26
de março de 2014 | N° 17744
MARTHA
MEDEIROS
Um palco para
todos
Viajar
para o Exterior deixou de ser um acontecimento incomum. Na época em que ainda
era, lembro que nós, turistas tupiniquins, ficávamos encantados com a
quantidade de músicos tocando dentro das estações de metrô, de mímicos atuando
em praças públicas, de pintores expondo seu trabalho a céu aberto. Era uma
amostra viva do que chamávamos Primeiro Mundo.
A
tendência se alastrou, globalizou – hoje acontece em toda parte, inclusive
aqui. Mas ainda havia entraves para essas manifestações artísticas se darem de
forma plena, por isso é de se comemorar a lei sancionada pela prefeitura que, a
partir de agora, dispensa qualquer burocracia para que os sem gravadora, sem
editora, sem marchand, sem patrocínio, enfim, os sem contrato possam expor seu
talento nas ruas, parques e largos da cidade, afinando a relação da população
com sua “casa”.
Infelizmente,
quase já não saímos a pé. Os deslocamentos são feitos de carro, ônibus ou táxi,
numa ligeireza que limita nossa comunhão com as alamedas, esquinas e recantos
do nosso bairro. Focamos no endereço a se direcionar (o restaurante combinado
com as amigas, a clínica médica onde temos consulta, o local de uma reunião de
trabalho), porém mal observamos o que existe no percurso entre cá e lá.
Pressa,
medo de assalto, sedentarismo, costume – fatores não faltam para justificar a
razão de cruzarmos avenidas sem olhar para os lados, sem considerarmos a cidade
como uma área pulsante e que é atrativa por si só, por sua atmosfera, por seu
espírito.
Porto
Alegre tem poucas atrações turísticas se comparada com outras metrópoles. Não
temos cartões-postais significativos, de reconhecimento nacional. É uma cidade
básica, com uma festividade acanhada – onde a celebramos? No Brique da
Redenção, certamente, que não deixa de ser uma manifestação de rua à sua
maneira, assim como as feiras livres. Afora isso, ainda somos muito
parcimoniosos.
Por
isso, a convocação: poetas, equilibristas, sapateadores, guitarristas,
fandangueiros, estátuas vivas, retratistas, declamadores, gaiteiros,
violinistas, mágicos, cantores, malabaristas, tradicionalistas, humoristas,
percursionistas, invadam esse palco chamado cidade (assim como fizeram os
estudantes de artes cênicas que sexta passada realizaram uma performance numa
das pontes da Avenida Ipiranga, aliando arte e conscientização ecológica).
A
cidade também é uma rede social e interativa. Quanto a nós, que estejamos
preparados para retribuir. Como? Parando para assistir, aplaudindo,
incentivando, mantendo os vidros dos carros abertos – e a mão aberta também.
Sejamos uma plateia atenciosa. Façamos essa troca em prol de uma cidade mais
moderna e mais alegre não só no nome, mas de fato.