sexta-feira, 4 de abril de 2025


Família permissiva e sistema de ensino falido. Deu o maior bafafá quando eu escrevi "que os pais fiquem atentos, mas tranquilos" sobre a série britânica Adolescência.

Foi só surgir um atentado como o da escola municipal João de Zorzi, de Caxias do Sul - em que três alunos golpearam professora de inglês com faca dentro da sala de aula, na terça-feira -, que parte dos leitores veio para cima de mim: não era para ficar tranquilo?

Sim, o que os lares precisam é justamente de tranquilidade para estabelecer ordem, saber dizer não, impor limites. O desespero é irmão da ansiedade. A permissividade não educa. Em primeiro lugar, a série mostra um caso patológico. O protagonista não representa o adolescente médio. É fora da curva da violência.

Temos que parar de demonizar essa fase, como se todo adolescente fosse um criminoso em potencial. Não é porque seu filho está trancado no quarto ou preso no celular que está tramando conspirações e ataques. Talvez tenhamos que começar a considerar doenças mentais ou transtornos em tenra idade.

Se não acreditarmos no trabalho excelso da psiquiatria, da psicologia e da psicanálise nas observações clínicas, de nada adiantará qualquer esforço contra a truculência juvenil. Existem as exceções adoecidas. Não significa que todos os jovens estão doentes, ou que todos são extremistas, a um passo da explosão, como o alarmismo apregoa.

Na Inglaterra, cenário de Adolescência, há famosos exemplos de crimes bárbaros cometidos por jovens com menos de 16 anos. Lembro-me de Jon Venables e Robert Thompson, dupla de Liverpool, ambos com 10 anos, autores do homicídio brutal de James Bulger, de apenas dois anos.

Ainda que não seja admitido o diagnóstico de psicopatia para crianças e adolescentes, já que não possuem personalidade estável e se encontram em formação, é possível antever "desvio de conduta" e "traços de insensibilidade emocional", que servem de indicadores precoces de psicopatia na vida adulta.

É o que acontece com o personagem da série, Jamie Miller. É o que se verifica em grande parcela das chacinas e matanças em nossas escolas. Corresponde a aproximadamente 1% da população mundial.

O fundamental é que tanto a família quanto a escola sejam rigorosas na prática da obediência, para detectar sinais de alerta como falta de empatia e de remorso, comportamento agressivo recorrente, frieza emocional, insensibilidade ao sofrimento alheio, mentiras persistentes, manipulação e impulsividade.

Só assim evitaremos tragédias. A partir de ambientes que ensinem bons modos, as aberrações serão mais visíveis e poderão receber tratamento em tempo hábil. Mas, se a casa e a escola continuarem sendo terra de ninguém - com palavrões, gritos e desdém à autoridade moral -, não conseguiremos identificar os traços psicopáticos iniciais.

Configura-se um terreno fértil para as manifestações de agressividade passarem despercebidas. Na generalização hostil, como localizar o foco? Sem disciplina, não desfrutamos de condições para combater o triângulo do mal: uso ostensivo de telas, bullying e famílias disfuncionais.

O modelo do nosso ensino está falido, mais preocupado em obter índices do que instruir e corrigir atitudes. O comportamento deveria ser mais importante do que a avaliação de conhecimento, deveria pesar na nota.

Da mesma forma, o professor não é o centro da atenção, desde a desvalorização salarial até a ausência de proteção e de credibilidade. É a ponta mais vulnerável da hierarquia do aprendizado.

A verdade dolorida é uma só: a família desconfia da escola. É sempre culpa da escola, nunca do aluno, nunca da própria família que mima e estraga, que isenta os rebentos das consequências de suas atitudes e jamais os responsabiliza por seus excessos. _

CARPINEJAR


04 de Abril de 2025
OPINIÃO RBS

PIB forte, mas com ressalvas

Em meados do ano passado, enquanto os gaúchos permaneciam atônitos com a magnitude da destruição e das perdas causadas pela enchente sem precedentes de maio, era inimaginável supor que o Rio Grande do Sul encerraria o ano com um crescimento substancial da economia. Pois foi o que aconteceu, contrariando todas as previsões naquele momento, inclusive as de que a tragédia climática afetaria o desempenho esperado para país. O PIB finalizou 2024 com um avanço robusto de 4,9%, informou ontem o Departamento de Economia e Estatística (DEE) do Estado.

Diante das dificuldades enfrentadas pelo Rio Grande do Sul desde a cheia, trata-se de um resultado que, sem dúvida, deve ser exaltado. Ainda assim, é preciso parcimônia para uma avaliação mais adequada do que ocorreu. É equivocado conjecturar que a alta forte da atividade signifique que todas as perdas econômicas foram recuperadas. O reerguimento do Estado permanece incompleto e ainda vai demorar para ser pleno. A infraestrutura de transporte, por exemplo, está longe de ser considerada totalmente reconstruída.

A apuração do DEE mostra que muito da performance do PIB do Estado veio da agricultura, que se reabilitou após a estiagem severa de 2023. A agropecuária cresceu 35% ante o ano anterior. Quando a enchente chegou, mais de 90% da soja, cultura que gira os maiores montantes de recursos, já estava colhida.

Logo após a cheia, também foram iniciados os esforços de reconstrução, como a da infraestrutura danificada, o que gerou significativa movimentação financeira. Os governos, como estratégia de auxílio à população atingida, fizeram transferências de renda volumosas, permitindo que famílias conseguissem repor bens perdidos. Assim, estimulou-se a demanda por serviços e produtos. Dessa forma, o segmento de serviços, que engloba o comércio - e tem o maior peso no PIB -, cresceu 3,5%. A indústria, por seu turno, recuou 0,4%.

É preciso compreender também os componentes que entram no cálculo do PIB. A perda de uma casa, arrastada pela enchente, não influencia negativamente o indicador. Porém, o que foi comprado e antes produzido para reconstruir, remobiliar e reequipar a residência entra no cálculo e o afeta de forma positiva. Mas a saúde financeira dessa hipotética família, por óbvio, sofreu um abalo forte. Grosso modo, é o que aconteceu no Estado, com a perda de patrimônio, ativos, estradas e pontes.

Incontáveis empresas gaúchas ainda não conseguiram se recuperar do baque. Milhares de famílias permanecem sem moradia definitiva. A recuperação da totalidade das rodovias danificadas não ocorrerá antes de 2026. O Salgado Filho ainda não recobrou o movimento anterior à enchente. A ligação ferroviária com o resto do país segue interrompida. 

A nova estiagem coloca em dúvida o desempenho do PIB gaúcho em 2025 e piora o quadro de endividamento de produtores já afetados por outras secas. A merecida exaltação do crescimento de 4,9% da atividade em 2024 e de outros indicadores positivos, como a recuperação dos empregos perdidos logo após a cheia e a alta da arrecadação do Estado, não pode encobrir a realidade: as feridas econômicas da enchente e de outros eventos climáticos permanecem abertas. 



04 de Abril de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Quem perde com tarifaço de Trump?

O melhor resumo do dia seguinte ao tarifaço de Donald Trump veio na capa da revista britânica The Economist: Ruination Day (jogo de palavras com o Liberation Day, o 2 de abril do presidente dos Estados Unidos). Embora tenha sido um dia negativo para quase todos os mercados, os mais impactados foram... os americanos.

