sexta-feira, 29 de dezembro de 2017


29 DE DEZEMBRO DE 2017
DAVID COIMBRA

Sobre a entrevista de Marchezan

Foi importante a entrevista que o prefeito Marchezan concedeu ao Timeline ontem. Ele deixou bem claro quem é e como a cidade está.

Marchezan é um político bem-intencionado, e não apenas ele. Conheço a maioria dos políticos gaúchos e sei que grande parte dessa maioria é bem-intencionada. Não falo por bairrismo, falo por ter informação a respeito.

O nosso problema é que um grupo político nunca vê a boa intenção equivocada quando outro grupo está no poder. Vê, tão somente, a má-fé.

Repare nas críticas feitas a Marchezan e a Sartori. São tão violentas e nocivas quanto as que eram feitas a Fortunati e a Tarso. Pois afianço, leitor incréu, que nem Marchezan, nem Sartori, nem Fortunati, nem Tarso querem fazer o mal. Todos eles almejam o bem público, cada qual a sua maneira.

Cada prefeito, cada governador, cada Executivo tem sua forma de encarar a administração pública. Em tese, foi eleito devido a isso. Ou seja: suas propostas devem ser respeitadas como vontade da maioria da sociedade. Claro que não é por essa razão que serão aprovadas sempre e sem discussão. O papel da oposição é, exatamente, o de apontar falhas nos projetos do Executivo. Mas o ideal, para que a democracia funcione, seria que a ideia do administrador fosse aperfeiçoada, e não rechaçada sistematicamente, a priori, só porque ele pertence a uma vertente política diferente de parcela ou da maioria do Legislativo.

No caso de Porto Alegre, Marchezan fez seu diagnóstico e seu prognóstico dos problemas da cidade. Apresentou-os ontem com firmeza, durante o programa. Em resumo, disse que a prefeitura está falida e que, para resolver a situação, será preciso reformar a administração, fazer parcerias com o setor privado e readequar as tarifas do IPTU.

Pode ser que Marchezan esteja equivocado em um ponto ou em outro, mas, em geral, suas propostas são positivas.

Só não sei se conseguirá levá-las adiante.

Todo líder, seja ele um prefeito, um técnico de futebol, um chefe de seção, um empresário ou um síndico de edifício, todo líder tem de saber gerir pessoas, mais do que coisas. Para um líder, é mais saudável saber conversar do que entender de finanças, administração, economia, engenharia ou táticas de jogo. Não basta o líder estar certo, ele tem de convencer as pessoas de que está certo.

As pessoas... as pessoas não são cristalinas, não são diretas, cada uma tem seu tempo, sua carga de história e de experiências pregressas, cada uma tem suas vontades e suas necessidades, e tudo isso faz com que você tenha de usar medidas diferentes ao lidar com elas em separado ou em grupo.

Vê-se que Marchezan está ansioso para fazer o que acha que deve fazer. Ontem, em meio à entrevista, ele demonstrou essa ansiedade. Às vezes, chegava às franjas da irritação ao expor seu ponto de vista, por ter certeza (até demais) de que está certo. Essa angústia, motivada por inegáveis bons sentimentos, decerto que o atrapalha no trato com as pessoas. Aí tudo fica mais difícil. Porque todas as pessoas precisam das outras pessoas.

Em 2018, espero que Marchezan tenha serenidade e tolerância. Espero que os vereadores também tenham serenidade e tolerância. Espero que a cidade tenha serenidade e tolerância com seu prefeito, com seus vereadores, com suas próprias mazelas, porque só assim 2018 será melhor do que 2017. E pior do que 2019.

DAVID COIMBRA