domingo, 23 de dezembro de 2012


HÉLIO SCHWARTSMAN

Fragilidades

SÃO PAULO - Nassim Taleb ataca de novo. Saiu no mercado de língua inglesa "Antifragile - Things that Gain from Disorder" (Antifrágil - coisas que são favorecidas pela desordem). É um livro estranho, mas que vale a pena ser lido: profundo, polêmico, engraçado, erudito e salpicado por um festival de idiossincrasias -um perfeito retrato do autor.

Em termos de conteúdo, "Antifrágil" é a continuação lógica das obras anteriores de Taleb. Desenvolve a ideia de que flertamos com o perigo, ao basear nossas decisões em ciências que se fundamentam em modelagens estatísticas de riscos. Estas, insiste o autor, tomam por base o que deu errado no passado, mas são absolutamente cegas para eventos inesperados inéditos (os cisnes negros, no linguajar de Taleb).

E, se esperarmos tempo o bastante, cisnes negros aparecem. Foi um deles, a crise econômica de 2008, que fez a fama e a fortuna de Taleb. Ele, que atuava em Wall Street com derivativos, não só denunciou a fragilidade do sistema no livro "A Lógica do Cisne Negro", de 2007, mas também se posicionou para enfrentar o desastre, faturando alto tanto no mercado financeiro como no editorial.

Para o autor, o segredo para sobreviver num mundo cada vez mais complexo e sujeito a cisnes negros é apostar na antifragilidade, isto é, em posicionamentos que não só nos protejam das surpresas negativas mas também nos exponham às positivas. Um exemplo à la Taleb: guarde 90% de seu dinheiro debaixo do colchão e invista 10% nas ações de maior risco que puder encontrar; neste caso, o inesperado trabalhará a seu favor.

Essas ideias, que merecem séria consideração, talvez ocupem a metade das 544 páginas do livro. No restante, Taleb divaga pela medicina, filosofia, destila preconceitos e ataca personalidades que elegeu como inimigas, sem jamais deixar de elogiar a si mesmo. Munido de algum espírito esportivo, "Antifrágil" é uma obra à qual vale a pena expor-se.

helio@uol.com.br