Os principais índices fecharam no vermelho forte: o tradicional Dom Jones caiu 3,98%, o mais abrangente S&P 500 mergulhou 4,84% e a Nasdaq, bolsa de tecnologia, despencou 5,97%. São níveis de perda compatíveis com momentos de crise global.

Gigantes americanas perderam bilhões em valor de mercado. A Apple desabou 9,25%, a Nike derreteu 14,44%. Ambas têm unidades na Ásia, região mais prejudicada pelas "tarifas punitivas" de Trump, assim como muitos motores da economia dos EUA, sejam big techs ou não. A perda de valor de mercado da Apple foi de US$ 311 bilhões.

O dólar perdeu força ante várias moedas, especialmente as mais fortes - euro, iene e franco suíço - mas até de países emergentes. No Brasil, a cotação caiu 1,23%, para R$ 5,628. Durante o dia, chegou a baixar para o patamar de R$ 5,594 por volta do meio-dia.

Os números ilustram o tamanho do erro de Trump. Além do cálculo primário para definir "tarifas punitivas", que deformam o mercado de forma artificial, há um equívoco primário: os grandes superávits de países como China, Vietnã e Camboja - parte dos chamados "15 sujos" - não significam que os EUA estão sendo "pilhados".

Nesses resultados, estão "exportações" de empresas como Nike e Apple, que produzem partes na Ásia para integrá-las em território americano. Ou até exportam a partir do Vietnã, mas transferem lucros para os Estados Unidos. Só a Nike tem 71 unidades no Vietnã. Saem de lá 50% de sua produção de calçados e 28% das roupas e acessórios. Trump está, portanto, taxando... a produção americana.

Para muitos analistas, é ruim que o presidente da maior democracia liberal do mundo tente encerrar um capítulo da história, o do livre-comércio. Mas é pior ainda que o faça de forma amadora, sem atenção para o alcance dos negócios com base em seu próprio país, muito menos com peculiaridades do comércio internacional. _

Razões de um "pibão" em ano de catástrofe

O resultado efetivo do PIB do RS foi ainda maior do que o projetado pelo estudo do FGV Ibre. Conforme o Departamento de Economia e Estatística (DEE), a alta no ano da catástrofe climática foi de 4,9%, enquanto o estimado era de 4,2%.

A surpresa havia começado ainda no resultado do segundo trimestre, que trouxe a "boa notícia" de perda de apenas 0,3% e a coluna já havia alertado para a diferença entre estoque e fluxo. No Estado, as perdas de estoque de capital - ou seja, de estrutura produtiva, tanto pública quanto privada - foram imensas, mas no fluxo houve até aceleração para repor as perdas da enchente de maio. Essa é uma parte relevante da explicação.

Outra foi o fato de a safra de soja ter sido preservada, porque cerca de 90% já estava colhida antes da inundação. E mais uma grande contribuição veio de doações, que ajudaram a movimentar o comércio e dar impulso ao setor de serviços.

É melhor ter PIB forte depois de uma catástrofe do que o oposto. Mas é preciso levar em conta que não só ainda há muito a reconstruir no RS como o Estado precisa atuar sobre as causas de seu crescimento histórico inferior aos dos vizinhos do Sul.

6,42%

foi o mergulho da cotação do petróleo do tipo brent, referência no mercado global, ontem. O preço do barril fechou a US$ 70,14. O número da queda representa a percepção de que o tarifaço de Donald Trump vá provocar desaceleração em todo o planeta, inclusive e de forma mais imediata nos Estados Unidos. O preço do petróleo é muito sensível a flutuações nas projeções de atividade econômica: se vai diminuir, as compras do combustível fóssil também caem.

Problemas com cálculo e geografia  - calçados entre boas e más notícias

A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) observa que haverá impacto positivo e negativo, ao mesmo tempo, do tarifaço de Donald Trump.

O lado bom é que a tarifa de 10% imposta aos calçados brasileiros é menor do que a aplicada a concorrentes asiáticos (produtos de China, Vietnã e Indonésia serão taxados em até 46% ao entrarem nos EUA a partir do dia 9) com possível prazo para negociações. Significa que o Brasil pode exportar mais para os EUA por ganho de competitividade, o que também é importante para o RS, de onde saem cerca de metade das exportações brasileiras de calçados.

O lado ruim é que China, Vietnã e Indonésia não vão deixar de produzir, ainda que percam protagonismo no mercado americano. Na realocação, eles devem buscar fatias em mercados de outros países, possivelmente diminuindo a participação brasileira.

Segundo o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, o próprio mercado brasileiro deve passar a ser opção para os asiáticos. Cerca de 80% dos calçados que entram no Brasil já vêm da região. 

GPS DA ECONOMIA

04 de Abril de 2025
POLÍTICA

Política e poder - Turbulência interna agita bastidores do PL

Faltando um ano para o período de definição das candidaturas, o PL do Rio Grande do Sul vive uma turbulência interna com potencial para dificultar a formação de alianças e a unidade partidária para 2026. Os motivos da altercação são a incerteza sobre a candidatura de Luciano Zucco ao governo do Estado e a ausência de diálogo interno sobre a estratégia eleitoral.

No episódio mais recente, o deputado federal Giovani Cherini desistiu de postular uma candidatura ao Senado, alegando que terá maior liberdade de coordenar a legenda na busca de coligações. Na prática, o movimento serve para serenar ânimos, sobretudo na bancada estadual, de onde parte o maior descontentamento.

Embora se reconheça que Zucco é a figura mais proeminente do partido no RS e tenha amizade consolidada com o ex-presidente Jair Bolsonaro, há reclamações sobre a forma como tem conduzido a preparação eleitoral.

De um lado, há temor de que sua forma incisiva de fazer política afaste potenciais aliados, enfraquecendo a chapa majoritária. De outro, há incerteza sobre se o projeto será levado até o fim, visto que o deputado também considera disputar o Senado.

Essa desconfiança é estimulada pelas citações frequentes de Bolsonaro a Zucco como possível opção para concorrer a senador e o possível receio do deputado de ficar sem mandato em caso de derrota na corrida ao Piratini. Zucco, por sua vez, avalia ser muito cedo se declarar candidato agora.

Pontos de discórdia

Em outra frente, deputados do PL se ressentem da mudança repentina em diretórios municipais nos quais possuíam influência e o convite a pré-candidatos que podem minar a base eleitoral e reduzir as chances de parlamentares que tentarão a reeleição.

Alguns deputados já fizeram chegar à cúpula partidária o recado de que, embora não tenham força para impedir a candidatura de Zucco, podem estimular uma desmobilização de seus aliados no Interior.

As queixas ainda não alcançaram o patamar de conflito público justamente pelo receio de melindrar ainda mais possíveis aliados, como PP, Novo e Republicanos, e tornar ainda mais difícil a formação de coligação mais competitiva para 2026. Reservadamente, integrantes do PP já manifestam incômodo com a postura de Zucco. Por outro lado, ele mantém conversas com o presidente estadual da legenda, Covatti Filho.

A preço de hoje, o PL tem colocados os nomes de Zucco ao Piratini e Onyx Lorenzoni ao Senado. No entanto, há variáveis que podem modificar o quadro - desde uma indicação pública de Bolsonaro chancelando os nomes até a eventual condenação do ex-presidente no STF, que tende a ampliar o poder de Valdemar Costa Neto nas decisões do partido. _

Palestra de recepção

O historiador Leandro Karnal está sendo contratado para ministrar palestra a novos servidores do governo do Estado. A atividade está marcada para o dia 14 de abril e o custo da contratação, via dispensa de licitação, é de R$ 84.723,88.

