terça-feira, 24 de julho de 2018


24 DE JULHO DE 2018
DAVID COIMBRA

Pedro Ernesto, esse romântico, e o cemitério dos elefantes



O Pedro Ernesto Denardin é um romântico. Ele tem aquela voz de Jeová ditando os mandamentos a Moisés, ele parece durão como um Kannemann, ele canta músicas gaudérias e jura guardar, dentro do peito, um paralelepípedo em lugar do coração. Mas não é nada disso.

A verdade é que Pedro ama.

Ama Jussara, sua ilustríssima. Tanto que, meio para o final da Copa, ele a chamou ardorosamente à Rússia: queria com ela desfrutar uma segunda lua de mel. E Jussara foi, e se juntou a nós em Kazan, justamente em Kazan, o "cemitério dos elefantes", onde acharam sepultura o Brasil, a Alemanha e a Argentina.

Pois foi na véspera do jogo do Brasil com a Bélgica que o amoroso Pedro levou a doce Jussara para um jantar às margens do Volga, na orla de Kazan. Estavam tão felizes, os dois, gostaram tanto da experiência que, generosamente, nos ligaram:

- Venham para cá! - ordenou o Pedro. - É muito bom! Vocês não vão se arrepender.

Obedecemos. E foi talvez o melhor jantar das nossas noites russas. Era uma cantina italiana graciosa, que servia uma comida tão apetitosa como se estivéssemos na Toscana. Terminado o repasto, saímos caminhando pela orla, aproveitando o verão setentrional.

Posso dizer, sobre a orla do Volga, que é muito parecida com a do Guaíba. Com duas diferenças:

1. A do Guaíba é mais bonita.

2. A do Volga é melhor.

Por que isso?

Porque os russos deram asas ao capitalismo, e por lá o capitalismo voou. A orla de Kazan é repleta de bares alegres e lojas de excelência, além de restaurantes sofisticados, como aquele em que encontramos o feliz casal Denardin. As pessoas vão à orla do Volga e consomem e se divertem e movimentam a roda da economia e geram empregos e lucros e satisfação a toda a gente.

Quem diria? Os russos, esses velhos comunistas, não têm vergonha do dinheiro.

DAVID COIMBRA