Um símbolo que cai
Leonardo Benassatto/Reuters | ||
O deputado Paulo Maluf (PP-SP), após exame de corpo de delito nesta quarta (20) |
Há muito de patético, sem dúvida, na imagem de um Paulo Maluf curvado, de bengala, sendo conduzido pela Polícia Federal para cumprir uma pena de prisão. Aos 86 anos, o deputado federal pelo PP de São Paulo não mais aparenta aquela indestrutível autoconfiança que, desde seu primeiro cargo na política, em 1969, surgia como afronta aos olhos de seus adversários e como sinal de determinação e empenho construtivo aos adeptos que nunca deixou de ter.
A avançada idade em que a sentença de sete anos, nove meses e dez dias de prisão atingiu o ex-prefeito, ex-governador e ex-candidato à presidência da República termina por configurar um símbolo das muitas ambiguidades em que se debate o atual estado do combate à corrupção no país. Escancara-se o conhecido problema da lentidão judicial. O desvio de verbas de que Maluf é acusado remonta a sua segunda gestão como prefeito de São Paulo, entre 1993 e 1996.
Contra o engenho de sofisticados defensores a argumentação proverbialmente tosca do próprio réu (que desafiava as câmeras e o bom senso ao negar a existência de contas em seu nome da Suíça), o Supremo Tribunal Federal só conseguiu condenar Paulo Maluf graças ao extremo rigor da lei contra a lavagem de dinheiro.
Era de todo modo irônico, e o próprio Maluf cuidava de explorar a circunstância, que em meio à onda de escândalos e prisões que atingia tantos adversários —do PT, do PSDB, do PMDB—, um ícone dos desmandos desde o regime militar permanecesse impune.
Em 2005, após um período de detenção de 40 dias, interrompido por um habeas corpus, o político paulista disse ser vítima de pura perseguição —ostentando bom humor, tomando cerveja e comendo no estabelecimento que recebeu o nome de Pastelão do Maluf, em Campos do Jordão (SP).
Em março deste ano, gabou-se de não constar do rol de investigados na Lava Jato e no mensalão. As muitas suspeitas contra ele levantadas ao longo de décadas tendem, de fato, a se diluir na memória coletiva nacional. Que não se minimize, entretanto, a corrupção dos tempos da ditadura, facilitada pela prosperidade econômica, pela censura à imprensa e pelo controle da Justiça.
Se a democracia restaurada herdou os vícios do patrimonialismo, da megalomania estatal e da irresponsabilidade orçamentária, ao menos proporciona as vias para denunciá-los e corrigi-los.