30
de dezembro de 2012 | N° 17298
QUASE
PERFEITO | Fabrício Carpinejar
“Estava
namorando um cara havia quatro meses. Ele tinha no perfil dele 150 amigos,
sendo que mais de 100 eram mulheres. De repente ele adicionou uma que comecei a
perceber que não parava de segui-lo em todas as postagens. Tudo ela curtia,
comentava e mandava beijos.
Ele
me disse que não a conhecia pessoalmente, tampouco falava com ela. Até que a
adicionei, ela aceitou, conversamos por mensagem, e ela me contou que conversam
sempre, mas não têm vínculo. Fiquei braba, pedi para ele excluí-la e ele não
aceitou. Terminamos. Estou louca? Uma mulher dá em cima do meu namorado e ele
não faz nada. Estou desnorteada. Um abraço, Rafaela.”
Talibã do
amor
Querida Rafaela!
As
rupturas acontecem por picuinhas. Por brigas tolas. Jamais por assuntos sérios
e de interesse maior.
É um
ciuminho que se transforma em intolerância, é uma descortesia ingênua de tarde
que migra para a difamação ao final da noite.
Com
os desentendimentos menores, não imaginamos que vamos nos separar e desprezamos
as reservas. Atacamos com ênfase, despreocupados, e passamos dos limites.
Com
as discussões sérias, antevemos a gravidade do encontro e cuidamos de uma por
uma das palavras. Temos mais paciência e flexibilidade.
Julgo
mais fácil se separar por não lavar a louça do que por infidelidade.
Vejo
que você chamou atenção para a importância da amiga dele – de flerte alçado à
ameaça. Curiosamente toda mulher ou homem escolhe a sucessora ou o sucessor
pelo ciúme. O ciúme faz a transferência da coroa e do cetro. Aponta quem é
perigoso e com condições de ocupar o papel principal nos próximos capítulos da
novela.
A
amiga poderia se deleitar em ações platônicas: curtir, postar, comentar a
página de seu namorado, desde que ficasse isolada na admiração. Seriam
iniciativas inofensivas. O problema é que (VOCÊ) não conteve a irritação e
exagerou na dose. Quis mostrar quem mandava e contra-atacou. Nem pelo medo de
perdê-lo, e sim para testar sua influência. O amor sempre fracassa quando vira
disputa de poder. O amor é despoder, confiar e não cobrar provas. Pena que realizou
o contrário, solicitando demonstrações visíveis de dependência e respostas
imediatas.
Travou
uma guerra extremista desnecessária: ou ela ou eu. Supervalorizou a figura
dela, a ponto de colocá-la no mesmo patamar de intimidade. Pôs uma completa
desconhecida como rival ao adicioná-la, trocar mensagens e xeretear possíveis
laços.
Não
está louca, tampouco está certa. A mulher deu em cima, porém excluir ou
rejeitar um contato superficial é promovê-lo.
Também
tomaria cuidado com as restrições que se assemelham falsamente a prevenções.
Prevenir não é limitar, prevenir é conversar e aceitar a escolha do outro. Não
devemos mandar ou ordenar em nome do amor.
Sua
estratégia não foi inteligente. Se ele não cumprisse o que desejava, já não
servia. Não tinha saída negociável, não gerou conscientização gradual e
consistente, tratava-se de um ultimato.
No
namoro, as proibições são insaciáveis e nada recomendáveis. É excluir nomes no
Facebook, depois excluir nomes no celular, depois excluir nomes da lista de
festa, depois excluir nomes entre os amigos, até que não exista mais ninguém
para pedir colo e nos consolar pelo fim do namoro.