A palestra faz parte de um evento de acolhimento aos profissionais temporários, que vão trabalhar em projetos relacionados à reconstrução.

A justificativa diz que o objetivo é "motivar e apoiar os novos servidores a compreenderem a natureza dos processos de mudança e os desafios impostos pelo processo de reconstrução do Estado". _

Patriota municipal

Por sete votos a seis, a Câmara de Novo Hamburgo aprovou em primeiro turno projeto que cria o Dia Municipal do Patriota. A proposta apresentada pelo vereador Juliano Souto (PL) estipula que a data seja celebrada no dia 21 de março, aniversário do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A proposta ainda depende de uma segunda votação em plenário para se tornar lei. Por isso, voltará à pauta na segunda-feira. _

Municípios cobram Estado e União por mais recursos

- Nossa expectativa é de que se resolva ao longo do mês de abril. Não podemos entrar no inverno do jeito que está, senão teremos de readequar produção e oferta de serviços. A situação é urgente - diz Ritter.

A mobilização dos municípios amplia a pressão para que o governo do Estado aumente os repasses para as cidades da Grande Porto Alegre. O prefeito Sebastião Melo já prometeu cortar serviços sem a ampliação dos aportes.

Entre os pedidos dos secretários, estão o pagamento de um novo incentivo financeiro aos hospitais municipais e a criação de uma tabela complementar do SUS, como já acontece em Santa Catarina e São Paulo.

Ao governo federal, o pedido é pela recomposição do limite financeiro para as áreas de média e alta complexidade, o chamado Teto MAC. _

aliás

Os municípios alegam que o Estado não cumpre o mínimo constitucional que exige a destinação de 12% do orçamento à saúde - atualmente, o investimento seria um pouco acima dos 9%. O cálculo desconsidera despesas com pessoal, que sempre foram computadas.

Cédulas da discórdia

Vereadores da oposição entraram na Justiça pedindo a anulação da eleição para o comando da Câmara de Boqueirão do Leão, no Vale do Rio Pardo. O pedido já recebeu parecer favorável do Ministério Público.

Em maioria, a oposição, formada por PDT e PL, planejava eleger o presidente da Casa em 1º de janeiro. No entanto, a vereadora Dalvina Reginatto (MDB), que conduzia a sessão, anulou os votos dos oposicionistas alegando que as cédulas de papel usadas por eles não haviam sido rubricadas. Com os quatro votos da bancada do MDB, a vereadora se declarou presidente da Casa.

- Virou chacota aqui na cidade. Como é que cinco perderam para quatro? - diz o vereador Luiz Claudio Carlesso (PDT).

Procurada pela coluna, Dalvina não atendeu. 

De olho nas emendas

O Tribunal de Contas do RS (TCE) lançou painel que dá transparência às "emendas Pix" destinadas por deputados e senadores ao Estado.

A ferramente exibe os dados registrados entre 2020 e 2024 e permite ao cidadão verificar quanto foi destinado a cada município ou região, quem enviou a verba e qual o destino previsto para o recurso. _

Base legal

Em resposta à coluna publicada ontem, a Associação do Ministério Público do RS diz que o estudo que sugere novos benefícios a promotores e a procuradores é uma "análise técnica e comparativa" sobre a remuneração dos membros do MP no país e evidencia a defasagem do RS em relação aos outros Estados.

"O levantamento em questão possui base legal e caráter sugestivo e busca contribuir para a valorização da carreira, apresentando alternativas dentro dos parâmetros constitucionais e legais", diz trecho do comunicado da AMP. _

POLÍTICA


04 de Abril de 2025
QUALIDADE DO SERVIÇO - QUALIDADE DO SERVIÇO

CEEE Equatorial é a última colocada no ranking de distribuidoras de energia

Classificação foi divulgada na quarta-feira pela Agência Nacional de Energia Elétrica e não considera eventos climáticos extremos. No levantamento, a concessionária figurou na 31ª posição. A RGE, em relação ao ano anterior, caiu seis posições e passou para o 15º lugar.

Responsável por atender 1,8 milhão de clientes no RS, a CEEE Equatorial foi a pior distribuidora de energia elétrica do país em 2024. A classificação foi divulgada na quarta-feira pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O indicador de desempenho da concessionária é o pior da série histórica desde o início da publicação do ranking, em 2011.

Por sua vez, a RGE, que tem cerca de 3 milhões de clientes no Estado, caiu seis posições e ficou 15º lugar (empatada com outras duas) entre as 31 distribuidoras de grande porte.

A qualidade das concessionárias é medida pelo Desempenho Global de Continuidade (DGC). O indicador considera duas variáveis: o tempo médio em que cada unidade consumidora ficou sem luz e quantas vezes houve desabastecimento no ano. Quanto menor o DGC, melhor o atendimento da concessionária.

Na lanterna

Em 2024, o índice da CEEE Equatorial fechou em 1,76, o pior entre as 31 distribuidoras avaliadas. Para efeitos de comparação, a 30ª colocada foi a Equatorial Goiás, com 1,19.

De acordo com a Aneel, a avaliação contempla o período entre janeiro e dezembro de 2024 e não considera eventos climáticos extremos. Em 2023, a pontuação da CEEE havia marcado 1,63.

Na ocasião, a companhia registrou a penúltima posição do ranking, que tinha 29 companhias.Se considerados os últimos sete anos, em cinco a CEEE ocupou o último lugar no ranking. As exceções são 2018 e 2023, quando ficou na penúltima colocação.

Queda

Outra concessionária com atuação no RS, a RGE fechou o ano de 2024 com DGC de 0,74, no 15º lugar entre 31 empresas de grande porte. Em 2023, o índice foi de 0,69, levando a distribuidora à nona colocação.

Pelo quarto ano consecutivo, a melhor distribuidora de energia do Brasil foi a CPFL Santa Cruz, que atua em São Paulo, com DGC de 0,58. 


04 de Abril de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Trump de olho na sala de imprensa

Nada contra novos veículos de comunicação ou influenciadores terem acesso às coletivas de imprensa de um governante. O que não é saudável para a democracia é o próprio governo escolher quem pode e quem não pode cobrir seu mandato. É o que a administração Donald Trump está pensando em fazer, segundo admitiu a secretária de Imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, na segunda-feira.

Historicamente, o mapa de assentos da famosa James S. Brady Press Briefing Room, a sala onde ocorrem as entrevistas coletivas da sede da presidência americana, é definido pela Associação dos Correspondentes da Casa Branca (WHCA). Conforme Karoline, o governo pretende assumir essa função.

O argumento do governo é que a atual configuração do corpo de imprensa não traduz a diversidade do atual ecossistema de comunicação nos EUA. Leia-se: "Há veículos de jornalismo por demais críticos a Trump, precisamos de jornais favoráveis ao governo".

Nas primeiras fileiras, costumam estar jornalistas de grandes emissoras de TV, como CNN, NBC, Fox News, de agências internacionais e de jornais, como The New York Times, The Washington Post e The Wall Street Journal.

Mas não basta só aumentar o número de cadeiras? O espaço é pequeno, dirá a Casa Branca. São 49 lugares. Mas o real motivo da eventual mudança não é esse.

