapa da lógica econômica. O casamento, dizem os autores, acontece quando cada um decide parar de procurar o par perfeito, em uma decisão emocional, com um fundo racional.
O amor também tem influência sobre as desigualdades sociais, argumentam. Basta unir um parceiro mais endinheirado a um menos favorecido. É uma forma de distribuir melhor a renda. Rico casando com rico e pobre se unindo a pobre é uma equação que só perpetua a concentração de renda, de acordo com as teses econômicas. Se algumas comparações e analogias fazem sentido, outras acabam ficando deslocadas –e sem muita relação com a economia. Exemplo é o capítulo sobre boas intenções, que aborda como o comportamento de pais pode prejudicar os filhos.
NOVO NEYMAR
O livro exemplifica com a história do jogador de futebol Jean Chera, apontado como o novo Neymar. Aos 15, ganhava R$ 30 mil no Santos e passou a ser disputado por clubes estrangeiros.
As brigas que o pai tinha com a direção do clube santista fizeram o rendimento do atleta cair. Em 2011, ele deixou o Santos sem jogar uma partida oficial pelo clube e a sua carreira só foi decaindo desde então. É difícil entender o ponto dos autores com o relato.
Em outros capítulos, no entanto, fica mais fácil acompanhar o raciocínio. Isso acontece, por exemplo, na discussão sobre dinheiro e felicidade, que traz dados de um estudo que indica que a riqueza de um país não tem relação direta com a satisfação dos habitantes. E também a teoria do retorno marginal decrescente, simples de entender: R$ 1.000 fazem mais diferença para um morador de rua do que para o Bill Gates.
De maneira geral, o livro consegue mostrar como o comportamento influencia as decisões econômicas. Mas, em alguns casos, a relação direta não é tão trivial.