04 DE DEZEMBRO DE 2017
DAVID COIMBRA
Aconteceu!
Uma das minhas páginas preferidas no Facebook é "Filmes e séries que marcaram época". Tem seriados, desenhos e filmes antigos. As maravilhosas animações da dupla Hanna e Barbera: Os Flintstones (Yabadabadoo!), Dom Pixote (ó, querida, ó, querida, ó, queriiiiida Clementina), Os Herculoides (com Gleep e Gloop, criaturas capazes de assumir múltiplas formas!) e tantos outros.
Quando guri, fiquei surpreso ao descobrir que Hanna Barbera não era uma mulher, e sim dois homens, William Hanna e Joseph Barbera. Já morreram, ambos. Li uma matéria de jornal sobre William Hanna que terminava assim: "Morreu aos 90 anos, dormindo". Achei bonito. Imaginei que o último sonho de William Hanna deu-se em meio a suas centenas de personagens tão cheios de cores e de alegrias.
Nessa página ainda há Jeannie é um Gênio, A Feiticeira, Túnel do Tempo, Perdidos no Espaço, me sinto esparramado no sofá da sala da minha mãe, molhando bolacha Maria no Nescau e rindo em frente à TV.
Entre os seriados que às vezes assisto, está um que, se bem me lembro, só passava tarde da noite na TV. É o Além da Imaginação, que contava histórias curtas de terror. A fórmula era interessantíssima, contos de, no máximo, 20 minutos em que a tensão se mantinha sempre alta, até o desfecho surpreendente.
A versão radiofônica desse programa também era muito boa. O Timeline bem que podia ter uma seção parecida (vou propor para o Potter e a Kelly). Chamava-se Aconteceu. Duas ou três vozes encenavam uma espécie de radionovela baseada em algum tema sobrenatural. No final, a música-tema aumentava de volume, enquanto o locutor repetia:
- Você pode não acreditar, mas realmente... A-CON-TE-CEU!
Acontecimentos sobrenaturais são possíveis? Existem mesmo? Belchior dizia saber que nada é divino, nada é maravilhoso, nada é sagrado, nada é misterioso, mas tenho cá minhas dúvidas. Outro dia, a Kelly contou, no Timeline, uma ocorrência extraordinária. Não foi nada aterrorizante, como seria em Aconteceu ou Além da Imaginação. Foi engraçado. É que, há alguns anos, duas torcidas rivais do Grêmio entraram em conflito e, no tumulto, quebraram uma santa que havia no velho Estádio Olímpico.
O tempo foi passando, a santa continuou quebrada e o Grêmio não ganhava mais título nenhum. Aí, Fernandão, o histórico segurança do clube, chegou à conclusão de que o problema não era falta de centroavante: era o ressentimento da santa. Procurou os torcedores que a machucaram a fim de convencê-los a fazer um desagravo a ela. Mas eram duas torcidas inimigas, que acabavam não se acertando de fazer algo positivo em conjunto, e o Grêmio seguia sem ganhar.
Fernandão insistiu, falou com eles e, por fim, convenceu-os. Os torcedores, então, consertaram a santa e foram à capela para pedir perdão coletivo. Essa espécie de cerimônia foi realizada às vésperas da Copa do Brasil do ano passado. Depois disso, o Grêmio ganhou a taça. E agora conquistou a América. Segundo a Kelly, a direção do Grêmio está pensando em construir uma catedral para a santa na Arena, o que considero bastante sensato.
Sei bem que, neste momento, há muito gremista incréu dizendo que isso é bobagem. Mas duvido que ele vá lá fazer mal à santa. Nada é maravilhoso? Nada é misterioso? Talvez. Mas é melhor não arriscar.
DAVID COIMBRA