sexta-feira, 24 de maio de 2024


24 DE MAIO DE 2024
DANIEL SCOLA

O som da esperança

Antes da maior catástrofe climática do Brasil, a enchente de 2024, os sons tinham outro significado para todos nós. A tragédia mudou o estigma que nos causava medo, ânsia e sobressalto. As sirenes da polícia indicavam que havia uma operação policial em curso. A movimentação de caminhões verdes era um exercício das Forças Armadas. 

O barulho de jet skis significava que alguém estava se divertindo. Caminhão vermelho dos bombeiros era sinal de que ele rumava para um local em chamas. O som do motor do barco poderia indicar pescaria. Remos batendo na água eram sinal de que alguém estava praticando esporte. O giro de hélices era sinal de que alguém estava aproveitando a visão panorâmica de um helicóptero. O ronco de caminhões nas estradas era sinal claro de que a produção estava sendo transportada e a economia estava em movimento.

Desde o início deste mês, tudo isso passou a ter outro significado para todos nós. O helicóptero é sinal de salvamento. As sirenes significam que uma operação associada à enchente está em curso. A movimentação de caminhões verdes indica que militares estão a caminho de alguém que precisa de ajuda em algum lugar. Frotas de caminhões levam comida e água para locais desabastecidos. Comumente, nossas conversas são interrompidas pelo som de sirenes e pelo barulho de helicópteros cruzando os céus em direção a uma zona alagada.

Nunca pensei que ficaria aliviado de ouvir esses novos sons. Outro dia parei o que estava fazendo e fiquei admirando um voo que atravessava a região onde moro. Todos os dias ouço esse barulho que agora tem outro significado. É contagiante e comovente ver muita gente envolvida nessas operações. Gosto de lembrar que, nos Estados Unidos, pessoas que salvam as outras são reverenciadas. 

Principalmente depois do 11 de setembro de 2001, bombeiros e socorristas são tratados como heróis. É assim que devemos tratar essas pessoas aqui. Os que estão em helicópteros, barcos, caminhões e canoas estão salvando vidas e, portanto, fazendo um ato de heroísmo. Só preciso confessar que estou um pouco dividido. O principal agora é que esses sons continuem até a última pessoa ser socorrida. E quando cessarem, saberemos que o trabalho finalmente foi concluído.

DANIEL SCOLA

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