terça-feira, 29 de abril de 2025



29 de Abril de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Trump está tentando fazer com o dólar o mesmo que Nixon fez com o ouro?

As comparações entre o atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o que ocupou o cargo entre 1969 e 1974, Richard Nixon, começaram cedo. Uma das primeiras foi sobre a "teoria do louco", a ameaça de usar armas nucleares para atemorizar a antiga União Soviética. Como ninguém entendia o foco de Trump nas tarifas, havia a tese de que seria uma nova versão. Não era.

Na noite de 15 de agosto de 1971, Nixon anunciou em rede nacional o fim do "padrão ouro", sistema que atrelava a cotação do dólar à do metal precioso. Quebrou uma regra essencial estabelecida no acordo de Bretton Woods, que definiu as bases da estabilidade econômica depois da Segunda Guerra Mundial.

Há 54 anos, como há poucos dias, as bolsas desabaram. O "choque de Nixon" incluía tarifa geral de 10% sobre as importações e controles temporários de preços e salários para segurar a inflação.

A mais recente tese sobre o irracional tarifaço é de que Trump quer fazer com o dólar algo semelhante ao que Nixon fez com o ouro: retirar uma âncora global para "ganhar" com a desvalorização da própria moeda. Em tese, dólar mais fraco favoreceria a compra de produtos americanos por outros países, o que reduziria o grande déficit dos EUA no comércio internacional. Na prática, é o que vem ocorrendo: a moeda americana perde valor ante euro, iene e franco suíço, outras denominações de referência.

Efeitos colaterais

No entanto, os efeitos colaterais do tarifaço vão muito além: empresas americanas estão cortando viagens, atrasando projetos e desacelerando contratações porque não conseguem ver o que vem pela frente. Nixon teve de renunciar depois de acabar com o padrão-ouro. O motivo formal foi seu envolvimento no escândalo de Watergate, um arrombamento para roubo de informações conduzido por ordem da Casa Branca em uma sede do Partido Democrata. O mal-estar na economia, porém, pesou para que houvesse expectativa de um impeachment para derrubar o então presidente.

O índice S&P 500, o mais abrangente da bolsa de Nova York, acumula queda ao redor de 8% desde a posse de Trump, que completa cem dias no governo amanhã. Caminha para o pior desempenho neste período desde Gerald Ford, em 1974. Depois da renúncia de Nixon. _

Dólar fecha abaixo de R$ 5,65 com Galípolo sinalizando alta no juro

Em sua sétima queda consecutiva, o dólar teve baixa de 0,68% ontem, para R$ 5,648. Com a guerra comercial, determinante para câmbio, em banho-maria, o cenário doméstico dominou.

O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, relativizou expectativas sobre uma decisão mais suave sobre o juro na próxima semana.

- A economia ainda demanda nossa vigilância no que é o nosso mandato principal, a preocupação corrente com uma inflação acima da meta, e a economia anda demonstrando sinais ainda incipientes de arrefecimento - disse Galípolo.

As novas observações corrigiram apostas de que o ciclo de alta teria terminado, surgidas a partir de declarações de um diretor do BC. Na semana passada, Diogo Guillen mencionou mais "flexibilidade" e "cautela" nas decisões, o que foi interpretado como menos apetite por alta. Nos últimos dias, tem se visto erosão no conceito de "porto seguro" dos títulos do Tesouro americano. Isso se traduz no potencial de atrair capital externo mesmo sem novas altas. _

Por que as regras do conclave são tão rígidas

Com a definição da data de início do conclave para 7 de maio, o mundo vai acompanhar, pela quinta vez em menos de 50 anos, as rígidas regras para a escolha de um novo Sumo Pontífice. Nas últimas cinco décadas, houve uma morte depois de apenas 33 dias, a de João Paulo I, e uma raríssima renúncia, a de Bento XVI. Isso tirou peso da expressão "uma vez a cada morte de papa".

O significado do nome "conclave" é bem conhecido. Mas há menos informação sobre o motivo de manter os participantes "com chave", da expressão em latim cum clave. A origem da necessidade é do século 13, quando a escolha do papa Gregório X levou 31 meses. Isso que havia 16 cardeais para representar as diferentes correntes da Igreja Católica.

Escolhido só depois da interferência do soberano do Sacro Império Romano, Rodolfo I de Habsburgo, o papa então editou o decretum de electione papae (decreto de eleições papais). A reforma determinou que a escolha passasse a ser feita sempre "com chave", em área isolada e sob controle para evitar influências externas.

O local das reuniões, um palácio papal em Viterbo - cidade da região de Lazio, a mesma de Roma -, teve o teto removido para expor os participantes à intempérie e criar o senso de urgência necessário.

Oito séculos depois, não passa pela cabeça de ninguém remover o teto da Capela Sistina, fundo de uma das obras mais conhecidas de Michelangelo, A Criação de Adão. E embora concluam a escolha sob chave, os cardeais já começaram o processo ontem, com regras menos rígidas. Em 2013, isso foi decisivo para a escolha de Jorge Bergoglio. _

Europa precisa lançar luz a consumidores e setor elétrico

O gigantesco apagão que afetou Portugal, Espanha, Andorra e partes de França, Bélgica e Alemanha começou a ser normalizado na Grande Lisboa, mas ontem à tarde ainda não havia certeza sobre a causa. Pelo alcance incomum, foi acionado o Instituto Nacional de Segurança Cibernética (Incibe) da Espanha para investigar a possibilidade de um ataque cibernético.

No início da noite, alguns pontos da Grande Lisboa começaram a ter abastecimento retomado, mas seguia não havendo prazo para a normalização total do fornecimento.

A hipótese de cibertaque a sistemas elétricos é um temor real há anos, embora até hoje não tenha ocorrido confirmação desse tipo de episódio, ao menos não da dimensão de ontem. Falhas tecnológicas, como a ocorrida em julho do ano passado com um sistema operacional da Microsoft, também não estão descartadas.

Um ciberataque é o pior pesadelo do sistema elétrico, porque evidencia as fragilidades das redes. Caso tenha ocorrido, há dúvidas, inclusive, se seria admitido por autoridades do setor.

Conforme a empresa que administra o abastecimento em Portugal, a origem seria um fenômeno atmosférico raro, chamado "vibração atmosférica induzida". Na Espanha, o Centro Nacional de Inteligência segue considerando ciberataque como possível causa.

Agora, o mais importante é normalizar o suprimento, até porque europeus não estão "habituados", como os gaúchos, a longos períodos sem energia. Mas depois de tirar os clientes da escuridão, o setor elétrico europeu tem obrigação de dar luz às causas para construir mecanismos eficazes de prevenção. _

GPS DA ECONOMIA

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