Trata-se de um novo passo de Trump para tentar controlar a informação. Recentemente, a Casa Branca já assumiu atribuições que eram da WHCA, como escolher os órgãos de imprensa que podem - e principalmente os que não podem - viajar no avião presidencial e os veículos que podem adentrar no Salão Oval.

Nesses casos, incluiu jornais que, em muitos casos, fazem cobertura favorável a Trump. Em outra investida contra o jornalismo profissional, o governo tem impedido acesso de repórteres da Associated Press a eventos presidenciais porque a empresa se nega a chamar o Golfo do México de "Golfo da América", conforme determinado por Trump. _

Gaúcho é nomeado Campeão de Alto Nível da COP30

Natural de Porto Alegre, o empresário Dan Ioschpe foi nomeado Campeão de Alto Nível do Clima da COP30 - Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Ioschpe apoiará a presidência da conferência nas agendas do evento, liderando esforços para fortalecer ações climáticas.

No mandato de dois anos, será o elo entre o setor privado e os compromissos estabelecidos pelos governos. Ioschpe nasceu em 1965 e é formado em Comunicação Social pela UFRGS, com pós-graduação em Marketing na ESPM-SP e MBA em Tuck, no Dartmouth College, nos EUA. Entre outros títulos, é presidente do Conselho de Administração da Iochpe-Maxion e membro dos conselhos de administração de WEG, Marcopolo e Embraer. _

Entrevista - André Daniel Reinke - Teólogo, historiador e autor do livro "Paixão Por Israel"

"Há um imaginário evangélico, que vê Israel como um bastião do conservadorismo"

Nos últimos 150 anos, evangélicos têm demonstrado, pelo mundo, aproximação com Israel. No Brasil, também. Na obra Paixão Por Israel (editora Thomas Nelson Brasil), o teólogo e historiador André Daniel Reinke explora as razões desse fenômeno.

Por que os evangélicos são apaixonados por Israel?

A minha tese é porque são apaixonados pela Bíblia. As narrativas da Bíblia se cruzam com as dos evangélicos, que constituem sua identidade, e que encontram outras, que são de judeus e do Estado de Israel. São diferentes narrativas que acabam se cruzando em função da origem, a Bíblia.

É um fenômeno recente?

São níveis diferentes. Existe um interesse mais antigo, que tem essa base escatológica, que coloca um papel muito importante em relação ao final dos tempos.

A ideia da Jerusalém eterna, do juízo final?

Sim, do retorno de Jesus, essa ideia escatológica do final dos tempos, do reino de Deus. O reino de Deus não é uma questão literal, um governo em Jerusalém, mas sim Cristo governando o mundo todo, num reino eterno. Mas, com o movimento político do sionismo, a partir do final do século 19 e que se consolida com a formação do Estado de Israel, em 1948, surge essa nova expectativa, que acaba associada a narrativas bíblicas: o entusiasmo, como se o Evangelho estivesse se cumprindo de uma maneira literal, que, antes, não se imaginava.

Em que momento a bandeira de Israel começou a ser utilizada pelos evangélicos em eventos políticos?

Esse fenômeno é muito mais comum no meio pentecostal e neopentecostal. Há um imaginário evangélico, que entende Israel como uma espécie de bastião do conservadorismo e da direita. Grande parte do mundo evangélico é de direita, é conservador. Imagina-se muito que esse reino de Deus é também conservador. Só que aí é a função do imaginário. Israel não é um país conservador, pelo contrário, é muito progressista. Mas, no imaginário, funciona como essa espécie de ponta de lança no Oriente Médio, da civilização ocidental desse mundo conservador, contra os inimigos ao redor, que são quase que uma espécie de esquerda.

Há judeus que se incomodam quando ocorre a apropriação de elementos de sua fé pelos evangélicos. O senhor tem alguma reflexão sobre essa questão?

No livro, entrevistei rabinos, e me falaram isso. Há um desconforto sobre o uso da simbólica judaica, dos rituais, das festas e dos termos. Um rabino chegou a comentar sobre apropriação cultural. Discordo, porque para isso deveria ter uma relação de poder estabelecida, e não é o caso. Como (aqui no Brasil) não há esse relacionamento, o evangélico se aproxima desses símbolos muito pela leitura, literatura, pela internet e por olhar de longe. Vai se aproximando e usando, até de maneira indevida.

Além dessa ênfase escatológica, há outro detalhamento. Qual seria?

É mais nesse imaginário do uso da simbólica judaica. Como se "compartilhamos os símbolos, então estamos do lado deles". A razão é outra. Inclusive esses grupos não se dão. O que é dispensacionalista tem pavor desse uso simbólico do mundo judaico. Outros acham que a doutrina cristã corrompeu a original que era mais judaica. É um mundo em guerra também. O mundo evangélico hoje está em pé de guerra internamente. Israel está na ponta dessa guerra também. _

INFORME ESPECIAL

quinta-feira, 3 de abril de 2025


03 de Abril de 2025
CARPINEJAR

Dia da verdade

Anteontem foi 1º de abril. E as pegadinhas já não surtem efeito. Restaurantes prediletos dizendo que vão fechar. Artistas avisando que vão abandonar suas redes sociais. Celebridades traçando metas absurdas. Eu não ri de nada, não tinha motivos para rir.

Rolava o dedo na telinha do meu celular com náusea e desconforto.

Há muito tempo, a data deixou de ser engraçada. Não porque é previsível, não porque você acorda antevendo as armadilhas, mas porque a mentira já é tão comum que não mais assusta. Há mais fake news do que fatos. Vivemos num mundo de simulacros para enriquecer facilmente e agradar ao algoritmo.

O que desconcerta é a verdade. Deveríamos criar o Dia da Verdade. Daí sim seria um escândalo. O dia do sincericídio. O dia de abrir o coração. O dia das confissões honestas. O dia da transparência digital. O dia do fair play moral.

Um dia em que você não mais defenderia sua aparência e as pequenas trapaças rotineiras. Um dia em que não mais guardaria os ressentimentos e as sabotagens. Um dia em que pais e filhos diminuiriam a sua distância, expondo efetivamente quem são e o que pensam.

Um dia em que você não procuraria o perdão, qualquer recompensa ou benefício pessoal, só procuraria ser justo. Um dia em que ninguém iria se preocupar em se proteger, e sim em não enganar a si próprio. Um dia em que governantes terminariam com as suas promessas e apresentariam as suas falhas.

Um dia de choque democrático. Os parlamentares explicitariam quais os propósitos das suas emendas um tanto secretas, por que são tão infladas a ponto de consumir R$ 50,4 bilhões do orçamento em 2025, o equivalente à receita de 32 dos 38 ministérios do governo federal. Descomplicariam o rastreamento e acabariam com a fama de balcão de negócios e de instrumento costumeiro para a reeleição.

Currículos seriam refeitos, plágios seriam desmascarados, júris seriam cancelados pela declaração de inocência ou culpa dos suspeitos.

Crimes insolúveis no país, como o de Ana Lídia Braga, menina de sete anos sequestrada e morta em Brasília em 1973, ou do menino Carlinhos, de 10 anos, sequestrado no Rio de Janeiro no mesmo ano e jamais localizado, finalmente encontrariam o seu desfecho e os seus autores.

Um dia em que não faríamos o outro sofrer pelo que ele não sabe. Não haveria mais segredos sujos, deslealdade recalcada entre amigos, infidelidades, inveja, concorrência predatória. Tudo viria à tona em cascatas de vídeos.

