sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Menos querer

Quer-se demais, quer-se tudo, até parece que nada temos, que estamos entrando em um novo ano sem bagagem

Chegou o último dia do ano e estão todos com a listinha de desejos engatilhada. Planos é o que mais se tem. É muito saudável esta esperança, mesmo sabendo que chegaremos ao final de 2013 exatamente como chegamos a este final de 2012: contabilizando perdas e ganhos.

Alguma coisa teremos realizado, outras ficarão só na vontade, e a frase que diremos pra nós mesmos será: fiz o que pude. Uma declaração de inocência diante da nossa relativa incapacidade.

Pois então faça aquilo que puder, faça o que estiver ao seu alcance para realizar seus projetos, mas bom mesmo seria poder chegar neste dia 31 de dezembro e pensar: não quero nada.

De tanto querer, tem muita gente que passa por cima da ética, por cima dos amigos, dá espaço para o stress e para as frustrações. Quer-se demais, quer-se tudo, até parece que nada temos, que estamos entrando em um novo ano sem bagagem.

Como assim? E o que já se conquistou até aqui, e o que já ganhamos, senão em espécie, ao menos em experiência? Pois a experiência ensina: queira comedidamente, queira sem histeria, ou melhor ainda, não queira.

Imagine (dando seqüência à letra de John Lennon) uma sociedade em que as pessoas não estejam tão ansiosas para ter o que não têm. Uma sociedade que consuma menos. Uma sociedade mais satisfeita com o básico.

Claro que devemos querer mais segurança, mais educação, mais moralidade para o país, mas, no que diz respeito a nossas necessidades pessoais, que tal resistir aos apelos externos e inaugurar um novo ano mais zen? Só o fato de estar vivo, longe de uma cama de hospital, já é um feito a se comemorar à meia-noite.

Mais dinheiro, mais roupas, mais sexo, mais festas, mais trabalho, mais, mais, mais. Nossas metas estão sempre relacionadas com estas quatro letras.

M + A + I + S. Não é pecado desejar, inclusive é recomendável, desejar exercita a alma, nos mantém em movimento, nos enriquece espiritualmente, mas sem cair na vulgaridade do acúmulo, sem a tentação de ficar se exibindo, sem afetação e neurose.

Também é evolução poder se olhar no espelho e concluir com sinceridade: não preciso de nada. Que venha o que vier, porque do jeito que estou, já estou bem.

É o que desejo pra você. Não é pouco, acredite. Desejo que você não precise querer mais, que não caia na cilada de inventar metas desnecessárias, que não se exija além da conta.

Querer menos, eis aí um plano original para 2013. E, estando livre do compromisso de ter que realizar o irrealizável, simplesmente relaxar e aproveitar a vida do jeito que ela é. Um feliz Ano-Novo. E, além de novo, tranqüilo.

martha.medeiros@zerohora.com.br