30 DE DEZEMBRO DE 2017
CARPINEJAR
O presépio da família
Não tiramos o presépio depois do Natal. Ele fica até janeiro.
Transformamos a churrasqueira em gruta de igreja - sem carne espetada no período de um mês. É nossa pia de água benta à espera de benzer a testa.
É assim desde criança. Os rituais mantêm a família unida.
Somos mais do presépio do que do Papai Noel. O Bom Velhinho de vermelho nunca desceu pela chaminé porque tem uma criança surgindo na manjedoura.
Minha mãe me ensinou a montar o teatro bíblico, a fazer uma maquete do solo com papel especial, a colocar algodão imitando nuvens, a recolher pinhas, palha e barba-de-pau das árvores para compor o cenário rural. Nossos Reis Magos - Melquior, Baltazar e Gaspar - perderam as mãos e colamos com bonder. O burro e as ovelhas estão amarelados pelo tempo, mas seguem zunindo e balindo. O anjo caiu algumas vezes do prego do portal e rejuntamos as suas asas.
É a mesma turma desde pequeno. Bonita porque quebrou e se refez, humana e falível como a gente, com a história explicada dezembro a dezembro aos filhos e netos. Deixaram de ser apenas esculturas, porém réplicas em miniatura da resiliência familiar. São pedras onde depositamos os nossos laços. Há a casa no sangue e a casa no espírito, que começa com o presépio.
Não valorizamos as luzes piscando, não esnobamos com decoração o pinheiro na sala, mantemos o costume de privilegiar as sombras e a simplicidade da reencenação de Cristo, criada por Francisco de Assis.
E as crianças desfrutam do direito de colocar no presépio os seus brinquedos prediletos. Já teve Barbie ladeando a Nossa Senhora, já teve Playmobil ajudando o carpinteiro José, já teve miniaturas de Kinder Ovo puxando conversa com os pastores.
As modas mudam, as épocas variam, e amadurecer talvez seja não evoluir no amor: preservar o olhar puro e pobre do nascimento para todo o sempre.
CARPINEJAR