sábado, 25 de maio de 2024



25 DE MAIO DE 2024
ARTIGOS

APRENDER COM A TRAGÉDIA

As tragédias não surgem ao acaso, como cogumelos após leve chuva. Ao contrário, têm causas concretas, mesmo escondidas do olho humano. Esta conclusão nem sempre é lembrada e, assim, tomamos as catástrofes tal qual o homem das cavernas, atribuindo o horror à "ira de Deus".

A catástrofe atual não surgiu por magia. Desenvolveu-se pouco a pouco. A seca de 1877 a 1878 no Nordeste matou perto de 400 mil pessoas. Tomamos o horror como algo "natural", sem vê-lo como consequência do desmatamento da região ao cortar "pau-brasil" para tingir vestimentas na Europa.

A ciência ainda não descobrira as mudanças climáticas e desconhecíamos que secas e enchentes eram apenas uma consequência. Tudo se agravou com os anos e séculos, acumulando o horror. Agora, destruiu o que encontrou pela frente numa guerra sem canhões ou balas, mas que não nos fez aprender com o passado.

Na Capital e em todo o Rio Grande do Sul, os governantes foram displicentes, dedicando-se apenas a atos burocráticos. As enchentes de 2023 não serviram sequer de alerta. No Estado, o governador Eduardo Leite já tinha mudado o pioneiro Código Estadual do Meio Ambiente (que serviu de modelo ao país), abrindo caminho para o horror climático. Em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo desconheceu que o Guaíba cresceria com as chuvas, inundando a cidade. Não se interessou em consertar as comportas e bombas e a avalanche das águas surgiu num dilúvio moderno.

Mas há também o lado oposto: os milhares de voluntários que atuam em todas as áreas, salvando pessoas ou cozinhando para os desabrigados. De vários e distantes Estados vieram voluntários e máquinas de salvamento.

O Observatório do Clima da Fiocruz calcula que perto de 3 mil "estabelecimentos de saúde" (hospitais, consultórios e farmácias) foram atingidos no Rio Grande do Sul.

Nossa tragédia comoveu o mundo. Recebi mensagens de aflitos amigos da Bretanha, na França, e de Berlim, na Alemanha, onde também houve enchentes.

Indago: aprenderemos com a tragédia de agora ou seguiremos alheios ao horror? A ciência ainda não descobrira as mudanças climáticas e desconhecíamos que secas e enchentes eram apenas uma consequência

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