VINICIUS
TORRES FREIRE
O mau negócio bom de
Dilma
Executivo
que teria iludido Dilma é demitido por ter feito negócio ruim que o governo diz
ter sido bom
NA
TV, POLÍTICOS do PT aparecem travestidos de analistas financeiros, a explicar
que a compra da refinaria foi um bom negócio para a Petrobras. Mas, então, no
mesmo dia, demitem o diretor da Petrobras acusado de enganar a presidente Dilma
Rousseff, de induzi-la a aprovar um negócio... ruim? Não era bom o negócio da
compra da refinaria de Pasadena, patrocinado por esse mesmo diretor?
A
coisa não melhora.
Nestor
Cerveró era diretor da Petrobras até meados de 2008, quando Dilma Rousseff diz
ter compreendido que a empresa fizera um mau negócio bom, ou o que seja, na
compra da refinaria. Cerveró, porém, caiu para o lado, passando a dirigir as
finanças da BR Distribuidora, empresa da Petrobras.
O
que houve? Se o negócio foi bom, mesmo sem nunca ter sido, o que Cerveró fazia
na direção da BR até sexta-feira? Se era de fato bom o negócio, o que houve?
Teria baixado o espírito da Rainha de Copas na presidente, que mandou a
Petrobras cortar a cabeça de Cerveró?
A
coisa não melhora.
No
jogral que ensaiaram para defender o bom negócio ruim da compra da refinaria,
os governistas papagueiam o argumento de que, "no contexto da época",
o negócio era bom. Pode ser.
O
preço do petróleo e a margem de lucro das refinarias decolavam então para as
alturas, no embalo da China e da mãe de todas as bolhas financeiras, parida
pelos "gênios do mal" (Wall Street) do "Império do Mal"
(Estados Unidos), que inflava o preço de todos ativos, financeiros, reais ou
imaginários feito um papel podre imobiliário.
O
valor da empresa de fato subiria com a perspectiva de retorno alto e crescente.
Tudo normal, mas não deixa de ser divertido que o pessoal do PT defenda que a
mãe de todas as estatais surfasse na bolha do "capital financeirizado",
como gostam de dizer.
De
qualquer modo, a sério, o preço da refinaria ainda parece ter tomado carona num
rabo de foguete. No relatório anual do grupo ao qual pertence a Astra, se dizia
que o negócio da refinaria de Pasadena "calhou de ser um sucesso
operacional e financeiro além de qualquer expectativa razoável", graças à
sociedade com a Petrobras.
Mais
divertido é que, quaisquer que sejam os critérios da defesa governista dos
negócios da Petrobras, "de mercado" ou "neodesenvolvimentistas",
tudo acaba em ruína.
O
"critério de mercado", de fato "normal", explicaria o preço
pago pela refinaria de Pasadena, que, porém, acabou em lambança de mais de US$
1 bilhão. Qual seria a explicação das perdas
"neodesenvolvimentistas"?
Por
exemplo. O tabelamento de preços faz a Petrobras perder dezenas de bilhões de
reais. A refinaria semibolivariana de Pernambuco vai custar muito mais que o
projetado.
Ainda
não está claro se valia a pena comprar Pasadena (vão publicar a avaliação
financeira?). Não está claro por que houve encrenca com a Astra, o que fez a
empresa belga se valer da cláusula que obrigava a Petrobras a comprar a sua
parte. Não é pública a fórmula para calcular o valor da refinaria nessa
cláusula. Não está clara a sobrevida e morte nada severina do diretor Cerveró.
Tudo
isso parece muito esquisito. Ainda assim, o prejuízo de Pasadena parece merreca
perto das perdas da Petrobras com outros negócios e com a política do governo.