Um dia apenas de poses espontâneas, de palavras sem filtro, do constrangimento redentor. Com aquele facho de luz rompendo as borrascas e formando um arco-íris de franqueza e fraqueza no horizonte humano. Daniel Alves, por exemplo, ligaria a sua câmera e contaria o que realmente aconteceu naquele banheiro na discoteca em Barcelona, na madrugada de 31 de dezembro de 2022. _

CARPINEJAR

03 de Abril de 2025
OPINIÃO RBS

Um debate mais maduro

Fez bem o governador Eduardo Leite ao, neste momento, desistir do processo de aquisição de uma aeronave a jato pelo Estado, um dos temas mais comentados pela opinião pública do Estado desde a semana passada. A compra de avião por governos é sempre controversa e normalmente abre margem para versões como a de que o equipamento seria um luxo destinado apenas a garantir maior conforto ao mandatário de plantão em seus deslocamentos e um desperdício de recursos diante de outras prioridades mais urgentes e das limitações do erário.

Discussões dessa natureza muitas vezes são contaminadas por argumentos torcidos, tanto por quem é a favor como pelos que se opõem, por convicção ou conveniência política. Mas o debate faz parte do jogo. É sempre saudável e democrático. Atenta aos diferentes pontos de vista e razões, a sociedade faz o seu juízo.

Ao explicar a desistência, o governador queixou-se de "dados contaminados e viciados, tratados por políticos e pela imprensa". Não é crível que Leite esperasse que a oposição aderisse à ideia da compra sem contestações ou críticas, corretas ou não. E na imprensa viram-se opiniões contrárias, mas também favoráveis à intenção do Piratini. 

Se o governador estava convicto da necessidade de adquirir a aeronave, deveria ter se esforçado mais em apresentar suas justificativas e convencer os gaúchos da importância do negócio, estimado em cerca de R$ 90 milhões. Ainda mais se é verdade, como reforçou Leite, que o processo de obtenção do equipamento poderia demorar mais do que o período que lhe resta como governador, afastando proveitos pessoais.

Há razões bastante plausíveis e nobres para a aquisição da aeronave, como salvar vidas pela agilidade no transporte de órgãos destinados a transplantes. Segundo o Piratini, o avião é uma demanda que vem especialmente da Secretaria da Saúde e há casos de doações de órgãos frustradas pela impossibilidade de deslocamentos em tempo hábil. 

Por outro lado, não são descabidas as ponderações de que a origem dos recursos não deveria ser o Funrigs, composto por parcelas da dívida do Estado com a União que deixaram de ser pagas em função da enchente do ano passado. O fundo foi constituído para ser usado "no enfrentamento das consequências sociais, econômicas e ambientais decorrentes dos eventos climáticos" dos dois anos anteriores. O exame sobre a existência de outras prioridades tampouco pode ser interditado.

Mesmo que Leite tenha recuado do plano, é uma discussão que merece ser retomada, ainda que em outro governo, seja qual for a coloração partidária. Surgirão, novamente, posições alimentadas por falácias difundidas por redes sociais, reprovações políticas e apreciações favoráveis e discordantes na imprensa. 

Mas deve-se crer que a sociedade gaúcha tem condições de conduzir um debate maduro, que restará na vitória dos melhores e mais robustos argumentos e na decisão final do Piratini. É cabível reexaminar, com maior seriedade, se o governo gaúcho precisa de uma aeronave mais moderna, adequada às necessidades da saúde, da segurança ou mesmo para deslocamentos mais ágeis do governante da vez. 

OPINIÃO RBS


03 de Abril de 2025
MERCADO FINANCEIRO

Ministério Público decide investigar acordo entre bancos

Mercado financeiro

Aquisição do Master pelo estatal BRB gerou questionamentos em diversas frentes. Operação, que ainda precisa de aval do Banco Central e do Cade, é estimada em R$ 2 bilhões e foi aprovada na sexta-feira. Instituição privada anunciou que obteve lucro de R$ 1 bilhão em 2024

O Ministério Público do Distrito Federal decidiu investigar a compra de uma fatia do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB). Um inquérito civil foi aberto por iniciativa da própria procuradoria. O acordo chamou atenção do mercado devido ao rápido crescimento do Master nos últimos anos, além de alertas de operações fora do padrão levados ao Banco Central (BC),

No centro da apuração, está a operação de R$ 2 bilhões aprovada pelo Conselho do BRB, que é um banco estatal, na última sexta-feira. A transação ainda depende de aval do BC e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Os órgãos de controle têm prazo de um ano para definir uma posição.

Pelo acordo firmado, o BRB ficará com 58% do capital total do Master e com 49% das ações ordinárias (com direito a voto) e 100% das ações preferenciais (sem direito a voto) do banco privado.

A negociação prevê que os dois bancos continuem operando separadamente, mas sob a marca BRB. O atual proprietário do Master, Daniel Vorcaro, continuará como controlador e terá 51% de participação na instituição financeira.

"Grande oportunidade"

A compra virou alvo de questionamentos em diferentes frentes. Na Câmara Legislativa do Distrito Federal, deputados do PT protocolaram pedido de convocação do presidente do BRB, Paulo Henrique Costa. Já a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou, na terça-feira, requerimento de informações ao BC.

O Ministério Público de Contas também vai apurar o caso. Além disso, o Sindicato dos Bancários de Brasília pedirá ao BC e ao Cade que rejeitem o negócio.

A entidade manifestou preocupação com possível gestão inadequada por parte do BRB e não descarta entrar na Justiça.

Em entrevista à GloboNews na terça-feira, Costa disse que a compra do Master tem como objetivo diversificar a atuação da instituição pública:

- O Master é uma grande oportunidade para o BRB, que sempre atuou no varejo e nunca conseguiu se posicionar no atacado. Vai agregar atuação em médias e grandes empresas, em mercado de capitais, em câmbio - afirmou.

O presidente do BC, Gabriel Galípolo, reuniu-se esta semana tanto com Costa quanto com Vorcaro para entender o acordo. O BRB é uma sociedade de economia mista, de capital aberto, e o acionista majoritário é o governo do Distrito Federal (71,92%), mas atua em diversos Estados. _

Entenda a polêmica

A negociação é controversa porque o Banco Master levou a cabo, nos últimos anos, uma política considerada agressiva para captar recursos, oferecendo rentabilidades em seus Certificados de Depósito Bancário (CDBs) de até 140% do CDI - bastante superiores às taxas médias do mercado.

Na terça-feira, o Master divulgou, com um dia de atraso, o balanço de 2024, que aponta lucro de R$ 1 bilhão, quase o dobro dos R$ 523 milhões registrados no ano anterior. Segundo os números, os resultados operacionais e as capitalizações sucessivas fizeram o patrimônio líquido da instituição financeira saltar de R$ 2,3 bilhões em 2023 para R$ 4,7 bilhões em 2024.

O Master enfrenta desconfianças do mercado financeiro. Recentemente, o banco tentou emissão de títulos em dólares, mas não conseguiu captar recursos. Operações do banco com precatórios (títulos de dívidas de governos com sentença judicial definitiva) também aumentaram dúvidas sobre a real situação financeira da instituição.

Recentemente, houve especulações de que outro banco, o BTG Pactual, teria oferecido apenas R$ 1 para assumir o controle do Master e o passivo da instituição. Na noite de ontem, a instituição divulgou um comunicado no qual afirmou que "nunca fez proposta para aquisição de ativos ou de participação no capital social do Banco Master".

