LULI RADFAHRER
Cumpra
as promessas de Ano-Novo
Apps para smartphone podem dar uma força para quem realmente
quer mudar de hábitos
Todo fim de ano é a mesma ladainha. Todos prometem comer
melhor, parar de fumar, dormir melhor, fazer mais exercícios, ler mais, ter
maior autocontrole e se estressar menos no ano que se aproxima. As promessas,
no entanto, dificilmente sobrevivem ao cotidiano.
Mudanças de estilo de vida costumam ser lentas e demandar
acompanhamento diário. Acabadas as férias é difícil ter disposição, tempo ou
paciência para fazer registros diários ou contar calorias, e as boas intenções
acabam esquecidas.
Mas novas tecnologias prometem facilitar a vida de quem
pretende mudá-la. Equipamentos que até há pouco tempo estavam restritos a UTIs
hoje são portáteis e baratos.
Associados a bases de dados e algoritmos complexos, sensores
embutidos em smartphones, pulseiras, relógios ou fitas elásticas presas ao
corpo permitem o registro e o compartilhamento de atividades cotidianas que até
há pouco eram ignoradas.
Aplicativos dignos de ficção científica calculam a frequência
cardíaca de repouso a partir de uma foto de celular. Bombinhas de asma usam GPS
para evitar áreas de risco. Cápsulas com sensores medem a digestão. Protótipos
tentam adivinhar as emoções de seus usuários baseados em suas variações de
movimento e padrões de digitação.
A automensuração não é uma prática nova. Atletas, pessoas
com alergias e portadores de doenças crônicas monitoram seus hábitos há
décadas. A diferença dessas novas tecnologias está na facilidade da coleta e na
abrangência da análise.
Hoje, com um smartphone e aplicativos baratos, qualquer um
pode medir qualidade do sono, atividade física, peso e gordura corporal,
calorias das refeições, passos caminhados, andares subidos a pé, consumo de
álcool, pressão, oxigenação e níveis de açúcar do sangue.
Mesmo que ainda sejam imprecisos, esses aparelhos têm a
vantagem de estar sempre disponíveis. Ao facilitar a medição, registrar o
progresso e estimular seu compartilhamento via redes sociais, eles transformam
a vontade de mudar em um jogo, um compromisso público com o apoio dos amigos.
Em novas redes sociais, como PatientsLikeMe e CureTogether,
seus usuários deixam de lado a privacidade para buscar possíveis respostas que
melhorem sua situação ou tragam algum conforto. Se por um lado elas estimulam o
autoconhecimento e a mudança, é inegável que também podem levar à automedicação
ou a soluções caseiras inócuas ou perigosas.
Mesmo que seja um placebo distante da verdadeira revolução
médica, a mensuração ajuda a potencializar as descobertas científicas na prevenção
de doenças, enquanto a engenharia genética e a nanotecnologia não ganham as
prateleiras das farmácias. É só imaginar a riqueza de dados que pode surgir
quando usuários de redes sociais passarem a compartilhar a qualidade do sono ou
o progresso da dieta.
A área é nova e deve ser examinada com cuidado. Por mais que
os benefícios coletivos valham a pena, a exposição individual extrema dos
históricos médicos ou terapêuticos pode restringir acessos e causar diversos
constrangimentos a seus usuários. Novíssima fronteira da privacidade, os dados
médicos só deverão ser comercializados quando os benefícios superarem os
custos.
folha@luli.com.br