sábado, 18 de maio de 2024


18 DE MAIO DE 2024
TRAGÉDIA NO RS

Empresários prometem "virar o jogo"

Antes da tragédia, cinco grandes empreendimentos do 4º Distrito estavam em fase adiantada, como indutores de desenvolvimento, entre eles a construção do prédio mais alto de Porto Alegre. Em 2022, a prefeitura aprovou o primeiro projeto arquitetônico da região seguindo o novo regime especial de flexibilização dos parâmetros urbanísticos e concessão de benefícios. O projeto está localizado entre as ruas Sete de Abril e Emancipação, no bairro Floresta. Aproveitando a estrutura de um antigo moinho de farinha, prevê a implantação de uma torre de 117 metros de altura.

Eduardo Fonseca, CEO da ABF Development, responsável pelo projeto, reforça o compromisso com a região.

- Permaneceremos no 4º Distrito, acreditamos nele, e estamos ainda mais acreditando nesse momento - diz. - Temos de pensar medidas de curto, médio e longo prazo para mitigar eventuais chuvas, como casas de bombas, obras mais complexas, diques. Essa tragédia vai gerar uma oportunidade.

No 4º Distrito, abandono e promessas sempre se misturaram. A renovação demorou décadas para ocorrer. O empresário afirma não se sentir "traído" pelas águas:

- A gente tem empreendimentos no Menino Deus, e teve água ali. Teve também na Cidade Baixa, Assunção, Tristeza, não foi uma coisa especifica do 4º Distrito, do Centro. Não dá para pensar em derrocada. Estou pensando em oportunidade. Vamos virar esse jogo.

Alguns dos principais empreendedores do 4º Distrito consultados pela reportagem reafirmam essa perspectiva: mesmo com a enchente histórica de 2024, pretendem permanecer investindo na região. CEO do Instituto Caldeira, iniciativa que abriga startups de Porto Alegre, Pedro Valério faz uma profunda reflexão sobre o momento dramático que vive aquela região da cidade:

- É um momento que leva a muitas reflexões. Tem o momento de tristeza, de luto. Teve todos os sentimentos. E esse momento é de visão de futuro. Qual é a cidade do futuro que a gente quer reconstruir de alguma maneira e como o Caldeira pode contribuir, que tipo de 4º Distrito a gente pode construir ali, e como proteger.

Valério afirma que não pretende sair dali "de jeito nenhum":

- O Caldeira vem fazendo uma articulação tanto com atores locais quanto internacionais. O exemplo que eu dou é Amsterdã, faz 750 anos que está abaixo d?água. Ou Veneza, que todo ano alaga, mas sabe conviver com isso. O próprio instituto iniciou o trabalho de projetar o futuro, convocando um grupo de especialistas para repensar planos de contingência, de como lidar com uma situação: revisão das comportas, a 14 e a 16, como a gente pensa o sistema de bombas. Então, a gente está fazendo todo um projeto de engenharia nesse sentido para, de fato, ao limpar, ao tirar a água, proteger de forma a não acontecer de novo. Temos de viabilizar uma cidade melhor. Fomos omissos por muitas décadas em relação a esse assunto.

O Instituto Caldeira tem como sede as antigas fábricas das Indústrias A.J. Renner, contando com uma área de 22 mil metros quadrados. Mas tem plano de expansão: com investimento de R$ 120 milhões, pretende ocupar a fábrica de tecidos Guahyba. Com isso, a área para atividades de empresas e instituições passará para 55 mil metros quadrados. Valério afirma que, por ora, o projeto não está comprometido e reforça que está fazendo estudos para proteger áreas de futuras inundações.

Coletividade

Eliane Soares, proprietária da Sou Elevadores Autorais e uma das organizadoras da associação de empresários e moradores do 4º Distrito, está preocupada é com a insegurança na região.

- Roubam energia, arrombam as coisas. Com água já estão agindo dessa forma, imagina depois que não tiver água. Será que o poder público vai dar atenção não só às pessoas físicas, mas a quem faz a economia girar? Nossa dúvida é se teremos o mínimo: segurança, limpeza, energia elétrica, depois que tudo isso se acalmar - questiona Eliane, que diz ter investido mais de R$ 1 milhão na sede, que estava, até sexta-feira, debaixo d?água.

Antonia Wallig, gestora do Vila Flores, afirma que será necessária muita força coletiva para reerguer o centro cultural, que teve todo o térreo alagado:

- Há 10 anos, viemos sediando reuniões da prefeitura, com a população, para que essa região possa se desenvolver. O essencial nunca foi feito. Por isso, está acontecendo o que está acontecendo. A gente precisa retomar esse olhar para as politica públicas estruturantes. A cultura e a arte acabam sendo catalisadoras disso tudo.

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