23 DE DEZEMBRO DE 2017
LYA LUFT
Pra quem acredita, Natal existe
Pois esta coluna vai aparecer exatamente na véspera de Natal. Ou nas vésperas, porque já sai no sábado. Muitos hão de pensar, ué, essa senhora, com tudo o que já viveu, experimentou, passou, leu, aprendeu, curtiu ou sofreu, ainda acredita nisso?
Pois esta senhora acredita em fadas e duendes que de noite cochicham entre as árvores do meu jardim no Bosque de Gramado, acredita em anjos da guarda, acredita em Deus, seja lá como o quiserem definir: força suprema, mistério que envolve o mundo, enigma que criou e observa o universo com ar de pai meio divertido, meio compadecido... não importa. Em deuses, desses bonitos e humanos, deuses da alegria e do consolo, da água doce, do mar, da floresta, dos tesouros, dos ventos.
Acreditei em Papai Noel e Cegonha até uma idade vergonhosa na minha infância. O Coelho da Páscoa se foi mais cedo, pois ninguém me explicava como esse bicho, mesmo grandão, botava ou fabricava tanto ovo.
Seja como for, acreditar é bom, se for em coisas boas. Também acredito que, apesar de todo o mal que vejo no mundo - mais aquele de que não quero nem ouvir falar -, existe bondade, amor, solidariedade, compaixão. Também existe amigo, e família, e em horas difíceis, ah como é bom que existam. Não só pra curtir férias, churrascos, festas, praia, não-fazer-nada, como pra segurar a mão, dizer alguma coisa boa ou nem dizer nada, quando a dor aperta.
Então, como eu não acreditaria em Natal? Não sei se nasceu mesmo aquele menino lindo, de mãe virgem, me dava uma certa peninha de José não ser o pai, mas essas coisas a gente respeita e crença alheia pra mim é sagrada.
Mas acredito sobretudo no Natal como dia, noite, hora, em que se reúnem família e amigos, ou amigos e amigos, ou dois amantes, ou colegas, ou vizinhos, ou até desconhecidos, e trocam abraços, e se desejam um bom Natal, muitas vezes já incluindo um bom novo ano. Melhor do que este que está acabando, porque este quase acabou com a gente.
Mais honesto, mais confiável, mais leve, machucando menos, enganando menos, explorando menos, mutilando menos - ajudando mais, empurrando um pouquinho mais pra cima e pra frente os que estão no desalento. Sim, eu acredito que o novo ano deve ser abraçado nas pessoas queridas, que Natal é possível: pra quem deseja, gosta, acredita em solidariedade, alegria, convívio bom, e tudo que é jeito de amor.
Que este Natal seja manso.
LYA LUFT