31/12/2012
e 01/01/2013 | N° 17299
PAULO
SANT’ANA
Monsenhor
Ermillo
Dizem
que 2012 foi o ano do compartilhamento. Foram compartilhados amigos, notícias,
fofocas, fotografias, namoradas, sogras, tudo pela internet. O mundo ficou mais
rápido, mais próximo e também mais pueril, banal, superficial em 2012.
Eu
contribuí para isso. Respondi a todas as enquetes que me ofereceram pela
internet. Sobre o penteado mais bonito do Neymar (o moicano castanho-claro), o
melhor técnico para a Seleção (Tite), a melhor pizza (lombo canadense com
abacaxi).
Votei
na mais bela praia (Ibiraquera), no maior centroavante do Grêmio de todos os
tempos (Alcindo), na separação do ano (Zezé di Camargo e Luciano. Mas depois os
dois voltaram e votei então na separação de Zezé de Camargo e Zilu). Tudo
bobagem, menos o Alcindo.
Em
2012, quase desaprendi a fazer minha assinatura. Tive cheques questionados, fui
ao banco, desenhei tudo de novo. Fiquei inseguro ao escrever meu nome, como se
estivesse tentando imitar a assinatura de alguém.
Aderi
à parte da onda retrô. Tudo que é moda é retrô. Carro colorido, sapato de bico
fino, terno de listra de giz, gravata amarela. Ainda espero a volta da camisa
de ban-lon.
Vi
uma corrida de Fórmula-1 em 2012, depois de muito tempo. Foi como assistir a
uma carreira de galgos no Azerbaijão. Não sei mais nada de Fórmula-1. O único
piloto que conheço é o Rubinho. Na corrida que vi, ele estava dando na Alemanha
as últimas voltas do Grande Prêmio da Itália, de duas semanas antes. Nada é
mais sem graça do que a Fórmula-1.
As
eleições para prefeito também ficaram estranhas em Porto Alegre em 2012. Como
pode uma eleição ser monopolizada por três candidatos à esquerda? Onde foi
parar a direita de Porto Alegre?
No
ano velho, descobri também, por e-mail, que tenho um fundo de investimento num
banco da Holanda. Mas não me animei a abrir o arquivo que mandaram com o saldo.
Posso ter perdido dinheiro. E se foi uma herança?
Uns
vão dizer que o ano passou rápido. Outros, que foi lento. Uns, que mudaram;
outros, que não aproveitaram o ano para mudar. É sempre assim. Eu me dei conta
de que 2012 foi o ano em que voltei a rezar.
Conto
como foi. Há duas semanas, reencontrei monsenhor João Ermillo nos corredores do
Hospital Santa Rita. Trocamos informações sobre a saúde e concluímos que
estamos bem. Aquele capelão de 85 anos, que estava indo à bica pegar água, é um
homem bom.
Relembramos
que por 40 dias, em duas internações, fui convidado por ele a rezar todas as
manhãs. O capelão foi generoso, paciencioso e obsequioso ao perceber que orava
com um paciente com o olhar opaco dos desesperados, mas com uma fé precária,
pela metade.
Foi
bom tê-lo por perto. Não porque eu acredite em tudo que ele acredita como religioso,
até porque isso não importa. Importa que a reza me devolveu a uma área de
proteção da minha vida, guarnecida pela memória das mulheres rezadeiras da
minha infância, que me trouxeram até aqui.
Foi
o que me confortou e o que me bastou. Boas rezas em 2013, monsenhor Ermillo.