28 DE JULHO DE 2018
POLÍTICA +
NA FREEWAY, RETRATOS DA INCOMPETÊNCIA
Os problemas da freeway, que passou de melhor do Estado a rodovia esburacada em 23 dias, fornecem uma série de retratos da incompetência do governo federal e lançam dúvidas sobre a capacidade da ANTT para gerenciar a licitação do polo que será concedido à iniciativa privada, com leilão marcado para 1º de novembro. Um governo que foi surpreendido pelo fim de um contrato cuja data de vencimento era conhecida 20 anos antes não tem defesa.
Não é preciso ser uma pessoa de grandes luzes para saber que uma licitação não se faz do dia para a noite. O governo de Michel Temer começou um ano e dois meses antes do vencimento do contrato com a Concepa. Como Temer e vários dos seus ministros já estavam no governo e conheciam a situação, poderiam ter agido antes para impedir o caos que se instalou agora.
A discussão sobre nova concessão começou torta. Como até o ministro dos Transportes à época, Maurício Quintela Lessa, chamava de "Concepão" o futuro polo formado por freeway, BR-101 (Torres-Osório), BR-448 (Sapucaia-Porto Alegre) e a BR-386 (Canoas-Carazinho), surgiu a suspeita de que o edital em construção fosse um jogo de cartas marcadas para que a empresa vencesse a concorrência.
Com o edital travado, a concessão da Concepa foi renovada por um ano, com redução da tarifa porque seria apenas de conservação. Os usuários aplaudiram porque aprovavam a qualidade do serviço prestado, mas a alegria durou pouco.
Agora, os técnicos do Tribunal de Contas da União concluíram que, mesmo com o corte de 50%, houve superfaturamento e que a empresa lucrou R$ 72 milhões além do previsto em um ano. Esse número adiciona novos elementos no caldeirão de confusões cujo resultado é o prejuízo para o usuário, com a deterioração do asfalto, a falta de socorro mecânico e a transferência do atendimento médico para as prefeituras.
Como não quis aceitar uma nova redução, a Concepa entregou a rodovia no dia 4 de julho. Nada garante que o novo contrato será de fato assinado em janeiro, já com o próximo governo empossado. Em licitações desse porte, é comum o perdedor entrar com recursos que atrasam a homologação do resultado.
Convidada para a reunião-almoço da Federasul, a candidata da Rede ao Planalto, Marina Silva, brincou com a falta de tempo na propaganda de rádio e TV:
- Tenho quatro segundos em cada bloco. Vou dizer Marina de manhã e Silva à noite. Geraldo Alckmin tem 10 minutos.
A brincadeira embutia uma queixa contra a forma como são divididos o tempo da propaganda e os recursos do fundo eleitoral, com vantagem para os partidos que reúnem maior número de deputados federais. A Rede tem apenas dois e, por isso, terá somente R$ 10 milhões do fundo público para dividir entre todos os seus candidatos.
Marina disse que não se conforma quando perguntam como vai governar sem maioria:
- O que pergunto é por que a Dilma não conseguiu e o Temer não consegue governar com 300 deputados. Quero fazer uma aliança com os 200 milhões de brasileiros e não com partidos.
Para montar o governo, em caso de eleição, Marina disse que convocaria "os melhores".
- Vou aposentar aqueles que estão fazendo gol contra e chamar para o campo os que estão no banco de reservas, como o senador Pedro Simon.
Amigo e conselheiro, Simon dividiu a mesa com ela e com a presidente da Federasul, Simone Leite. DESAFIANDO A ESCASSEZ