Caso se concretize, a compra do Master pelo BRB resultará no nono maior banco em carteira de crédito do país, com um total de 15 milhões de clientes e R$ 112 bilhões em ativos.



03 de Abril de 2025
Conexão Brasília

Aprovação de Lula segue despencando

A pesquisa Genial/Quaest divulgada ontem não é apenas mais um levantamento que comprova a queda de popularidade do governo Lula. O resultado é um banho de água fria nas expectativas do Planalto, que esperava o oposto após adotar uma série de políticas públicas nas últimas semanas.

Segundo o levantamento, a aprovação de Lula atingiu o pior patamar desde o início da gestão. A desaprovação, que era de 49% em janeiro, passou para 56% no mês de março. A aprovação, por sua vez, caiu de 47% para 41%.

Nos últimos dias, auxiliares do presidente diziam em reservado que a crise do início do ano havia sido vencida, e que esperavam aos poucos estancar a percepção negativa da população sobre os rumos da administração federal.

Além do crédito consignado para trabalhadores da iniciativa privada, a expectativa do Planalto era melhorar a avaliação com outras iniciativas, como o envio de um projeto ao Congresso isentando de Imposto de Renda (IR) os salários de até R$ 5 mil. Embora só tenha previsão de entrar em vigor em 2026, a medida foi badalada pelo governo com o objetivo de mobilizar a opinião pública.

O governo também isentou de taxas de importação uma lista de alimentos, começou a verificar queda nos preços de vários produtos pela entrada da nova safra, e consolidou políticas sociais, como o Pé-de-Meia, que paga uma bolsa a estudantes de baixa renda do Ensino Médio. Até agora, no entanto, nada parece ter surtido efeito.

As cartas na manga estão chegando ao fim. Com orçamento apertado e pouca disposição do Congresso em ampliar o rombo fiscal, ficam cada vez mais escassas as alternativas que possam impulsionar a avaliação positiva do governo. _

Esta coluna contém informação e opinião

CONEXÃO BRASÍLIA


03 de Abril de 2025
POLÍTICA E PODER - Rosane de Oliveira

Associação do MP pede mais penduricalhos

Senhores professores, senhores brigadianos. Vocês terão dificuldade de acreditar nesta história se não lerem os documentos que atestam sua veracidade. Acreditem, senhoras e senhores. Os membros do Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS), que acabaram de receber a licença compensatória (aquela de um dia de folga para cada três trabalhados, com possibilidade de conversão em dinheiro), querem mais. Muito mais.

A coluna teve acesso a um documento encaminhado em dezembro de 2024 à Procuradoria-Geral de Justiça pela Associação do Ministério Público do Rio Grande do Sul com o título "Considerações sobre a remuneração dos membros do Ministério Público do Rio Grande do Sul". Com fartas referências ao Judiciário, fica claro que é um ponto de partida para que, se o pleito for atendido, Tribunal de Justiça, Defensoria Pública e Tribunal de Contas pleiteiem o mesmo.

Antes de detalhar os pontos mais impactantes do estudo, vamos à conclusão: de penduricalho, o teto real de um procurador chegaria a R$ 74.372,60 líquidos. No início da carreira, iria a R$ 54.687,08.

Como se chegou a esses números? Logo nas páginas iniciais o estudo apresenta as "médias remuneratórias" de membros do MP na comparação com os demais entes federativos, indicando que a do RS seria R$ 35,1 mil a menos do que outros Estados, onde chega a até R$ 90 mil. O documento diz que isso "tem causado desconforto e preocupação aos nossos colegas."

Pelos cálculos dos encarregados do estudo, os "atrasados" do MP com seus membros chegaria a R$ 1,6 bilhão.

Para efeito de comparação, é importante lembrar que o orçamento do MPRS é de R$ 1,3 bilhão por ano. Esse montante contempla os atrasados pelo fim do tempo de serviço quando foi adotado o subsídio.

Quem não tem memória curta lembra que as corporações brigaram pelo subsídio porque à época significou um aumento real na remuneração, com o argumento de que os penduricalhos seriam incorporados para "dar total transparência".

Como o subsídio demorou para ser implantado no RS, a Associação do MPRS cobra R$ 400 milhões de "subsídio retroativo" e R$ 200 milhões de atrasados da "Parcela Autônoma de Equivalência", nome científico de um auxílio moradia pago a quem tem casa própria - às vezes mais de uma. _

Protagonistas na alfabetização são homenageados na Feevale

Nos dias normais de espetáculo no Teatro Feevale, os artistas ficam no palco e a plateia aplaude sua performance. Ontem, os papéis se inverteram: os verdadeiros protagonistas estavam na plateia. Eram representantes de 200 escolas estaduais e municipais premiadas no programa Alfabetiza Tchê porque se destacaram pelos resultados de alfabetização nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

As escolas que ficaram nas melhores posições foram contempladas com valores que variam de R$ 40 mil a R$ 80 mil, enquanto as demais, com mais fragilidades, obtiveram complemento de R$ 20 mil a R$ 40 mil, como compromisso para avançar na aprendizagem.

- O Estado não é apenas gestor da sua própria rede escolar, ele é responsável pela educação gaúcha, que tem as redes municipais como agentes fundamentais no processo de alfabetização. Por isso criamos o Alfabetiza Tchê, para uma colaboração entre Estado e municípios nesta missão tão importante - disse o governador Eduardo Leite.

Estudantes da Escola Oscar Konrath, de Sapiranga, fizeram ainda uma apresentação, recitando textos para demonstrar, na prática, a fluência leitora e os resultados do programa. _

Dmae será alvo de CPI na Câmara

Uma CPI será instalada na Câmara de Porto Alegre para investigar supostas irregularidades no Dmae. O pedido da vereadora Natasha Ferreira (PT) obteve as 12 assinaturas necessárias para abertura da comissão.

As assinaturas vieram de PT, PCdoB e PSOL. No pedido, Natasha cita três situações: a suposta negligência da prefeitura diante de alertas técnicos sobre falhas no sistema antienchentes, uma denúncia de corrupção passiva de um ex-diretor do Dmae e os 2,6 mil cargos vagos na autarquia. A vereadora cita a enchente de maio de 2024 como uma das "principais consequências da má gestão" do Dmae.

- Essa CPI é uma resposta à indignação de quem perdeu tudo por causa da negligência do poder público - alegou.

A comissão terá 120 dias para averiguar os fatos e elaborar um relatório com as apurações. 

Por que Leite desistiu do avião

O jornalista Jocimar Farina deu em primeira mão a notícia sobre a intenção do governo Eduardo Leite de comprar um avião e, ontem, a informação sobre a desistência.

Os adversários do governador, sabendo que ele deseja ser candidato a presidente, espalharam que o avião seria usado para fazer campanha - uma sandice, dado que para concorrer ele terá de renunciar até o início de abril de 2026. Se fosse comprado, o avião dificilmente seria usado antes disso.

Sim, a ideia era um avião que pudesse funcionar como UTI móvel para transportar pacientes em estado grave que precisam ser transferidos. Talvez a maioria dos gaúchos não saiba que o governo gastou R$ 14 milhões em 2024 com a contratação de táxi aéreo, sobretudo para transporte aeromédico.

