SAMUEL
PESSOA
Olhando para trás e para a
frente
Todo
o nó de 2013 para a economia é a retomada do investimento; o que ocorrerá se
ele não voltar?
Esta
é a última coluna do ano. Bom momento para olhar para o que passou e tentar
divisar 2013.
A
marca de 2012 será o baixíssimo crescimento de 1%, número muito abaixo do que
todos os analistas, inclusive eu, prevíamos. Os prognósticos mais pessimistas
previam crescimento de 2,5%. O Ibre previu 3%.
Não
era difícil encontrar números próximos ou superiores a 4%. Assim, a frustração
de crescimento foi generalizada e não se restringiu somente aos órgãos
oficiais. A economia surpreendeu a todos.
O
baixo crescimento resultou da retração do investimento ao longo dos quatro
trimestres de 2012. Essa redução não esperada da demanda agregada explica a
maior parte da surpresa negativa. No entanto a inflação terminará acima de
5,5%.
Como
conciliar economia em baixa, fruto de choque negativo de demanda, com inflação
alta? Apesar de elevada, houve queda da inflação, já que ela fechou 2011 em
6,5%.
A
queda da inflação somente não foi maior por estarmos em um regime de câmbio
fixo. Até o primeiro semestre de 2010, quando o câmbio ainda flutuava, sempre
que havia elevação dos preços das commodities, o câmbio valorizava-se de forma
a manter o preço em reais dessas mesmas matérias-primas relativamente
constante.
Com
a alteração do padrão cambial, a economia brasileira ficou mais exposta a
choques de preço. A forte elevação das cotações dos bens agrícolas neste ano, consequência
de safras ruins nos Estados Unidos e na Argentina, foi repassada aos preços
internos. Se não fosse pela alta das commodities agrícolas produzida pelo
regime de câmbio fixo, a inflação em 2012 teria sido quase um ponto percentual
mais baixa.
No
entanto, em que pese a frustração de demanda com queda de inflação, o
crescimento liderado pelo setor de serviços tem contribuído para manter o
mercado de trabalho aquecido e, com ele, a inflação de serviços na casa de 8,5%
ao ano.
E
aí, talvez, tenhamos por ocasião da divulgação pelo IBGE da revisão das contas
nacionais referente a 2012 (que ocorrerá em alguns anos) alguma surpresa.
Provavelmente o crescimento de 2012 será mais próximo de 2% ou 2,5% do que de
1%. O crescimento será mais coerente com os números do mercado de trabalho. No
entanto teremos que esperar alguns anos por essa revisão. Por enquanto
ficaremos com o crescimento de 1%.
Para
2013, espero crescimento de 3%, com inflação entre 5,5% e 6%. O cenário de
crescimento na casa de 3% prevê recuperação do investimento, que deverá crescer
6% em termos reais. A expansão de 6% em 2013 do investimento em relação ao
valor médio de 2012 representa uma variação de janeiro a dezembro de 2013 de
quase 10%. Dado que o investimento andou para trás ao longo de 2012, ele
terminou em nível mais baixo do que iniciou.
O
ponto a reter é que o crescimento projetado de 3% requer forte avanço do
investimento.
Por
ora, os sinais que temos é que essa retomada ficou para o primeiro trimestre de
2013. Se o investimento não for retomado, o cenário terá que ser revisto.
Finalmente,
se o regime de câmbio fixo continuar a funcionar em 2013, haverá uma força
desinflacionária externa se as safras de grãos forem boas e compensarem o
choque negativo de 2012. No entanto é possível que a Fazenda considere esse
possível choque positivo como ocasião para mais um passo em direção a um câmbio
mais competitivo para a indústria.
O
cenário Ibre para 2013 sustenta-se em uma perspectiva internacional ruim
-crescimento de 1,5% dos EUA e próximo de zero na Europa-, mas sem um evento de
crédito na Europa.
Se
houver algum evento com crise aguda de crédito na Europa, reviveremos algo
próximo do que houve em 2008. No entanto, dado que a situação da economia
mundial e da brasileira é muito menos brilhante agora do que no terceiro
trimestre de 2008, o tombo será bem menor.
Do
ponto de vista da popularidade da presidente, o cenário de crescimento de 3%
com retomada do investimento manterá o desemprego em baixa, com algum espaço
para crescimento da renda. A popularidade deve terminar 2013 em nível próximo
ao atual.
Todo
o nó de 2013 é a retomada do investimento. O que ocorrerá se ele não voltar?
SAMUEL
PESSÔA é doutor em economia e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de
Economia da FGV. Escreve aos domingos nesta coluna.