sábado, 22 de dezembro de 2012



23 de dezembro de 2012 | N° 17292
ARTIGOS - FLÁVIO TAVARES* MARCELO PIRES*

Nossa era já era!

Ocalendário maia previu e o fim do mundo está aí, à nossa frente! Com a exatidão de quem sabia do cosmos, dos astros e da vida mais do que os supercomputadores atuais, os maias previram o fim de uma era nestes dias de dezembro. Não previram “fim de mundo” como apocalipse e destruição (algo que o fetichismo sensacionalista inventou agora), mas, sim, o término de um ciclo cósmico – uma era termina e surge outra para que a vida continue.

Não é isto que vemos hoje? Na era do antibiótico, da bomba nuclear, da aids, dos transplantes, tudo está em mudança. Do clima ao comportamento, da organização familiar aos alimentos. Do trabalho à diversão. No consumismo, a vida mudou. Antes, alguma criança deixaria de correr e brincar para apertar botõezinhos no videogame? Quem pensaria em casamento de homem com homem e de mulher com mulher? Ou que a engenharia genética nos leve a escolher a cor dos olhos do futuro filho? Ou que conheçamos o mundo em casa, pela TV, que o carro substitua o andar ou a tecla do computador substitua a letra?

Os maias dividiam o tempo em eras de 5.125 anos, ou 13 “baktunes”, uns 440 anos em nossa visão atual. Antropólogos mexicanos traduziram a data de “4 Ajaw 3 Kank in” como 21 de dezembro de 2012. A previsão está numa escultura do ano 695 a.C., com o qual a data exata poderia ter sido corrigida por novas medições astronômicas, perdidas no tempo ou nunca realizadas.

Não erraram, porém, e o fim do mundo está aqui, no Brasil. A euforia pelo julgamento do “mensalão” começa a ser suplantada por uma organizada campanha para desacreditar as novas revelações em que Marcos Valério (que movimentou as cifras milionárias da fuzarca) aponta o ex-presidente Lula da Silva como um dos beneficiários das falcatruas. O Supremo Tribunal comprovou que tudo ocorreu na alta cúpula e envolveu três bancos (um deles, o do Brasil), mas Lula não apareceu nos depoimentos do processo.

Seria tão alheio a tudo, que foi “enganado”, como afirmou em 2005? Ou, como é regra, os cúmplices flagrados no crime protegem sempre os chefes, por lealdade? Ou por temor, quando o chefe é poderoso?

O cúmplice cede, porém, quando a dor aperta. Condenado a 40 anos de prisão, Valério contou (em depoimento posterior à Procuradoria-Geral da República) que repassou dinheiro para o próprio Lula da Silva, através da empresa de Freud Godoy, guarda pessoal do ex-presidente.

O fim de mundo é isto. Ou, ainda, oito governadores terem visitado Lula para protestar contra “as injúrias à sua honra”. Se nada o implica em nada, por que não aproveitar o eventual processo judicial para desmascarar o calunioso Valério?

Na desgraça, a delação costuma acompanhar os cúmplices. Dias atrás, Paulo Vieira, que na direção da Agência Nacional de Águas chefiou a máfia que licenciava a construção de hidrelétricas, acusou a atual ministra do Meio Ambiente de pressioná-lo a favor de obras indevidas...

Os maias nada têm a ver com este fim do mundo. Nem com a ideia de outro Maia, o Marco, presidente da Câmara Federal, que se rebelou contra a cassação dos mandatos dos três deputados condenados na corrupção do mensalão. Quer nosso Maia que eles passem as tardes no parlamento e durmam na cadeia? Ou que sejam deputados à distância, pela internet da prisão?

Fim de mundo, mesmo, é a destreza com que Rosemary Noronha usou sua intimidade com Lula da Silva para integrar a “máfia das águas” e tudo fazer e desfazer em nome da Presidência da República. Nas 32 viagens oficiais que com ele fez pelo mundo, exibia passaporte diplomático e podia vir de mala cheia sem prestar contas à Alfândega.

Por isto, digo: nossa era já era!

*Jornalista e escritor