Havia também a intenção de usar o avião para transporte de órgãos e aumentar o número de transplantes. Por fim, a Secretaria da Segurança usaria o avião para viagens de emergência, mas o governo não teve tempo de explicar.

Leite decidiu encerrar o assunto porque cedeu ao rugido das redes sociais. Seus conselheiros concluíram que se tratava de causa perdida, até porque o Estado recém colocou as contas em dia e que ainda há muito o que recuperar da enchente.

Talvez morram pessoas que poderiam ser salvas por transplante ou pela transferência para hospital mais equipado, mas quem se importa se não for alguém da sua família? _

Conflitos no caminho da fusão

Próximos de uma fusão, PSDB e Republicanos ainda têm arestas a aparar. Na terça-feira, a assessoria do deputado estadual Delegado Zucco (Republicanos) divulgou que, "por unanimidade", a bancada da sigla decidiu apoiar a pré-candidatura de Luciano Zucco (PL) ao governo do Estado.

Entretanto, a informação dos bastidores é de que esta discussão não ocorreu. Além disso, o deputado Sérgio Peres, que representa a ala evangélica da legenda, negou que tenha declarado apoio a Zucco:

- Estamos fazendo parte do governo hoje, não pode ser assim.

A ala religiosa, representada por Peres e Eliana Bayer, é mais alinhada à direção estadual, que está na base do governo Eduardo Leite. Os republicanos que defendem a candidatura de Luciano são da ala bolsonarista: Delegado Zucco (irmão de Luciano), Gustavo Victorino e Capitão Martim.

À coluna, o presidente estadual do partido, Carlos Gomes, afastou qualquer tipo de apoio antecipado, afirmando que não há nenhuma candidatura consolidada no momento. _

POLÍTICA E PODER


03 de Abril de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Não houve debate suficiente sobre compra do avião

A grande polêmica que se formou em torno da intenção de compra de um avião a jato pelo governo do Estado não era a aquisição em si da aeronave - tampouco o valor elevado, em torno de R$ 95 milhões.

O questionamento que se impôs era a origem do recurso. Tudo indica que seria usado dinheiro do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), o chamado "fundo da enchente", cujo objetivo fundamental é a reconstrução do Estado.

Essa coluna questionou desde o início: o Rio Grande do Sul não teria necessidades mais urgentes?

A cada temporal, como o de segunda-feira, que acossou Porto Alegre e Região Metropolitana, percebe-se que, sim, tem. Passados 11 meses da grande tormenta de maio de 2024, estamos ainda muito longe do ideal de proteção, resiliência e adaptação a eventos extremos.

No vídeo em que anunciou a desistência da compra da aeronave, o governador Eduardo Leite afirmou:

- O debate sobre o bom uso do dinheiro público é legítimo, mas precisa ser feito com responsabilidade, com base na verdade. No entanto, uma vez que esse tema foi contaminado pelos argumentos viciados e equivocados que foram trazidos na política e na imprensa, estou demandando que encerre o processo da compra da aeronave.

A coluna defendeu o debate desde o início, mas, infelizmente, ele não ocorreu. Não houve nem tempo.

Leite desistiu no meio do diálogo, atribuindo o recuo a argumentos "viciados e equivocados que foram trazidos na política e na imprensa".

Redes sociais

Posições políticas antagônicas sempre vão ocorrer, cada vez mais contaminadas (e barulhentas) pela polarização e pelo ambiente tóxico das redes. Mas é parte do jogo.

Fazer perguntas incômodas, perseguir respostas sobre projetos, questionar o poder e provocar discussões são papéis da imprensa: ser o local, a praça pública, o espaço por excelência para o diálogo da sociedade.

O governador recuou rápido demais, preocupado com a repercussão que o caso ganhou, sem que o debate tenha ocorrido de fato - e com profundidade. _

Chico Paiva, neto de Rubens e Eunice Paiva, será agraciado amanhã com a Comenda Porto do Sol, da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, em ato proposto por Roberto Robaina (PSOL).

Quem é o responsável pela poda das árvores?

No temporal que atingiu a Capital segunda-feira, ruas ficaram tomadas por galhos e troncos, que, em boa parte, entupiram o sistema de drenagem e comprometeram o abastecimento de energia elétrica.

Respostas

Afinal, de quem é a responsabilidade pela poda? A coluna procurou a Secretaria de Serviços Urbanos de Porto Alegre (SMSUrb) e a CEEE Equatorial. A secretaria esclarece que é responsabilidade da prefeitura "realizar a vistoria, emitir parecer técnico e executar o manejo arbóreo em espaços públicos e em áreas privadas classificadas como de baixa renda", em caráter preventivo. Sobre galhos próximos à rede elétrica, a SMSUrb salienta que um acordo foi firmado em abril de 2024, no qual "ficou definido, junto à CEEE Equatorial, ao Ministério Público do RS e o governo do RS, que a concessionária deverá podar as árvores que estejam em contato com a fiação elétrica".

Já a CEEE Equatorial diz que faz "manejo preventivo das árvores em contato com a rede de distribuição", via empresa privada. E citou que "a poda preventiva e o manejo da vegetação em áreas públicas são responsabilidade das prefeituras." _

Vinte anos sem João Paulo II

A morte de um Papa é daqueles fatos marcantes, que fazem a gente lembrar onde estava quando o episódio ocorreu. Era final de tarde de sábado no Brasil, em 2 de abril de 2005, há 20 anos, quando o Vaticano anunciou o falecimento de João Paulo II, e eu estava saindo de casa, em Porto Alegre, para pegar o voo no aeroporto Salgado Filho rumo a Roma.

Desembarquei no coração da fé católica quase 15 horas depois. Ali entendi que a morte de um Papa é apenas o início de uma série de rituais. Foram 18 dias de cobertura que envolveram emoção, noites insones, 14 horas na fila para se aproximar do corpo de João Paulo II, o enterro, o início do conclave e as especulações até a fumaça branca anunciar Josef Ratzinger ungido Bento XVI.

Lembro dessa história não só pela data, mas pelo fragilizado estado de saúde de Francisco. As histórias entre os dois papas cada vez mais se aproximam: como João Paulo II, o primeiro papa não italiano em 455 anos, o argentino é o primeiro oriundo da América Latina. Eles quebraram tradições. O polonês foi o primeiro a se tratar em um hospital - a clínica Gemelli - até então, a saúde dos papas era guardada a sete chaves. O estilo carismático também os aproxima, assim como a busca pelo diálogo interreligioso, a humanização da figura do Pontífice e a humildade. Também os une o papel geopolítico: João Paulo II e Francisco se mostraram à altura dos desafios da humanidade, o primeiro durante a Guerra Fria, e o segundo, na pandemia.

Os dois, entretanto, têm diferenças de enfoque teológico: o polonês era intransigente defensor da tradição, enquanto o argentino vem tentando implementar uma agenda mais inclusiva - a passos lentos, como, aliás, se move a Igreja. _

Atenção a alunos com transtorno do espectro autista

No Dia Mundial da Conscientização do Autismo, comemorado ontem, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) lançou um manual técnico para orientar a alimentação de alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em todas as instituições de ensino da rede de Porto Alegre.

O documento fornece um passo a passo para o manejo da alimentação dos 2.815 alunos com autismo. Estima-se que 90% das pessoas com TEA tenham dificuldades na alimentação, e 70% seletividade alimentar.

