26
de março de 2014 | N° 17744
EDITORIAIS
ZH
O BRASIL
REBAIXADO
Orebaixamento
da nota de crédito internacional do Brasil pela agência de classificação de
risco Standard & Poors é um retrocesso que exige mais do que a reação
inconformada da área econômica do governo. Era previsível que o Planalto tenha
procurado desqualificar a avaliação, com o argumento de que a nota seria
inconsistente com as condições da economia e contraditória com o que define
como a solidez e os fundamentos do país.
Os
indicadores que a agência avaliou vêm sendo acompanhados internamente por
especialistas em contas públicas e há muito tempo não trazem boas notícias. A
avaliação independente externa apenas ratifica a percepção generalizada de que
o governo descuidou do controle fiscal e não consegue reorientar a economia
para que volte a crescer.
A
combinação de quase estagnação, de sobressaltos da inflação e de desequilíbrio
das contas públicas sustenta a nota, conforme declarações de economistas da
própria agência. Há especial preocupação com um dado recente, referente aos
custos das compensações que bancarão as perdas do setor elétrico. Especula-se
que os subsídios a serem repassados ao setor, na tentativa de evitar um colapso
no fornecimento, podem envolver até mesmo aumento de impostos.
Interrompe-se
com a nova avaliação um período de uma década de elevações na nota atribuída ao
Brasil, sempre citado entre as economias com maior potencial de
desenvolvimento. Foi pelas virtudes de nação emergente que o país conquistou
aos poucos a confiança dos investidores internacionais. Perdê-la agora, quando
poderia ampliar a atração de projetos e recursos, é desalentador em todos os
sentidos.
Mesmo
que os mercados não tenham, de imediato, reagido negativamente à nova
avaliação, há um abalo evidente na imagem do Brasil. Agências de percepção de
risco existem para orientar a movimentação dos capitais mundiais e, apesar de
falhas pontuais, são consideradas cada vez mais importantes para a compreensão
da economia globalizada.
Ao
tentar refutar a análise da Standard & Poor’s, o governo apenas continua se
comportando como se estivesse indiferente a uma realidade que preocupa a todos,
em especial a quem produz. Há indícios de que o descontrole fiscal não é
passageiro e de que o país ainda enfrentará, como agravante, os desdobramentos
da fragilização da Petrobras, cuja gestão vinha sendo marcada por decisões
desastradas.
A
correção de rumo deve começar pela admissão das autoridades de que os
fundamentos da economia não são tão sólidos quanto o governo apregoa. A imagem
do Brasil no Exterior depende de gestos decididos de quem governa e formula as
políticas orientadoras das decisões econômicas públicas e privadas, e não de
respostas retóricas. Ficou claro, com esse rebaixamento, que o discurso
otimista apresentado pela presidente Dilma em Davos foi insuficiente para
conter a desconfiança internacional. O país precisa reagir com pragmatismo,
principalmente na área fiscal, para preservar a credibilidade ameaçada.