quarta-feira, 23 de abril de 2025



23 de Abril de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Símbolos do poder econômico dos EUA em xeque

Sempre que uma crise sacudia o mundo, o país menos abalado costumava ser os Estados Unidos. Afinal, em períodos turbulentos, o país oferecia dois refúgios seguros: o dólar e os títulos do Tesouro (Treasuries). Na turbulência global provocada pela guerra comercial empreendida por Donald Trump, ambos estão sob xeque.

Depois de o Tesouro americano ter sido obrigado a elevar o juro para vender Treasuries, agora é o dólar que verga sob o peso do ataque de Trump ao Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA). Até no Brasil, o mercado voltou do feriadão com uma queda firme na cotação, de 1,32%, para R$ 5,728. É uma reação ao recrudescimento da tentativa de derrubar o atual presidente do Fed, Jerome Powell.

Os EUA, é bom lembrar, têm uma dívida pesada, equivalente a cerca de 123% do PIB. Mas, mesmo quando o epicentro da crise estava nos EUA, como em 2008, o mundo fazia o famoso "flight to quality" (voo para a qualidade, ou para ativos seguros). E o dólar se valorizava porque, afinal, era uma reserva de valor. Isso é conhecido na economia como "garantias do excepcionalismo econômico americano", que hoje estão minadas, segundo oito a cada 10 economistas.

Cenário inimaginável

Um dos economistas que resume a posição dos oito a cada 10 é Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine. Diz que a tentativa de Trump de desestabilizar e, eventualmente, demitir Powell, "eleva a discussão sobre a posição hegemônica do dólar como reserva global de valor e instrumento de proteção diante da instabilidade". E ele mesmo reconhece:

-É um cenário inimaginável até poucas semanas atrás.

O que ponderam os outros dois a cada 10 é importante: não existe, até agora, alternativa efetiva ao dólar. Euro, iene e franco suíço, outras três moedas fortes, têm muito menor participação nas transações internacionais, e menor ainda nas reservas cambiais de países. Mas um sintoma do que apontam os outros oito vem da cotação do ouro, que não para de subir desde que Trump começou a distribuir tarifas como tiros pelo mundo.

Ontem, o ouro chegou a alcançar a marca de US$ 3,5 mil por onça-troy (cerca de 23,5 gramas), depois moderou a alta, mas segue quebrando recorde atrás de recorde.

Em relatório publicado ontem, o Fundo Monetário Internacional (FMI) avaliou que o mundo passa por um "momento crítico". A crise deflagrada por Trump fez a instituição diminuir sua projeção de avanço do PIB global para 2,8% neste ano. Em janeiro, esperava crescimento de 3,3%. _

Sem espaço para ignorar o legado e o exemplo de Francisco

O conclave para escolha do sucessor de Francisco deve ser o mais tenso e diverso das últimas décadas. E, portanto, um dos mais incertos.

A composição do "colégio cardinalício" é considerada a menos europeia na história da Igreja Católica e, como há muitos novos integrantes, alguns vão se encontrar pela primeira vez para escolher o novo chefe desse grupo tão poderoso e, ao mesmo tempo, tão desafiado.

O que é certo, até agora, é o peso do legado e do exemplo de um Papa que foi chamado de "irrepetível". Se até Francisco a bolha do Vaticano considerava normal usar ouro e arminho ao ler a passagem do Evangelho em que Cristo multiplica pães e peixes para aplacar a fome de necessitados, isso agora passará a ser, ao menos, um tanto desconfortável.

Pioneirismo

O cardeal Bergoglio foi pioneiro em muitos pontos: o primeiro jesuíta eleito ao papado, o primeiro sul-americano, o primeiro em mais de um século a ser enterrado fora da Igreja de São Pedro. Ao menos nas últimas décadas, foi o primeiro a dispensar os aposentos luxuosos do Palácio Apostólico para se acomodar em um quarto simples na Casa Santa Marta, onde morreu. Ainda dispensou cruz e anel de ouro, além de outros ornamentos que refletem a riqueza da Igreja Católica.

Toda a pompa já disfuncional pode até retornar - assim como a incômoda repetição das contradições da humanidade, que é mais rica e mais desigual do que nunca. Mas depois do Papa com o nome do santo que questionou o contraste entre a riqueza da Igreja Católica e a miséria dos que eram, segundo o Evangelho, os preferidos de Jesus, o crucifixo de ouro e a indiferença vão pesar mais. _

Para que serve uma tarifa de 3.403%?

Na segunda-feira, feriado no Brasil, surgiu "a última de Trump": o presidente dos Estados Unidos determinou tarifa de até 3.403,96% para painéis e células solares importados de países do Sudeste Asiático. O número desafia a lógica, tanto por ter quatro dígitos quanto por terminar com "03,96", algo incompreensível nessa magnitude. Por que o teto não foi de 3.400%?

Há uma justificativa no estabelecimento de barreiras a Camboja (3.403,96%), Malásia (799,55%), Tailândia (168,8%) e Vietnã (542,64%). Como as punitivas estão suspensas, todos estão submetidos à padrão de "apenas" 10%. Não só para placas e células solares, são países que a neste caso não tão confiável China usa para triangular sua produção.

A acusação que levou à fixação desse tipo de taxa, estabelecida no conceito de direitos antidumping e compensatórios, foi do Comitê de Comércio da Aliança Americana para a Fabricação de Energia Solar.

A associação acusou empresas chinesas de operarem no Sudeste Asiático para venderem componentes solares abaixo dos preços de mercado nos EUA e de receberem subsídios na origem que tiram a competitividade dos concorrentes americanos.

Algo semelhante ocorreu no Brasil quando se estabeleceu salvaguarda para os calçados chineses, também alvos de acusação de dumping - venda por valor abaixo do preço de mercado - pela indústria nacional. _

A startup gaúcha e as antenas da Starlink

Quando Cristiano Mendes viajava ao interior do RS, o acesso à internet era problema frequente. A demanda própria fez o empresário encontrar uma lacuna no mercado: havia poucas opções para facilitar a conectividade móvel.

Com aporte de R$ 1,5 milhão, Mendes e seu sócio, Cleber Lopes, criaram a Star2Go, startup de Canoas que produz suportes para estabilizar antenas da Starlink em veículos. A empresa de Elon Musk é conhecida por oferecer serviço de internet via satélite, o que permite a conexão em áreas remotas.

Com 10 meses de operação, a Star2Go tem cerca de 2 mil clientes. A maior parte dos usuários é composta por profissionais que precisam viajar com frequência para regiões afastadas de centros urbanos, conta Mendes.

Ao todo, são 14 produtos, que podem ser usados em carros, caminhões, tratores, barcos e até aviões de pequeno porte. Metade dos suportes vai para o Centro- Oeste. O Sul é responsável por 16% do total das vendas.

Para expandir, a startup busca parcerias com outras empresas. A Star2Go não tem acordo direto com a Starlink. 

GPS DA ECONOMIA

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