domingo, 23 de março de 2014

VINICIUS TORRES FREIRE

O mau negócio bom de Dilma

Executivo que teria iludido Dilma é demitido por ter feito negócio ruim que o governo diz ter sido bom

NA TV, POLÍTICOS do PT aparecem travestidos de analistas financeiros, a explicar que a compra da refinaria foi um bom negócio para a Petrobras. Mas, então, no mesmo dia, demitem o diretor da Petrobras acusado de enganar a presidente Dilma Rousseff, de induzi-la a aprovar um negócio... ruim? Não era bom o negócio da compra da refinaria de Pasadena, patrocinado por esse mesmo diretor?

A coisa não melhora.

Nestor Cerveró era diretor da Petrobras até meados de 2008, quando Dilma Rousseff diz ter compreendido que a empresa fizera um mau negócio bom, ou o que seja, na compra da refinaria. Cerveró, porém, caiu para o lado, passando a dirigir as finanças da BR Distribuidora, empresa da Petrobras.

O que houve? Se o negócio foi bom, mesmo sem nunca ter sido, o que Cerveró fazia na direção da BR até sexta-feira? Se era de fato bom o negócio, o que houve? Teria baixado o espírito da Rainha de Copas na presidente, que mandou a Petrobras cortar a cabeça de Cerveró?

A coisa não melhora.

No jogral que ensaiaram para defender o bom negócio ruim da compra da refinaria, os governistas papagueiam o argumento de que, "no contexto da época", o negócio era bom. Pode ser.

O preço do petróleo e a margem de lucro das refinarias decolavam então para as alturas, no embalo da China e da mãe de todas as bolhas financeiras, parida pelos "gênios do mal" (Wall Street) do "Império do Mal" (Estados Unidos), que inflava o preço de todos ativos, financeiros, reais ou imaginários feito um papel podre imobiliário.

O valor da empresa de fato subiria com a perspectiva de retorno alto e crescente. Tudo normal, mas não deixa de ser divertido que o pessoal do PT defenda que a mãe de todas as estatais surfasse na bolha do "capital financeirizado", como gostam de dizer.

De qualquer modo, a sério, o preço da refinaria ainda parece ter tomado carona num rabo de foguete. No relatório anual do grupo ao qual pertence a Astra, se dizia que o negócio da refinaria de Pasadena "calhou de ser um sucesso operacional e financeiro além de qualquer expectativa razoável", graças à sociedade com a Petrobras.

Mais divertido é que, quaisquer que sejam os critérios da defesa governista dos negócios da Petrobras, "de mercado" ou "neodesenvolvimentistas", tudo acaba em ruína.

O "critério de mercado", de fato "normal", explicaria o preço pago pela refinaria de Pasadena, que, porém, acabou em lambança de mais de US$ 1 bilhão. Qual seria a explicação das perdas "neodesenvolvimentistas"?

Por exemplo. O tabelamento de preços faz a Petrobras perder dezenas de bilhões de reais. A refinaria semibolivariana de Pernambuco vai custar muito mais que o projetado.

Ainda não está claro se valia a pena comprar Pasadena (vão publicar a avaliação financeira?). Não está claro por que houve encrenca com a Astra, o que fez a empresa belga se valer da cláusula que obrigava a Petrobras a comprar a sua parte. Não é pública a fórmula para calcular o valor da refinaria nessa cláusula. Não está clara a sobrevida e morte nada severina do diretor Cerveró.


Tudo isso parece muito esquisito. Ainda assim, o prejuízo de Pasadena parece merreca perto das perdas da Petrobras com outros negócios e com a política do governo.