26
de dezembro de 2012 | N° 17294
PAULO
SANT’ANA
Hospedaria sem vagas
Durante
o Natal, pus-me a pensar no nascimento de Jesus.
O único
registro hoteleiro constante na Bíblia é o de que José e Maria foram recusados
na hospedaria da cidade de Belém por estarem lotados os aposentos.
Então,
como era urgente o parto, José levou Maria para um estábulo, onde veio à luz o
Rei dos Reis, certamente nascido num monte de feno e, segundo a Bíblia, foi
enrolado em faixas e posto numa manjedoura.
Esta
hospedaria lotada com certeza entrou na história para que Jesus tivesse um
nascimento pobre, o mais pobre dos nascimentos porque sobreveio em meio aos
animais. É intrigante que Deus viesse encarnado à Terra e não nascesse entre os
homens, mas entre os animais.
O
que me deixa encucado é que entre as centenas de famílias que residiam em Belém,
se uma só delas tivesse sabido que estava na cidade um casal de moradores de
rua, sem nenhuma hospedagem, que estava trazendo para o mundo o seu salvador,
logo abriria sua casa para o hóspede divino.
Mas
tinha que ser assim. Jesus, na sua obsessiva vocação para amparar os mais
pobres, precisava ter nascido como um sem-teto, para que através dos milênios
se transmitisse a mensagem de que ninguém foi mais pobre do que Jesus, seu berço
era uma manjedoura onde comiam os animais mamíferos.
Há algumas
versões, salientadas pelo narrador da Missa do Galo, anteontem, de que Jesus
nasceu em Nazaré e não em Belém.
O
que é certo é que Jesus viveu depois a infância e a adolescência em Nazaré,
tanto que é chamado de Nazareno. Mas será que assim não é chamado por ter
nascido em Nazaré?
Não
se sabe muito – ou nada – na Bíblia sobre a infância de Jesus.
Volto
à hospedaria lotada e ao refúgio apressado no presépio. Tinha que estar lotada
pelo destino a hospedaria. Se não estivesse lotada, sobraria a imagem de que
Jesus teria nascido em um hotel de cinco estrelas, isto é, já em meio ao fausto
e à riqueza.
Assim
foi muito melhor, Jesus nasceu em um paupérrimo hotel de uma estrela, a Estrela
de Belém.
Estava
tudo escrito, que José transportaria Maria, grávida, num jumento, sob o sol
escaldante do deserto.
Estava
escrito que aquele menino e depois jovem de cabelos loiros entraria em Jerusalém
no Domingo de Ramos, sob aclamação das calçadas e das janelas, pregaria na
cidade e nos campos o amor, o perdão, a pobreza e a salvação das almas.
Estava
escrito que ele seria traído por Judas, julgado sob Pilatos, crucificado com
dores lancinantes, morto e sepultado, tendo ressurgido e escrito o capítulo
mais estupendo da história, o de um homem que indicou a toda a humanidade o
caminho do bem no rumo da salvação.
Tudo
estava escrito. Só não compreende quem não leu.