Nutricionistas

O documento teve origem nos encontros de formação do Grupo de Trabalho criado pelas nutricionistas da Unidade de Alimentação Escolar (UAE) com profissionais do Centro de Referência do Transtorno Autista (Certa) e contou com a colaboração da Coordenação da Educação Especial da Smed, sendo validado pela Secretaria Municipal de Saúde.

- Foram instituídas essas orientações para auxiliar as escolas e garantir a esses alunos uma alimentação mais variada, saudável e inclusiva - afirma o secretário de Educação, Leonardo Pascoal. _

INFORME ESPECIAL

quarta-feira, 2 de abril de 2025



02 de Abril de 2025
ECONOMIA

ECONOMIA

Patamar da pobreza na Argentina cai para 38,1%

A pobreza na Argentina atingiu 38,1% da população no segundo semestre do ano passado, queda de 14,8 pontos percentuais em relação aos seis meses anteriores, informou o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec).

É um recuo significativo em relação aos primeiros seis meses do governo de Javier Milei, quando a pobreza havia disparado para 52,9%.

O número de pessoas nessa condição no país vizinho caiu de 15,7 milhões para 11,3 milhões. A indigência, por sua vez, caiu para 8,2%, ante os 18,1% do semestre anterior.

A melhora reflete o impacto da redução da inflação, que passou de 211% em 2023 para 118% em 2024.

Demissões

O programa econômico do governo, com um ajuste sem precedentes nos gastos públicos, alcançou o primeiro superávit anual das contas em 14 anos. A economia encolheu 1,8% em 2024, o consumo acumula 15 meses consecutivos de queda e houve milhares de demissões devido à eliminação ou à redução de órgãos estatais e à paralisação de obras públicas.

Segundo o Indec, as maiores incidências de pobreza estão nas regiões Norte e Noroeste, enquanto as menores estão nas regiões da Patagônia e Pampeana. 


02 de Abril de 2025
MÁRIO CORSO

Tirania da moda

Quando visito minhas fotos antigas, além da nostalgia, sinto algo entre o embaraço e o riso. O distanciamento deixa transparente a lente da moda.

Acho graça das minhas roupas, do meu cabelo longo e desgrenhado. Não estou sozinho, ora estou acompanhado por senhoras com capacetes de laquê, ora por amigos com calças boca-de-sino e sapatos plataforma.

A moda nos perpassa sempre, mesmo quem nas fotos não estava na moda, estava fora de moda, como era estar fora de moda naquele tempo. Tentar fugir do espírito do tempo, gravado na vestimenta, é uma causa perdida.

A indústria fashion de hoje nos diz que o último grito em serigote chapeado é usar roupas extra largas (oversized). Vendida como novidade, é mera apropriação de movimentos da cultura urbana marginal, como hip hop, grunge e skatewear. Eles usavam roupas largas por praticidade, conforto e por recusar a moda corrente.

A reclusão da pandemia incentivou o uso de roupas largas e confortáveis. Nas telas aparecíamos usando algo no espectro entre um abrigo esportivo e uma roupa velha improvisada como pijama. Depois disso, normalizamos certa informalidade. A nova moda revela uma tendência híbrida, tanto de uma escolha pela praticidade, como produto da moda globalizada.

Quando vejo alguém vestindo a nova moda, me parece uma criança que pegou a roupa do pai ou da mãe. A tendência segue o modo bombacha, mas no sentido que toda a roupa é embombachada.

A tal roupa larga tem suas vantagens, se você engordar ninguém nota, se você emagrecer fica ainda mais na moda. Ainda, se precisar usar fraldas, ninguém fica sabendo.

Calça justa, roupas que mostram e valorizam o contorno do corpo, vão ficar para trás. O oversized da geração Z desafia o padrão do corpo idealizado. Como essas roupas levam o selo da nossa época, obviamente, elas são genderless, isso é, sem gênero.

Com a idade, travamos em um estilo feito de uma colagem do que em algum momento da nossa vida foi moda. Pode acontecer olharmos para o novo com a mesma estranheza que nos vemos nas fotos antigas. Podemos rir da artificialidade das roupas atuais como rimos da artificialidade a que fomos submetidos. Só assim, parcialmente, vencemos a tirania da moda. _

MÁRIO CORSO

02 de Abril de 2025
OPINIÃO RBS

A cada temporal, o despreparo ressurge

O violento temporal que atingiu Porto Alegre e parte da Região Metropolitana na segunda-feira à tarde volta a demonstrar que persistem falhas nos sistemas de alerta, na prevenção e na resposta a eventos climáticos extremos. Por sorte foi um episódio que, a despeito da força, ocorreu de forma isolada, sem estragos disseminados pelo Estado. Ainda assim, reforça que, quase um ano depois da enchente catastrófica de maio de 2024, segue-se longe do necessário em termos de preparação e reação.

Ao longo do dia, é fato, a Defesa Civil do Estado emitiu alertas sobre o risco de chuva e vento fortes. Mas foram avisos que não destoaram muito de advertências em dias anteriores, em casos que sequer a precipitação prevista ocorreu. Os alertas, portanto, não foram ajustados à magnitude da tempestade que chegava à Capital e municípios vizinhos, com rajadas de vento de mais de 100 km/h. 

É preciso calibrar melhor os avisos meteorológicos, o que também contribui para a própria população levar a sério os informes e se precaver de forma adequada, evitando estar nas ruas ou no trânsito, por exemplo. Novos equipamentos foram adquiridos e instalados pelo Piratini para aperfeiçoar as advertências da chegada de tempo severo. O episódio de segunda-feira mostra que ainda falta precisão aos alertas.

Também deixou a desejar a preparação do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae) de Porto Alegre. A direção da autarquia alega que ocorreu um problema pontual na casa de bombas 16, que serve a bairros como o Menino Deus, onde dois geradores instalados que deveriam ser acionados automaticamente não ligaram. Mesmo que a pane tenha sido localizada, sem uma falência generalizada do sistema, como ocorreu na cheia de maio do ano passado, não é razoável que um sistema recém instalado falhe tão cedo.

Nos transportes, a população voltou a enfrentar transtornos e desrespeito. A operação do trensurb entre as estações Mercado e Canoas foi interrompida devido ao temporal. Os passageiros, além de não contarem com o serviço, permaneceram um longo período sem qualquer informação da empresa. Ainda tiveram de aguardar em alguns casos mais de quatro horas até conseguirem embarcar nos ônibus providenciados pela estatal federal para os usuários percorrerem o trecho.

Por fim, segue longe do aceitável a velocidade de resposta da CEEE Equatorial para o restabelecimento da energia. Não apenas para as residências e estabelecimentos, mas para as estações de tratamento de água da Capital e semáforos. A direção da companhia que assumiu a concessão em julho de 2021 diz que ainda vai levar outros dois ou três anos para existirem condições de enfrentar melhor as tempestades recorrentes. Por um bom tempo, portanto, restará aos cidadãos apenas reclamar. Até porque a fiscalização dos órgãos reguladores, ao cabo, mostra-se inócua.

Os gaúchos estão fartos de saber que o Estado sofrerá cada vez mais com eventos extremos. Também estão cansados de escutar promessas de autoridades sobre prevenção, enquanto a cada novo temporal o despreparo reaparece. Mas a mobilização da sociedade não deve esmorecer. Diante dos prognósticos, é mandatório ao Rio Grande do Sul ser modelar na resiliência climática.