
Os deslocamentos climáticos da enchente de 2024
Aproximadamente 2 milhões de pessoas foram afetadas pela enchente de 2024 e praticamente metade delas precisou se deslocar de suas casas. É esse contexto que um artigo científico do professor de Relações Internacionais da ESPM-SP, o gaúcho Roberto Uebel, se propõe a estudar: como os eventos climáticos extremos podem gerar migrações internas, ou seja, o deslocamento dos moradores das suas próprias cidades para outras regiões.
A pesquisa traz o termo "refugiado climático", que é toda pessoa que teve de deixar sua residência por fatores do clima.
- O caso do RS foi muito específico por duas razões: primeiro, pelo ineditismo. Nunca havíamos vivido uma enchente com essas proporções. Tivemos a de 1941 e em setembro de 2023, mas que não causaram uma migração em massa e longa. Outra característica é que esse deslocamento não teve um padrão específico com relação a gênero, renda ou grau de instrução - disse.
Conforme o pesquisador, essa segunda análise se destaca pelo alto índice da população afetada:
- Vimos pessoas com elevado nível de renda que tiveram de deixar suas residências (e ir) para o Litoral. E tivemos pessoas com baixo grau de renda que tiveram de ir para abrigos. A enchente não faz distinção.
Recomendações
Na análise de Uebel, a pesquisa aponta que houve falta de planejamento dos órgãos públicos diante da catástrofe.
- Agora, cada vez que chove em Porto Alegre, a cidade alaga de novo. Isso escancara essa falta de planejamento. Mais especificamente, mostramos também que há falta de planejamento inclusive sobre como evacuar a cidade em um evento climático extremo. Não houve uma coordenação, inclusive com os municípios que receberam essas pessoas - enfatizou.
O documento também traz sete recomendações para a formulação de políticas públicas. O professor cita duas:
- Uma definição legal de refugiado climático. É importante que exista, porque isso desburocratiza e facilita o acesso à assistência, por exemplo, àqueles saques do FGTS ou auxílio emergencial. Você não precisa, em um momento de dor e tragédia, comprovar que você é um refugiado climático. Outra é a implementação de planos de contingência e mitigação, ou seja, uma coordenação entre os atores públicos para que se estabeleça e que saibamos como lidar, não apenas com a população que está desabrigada, mas também com aqueles que estão migrando temporária ou definitivamente para outro local. _
Entrevista - Johanna Karanko - Embaixadora da Finlândia no Brasil
"Somos felizes em pagar impostos, pois recebemos algo de retorno"
Pela oitava vez, a Finlândia foi eleita pela ONU o país mais feliz do mundo. Johanna Karanko, que participou do Fórum da Liberdade, conversou com a coluna.
O que leva a esse resultado?
Dizemos que é a infraestrutura de felicidade. Essa felicidade não é de "ser alegre", é ser contente com a sua vida. E tem várias coisas que são importantes. A confiabilidade de que tudo funciona: as escolas, o transporte, a segurança pública... Há várias coisas nas quais você pode confiar que será feito, (pois) será verdadeiramente feito. Também somos felizes em pagar impostos, porque recebemos algo de retorno. Na Finlândia, a educação é de graça, da pré-escola até o doutorado. Inclusive, as medidas escolares, o transporte e todos os materiais de educação.
Qual a chave de ouro?
A educação não tem becos. Se você, por exemplo, aos 15 anos, escolher a educação vocacional, que é aprender um emprego, você pode, deixando para fazer a universidade depois. Temos, por exemplo, um comissário finlandês na União Europeia que não finalizou a formação acadêmica aos 18 anos. Ele optou por um emprego e, depois, voltou à universidade e, agora, tem doutorado. Jovens podem optar pela universidade depois. Por exemplo, um eletricista pode depois continuar (a graduação) em engenharia. Outra (coisa) são os professores. São educados com maestria, têm liberdade, autonomia de como organizar sua classe. Como terceira (coisa), os estudantes. A ideia é criar pessoas equilibradas, não só focar em matemática e alfabetização, que são as bases e importantes, mas em outras áreas, como música e esporte, para que todos tenham alguma coisa onde são bons, porque todos têm talentos, mas não são exatamente iguais. São nossos segredos, mas não se pode copiar, porque cada sistema escolar e países são diferentes. A Finlândia é pequena, e tem pouca população. _
Relação com a guerra
Ainda na entrevista com a embaixadora Johanna Karanko, a coluna tratou da guerra entre Rússia e Ucrânia e questionou se há a preocupação de uma investida do Kremlin no país nórdico:
- No momento, não temos uma ameaça militar, porque os russos estão focados na fronteira da Ucrânia. Mas estamos preparados. Decidimos aumentar os investimentos em defesa e entrar na Otan.
Para ela, o país seguirá com o apoio aos ucranianos.
- O mais importante é uma paz justa e sustentável. E seguir a ordem e as regras internacionais. Estamos apoiando a Ucrânia até o final. Ela precisa de garantias da sua segurança. E a mais confiável seria que ela fosse membro da Otan - disse. _
Casa Branca exibe pintura que retrata atentado a Trump
Desde sexta-feira, o Grande Foyer da Casa Branca conta com uma nova obra de arte. Trata-se de uma pintura que retrata a cena do presidente dos EUA, Donald Trump, com o punho erguido e o rosto com respingos de sangue após sofrer um atentado durante um evento de campanha na Pensilvânia, no ano passado.
Antes, o local - um dos mais representativos da Ala Leste da Casa Branca - exibia um retrato oficial do democrata Barack Obama.
Tradicionalmente, a residência presidencial exibe retratos dos ex-presidentes em posições de destaque, visíveis aos convidados.
A imagem de Obama foi transferida para o local onde estava o retrato de George W. Bush, que, por sua vez, foi reposicionado junto ao de seu pai em uma escada próxima. _
Lugares históricos da ditadura no RS
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) lançou um mapa interativo com 49 locais marcados pela repressão e pela resistência durante a ditadura militar no Brasil. Três deles ficam no RS.
A iniciativa, intitulada "Lugares de Memória da Ditadura Militar", integra a nova seção "Memória e Verdade".
Santana do Livramento
A fronteira com o Uruguai era um importante eixo de trânsito internacional no Cone Sul. Após o golpe de 1964, tornou-se rota de fuga para brasileiros que buscavam refúgio no país vizinho. Com o golpe uruguaio (1973), o fluxo se inverteu. O local também está historicamente ligado à Operação Condor (aliança repressiva entre ditaduras sul-americanas).
Dops/RS (Departamento de Ordem Política e Social do RS)
Criado em 1937, durante o Estado Novo, o Dops/RS, na Capital, atuou na repressão durante a ditadura, em parceria com o DOI-Codi do III Exército (Porto Alegre). O órgão operava onde hoje é o Palácio da Polícia, na esquina das avenidas Ipiranga e João Pessoa. Subordinadas a ele, as Seções de Ordem Política e Social (Sops) em cidades do Interior recebiam ordens para monitoramento de políticos.
Dopinho
Casarão na Capital funcionou como o primeiro centro clandestino de detenção pós-1964. Vinculado a militares e policiais civis, o local praticou violações como tortura e execuções. O histórico prédio, no bairro Floresta, foi fechado em 1967. _
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