sábado, 28 de julho de 2018



28 DE JULHO DE 2018
ENTREVISTA

O veredicto das mulheres

Conversamos com as três juízas à frente das associações de magistrados no RS sobre igualdade de gênero, feminicídio, aborto e reforma trabalhista

Pela primeira vez, as três entidades que representam os magistrados do Rio Grande do Sul são presididas por mulheres. A posse da juíza Rafaela Santos Martins da Rosa na Associação dos Juízes Federais do Rio Grande do Sul (Ajufergs), no começo de julho, fechou a trinca formada pela juíza Vera Lucia Deboni, presidente da Associação de Juízes do Rio Grande do Sul, e por Carolina Hostyn Gralha, da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 4ª Região. Não é a primeira vez que uma mulher toma posse como presidente em nenhuma delas mas, considerando a discrepância entre o número de presidentes mulheres e homens em todas essas associações, é, de fato, simbólico que os mandatos dessas juízas sejam concomitantes.

São mulheres diferentes com trajetórias distintas. Quando entrou na magistratura em 1987, Vera Lúcia Deboni fazia parte dos 20% de juízas mulheres. Agora, a presidente da Ajuris lembra que, no Estado, as mulheres representam um total de 53% dos magistrados.

- Obviamente, isso veio acontecendo devagar, mas foi sem revés. Depois que começaram a aceitar as mulheres, e realmente foi difícil que isso acontecesse, não houve como voltar atrás. Hoje, dois dos maiores tribunais são presididos por mulheres - afirma, lembrando da ministra Cármem Lúcia, presidente do Superior Tribunal Federal, e da ministra Rosa Weber, à frente do Tribunal Superior Eleitoral.

Rafaela Santos Martins da Rosa e Carolina Hostyn Gralha, têm 12 e 13 anos de carreira, respectivamente. Reconhecem que fazem parte de outra geração, mas que algumas questões ainda se mantêm.

- Ainda é difícil de se aceitar a presença da mulher em um papel de liderança e confiança. Fica claro o quanto se identifica os papéis de poder com a figura masculina, e nós três chegarmos em 2018 sendo as representantes dos nossos juízes é uma virada de mesa - avalia Carolina.

A juíza Rafaela vê o momento como uma oportunidade para trabalhar as questões de gênero internamente:

- Conseguimos representatividade e estar em todas as instâncias, mas ainda existe uma diferença de tratamento quando é um juiz ou uma juíza falando. Acho que agora temos um papel importante nisso também, em trabalhar internamente, porque sabemos que, no seio das instituições, também há muito a ser feito.

E fora das instituições também: nossa vida é pautada por diversos temas que ganham ainda mais força por causa dessas questões de gênero. Aproveitamos o momento para ouvir o que as três juízas têm a dizer sobre assuntos que tocam a nossa rotina, como a diferença salarial entre homens e mulheres, feminicídio, aborto e reforma trabalhista.

CAMILA MACCARI, ESPECIAL