sábado, 22 de março de 2014


22 de março de 2014 | N° 17740
ARTIGOS - Berna Menezes*

As bicicletas, os ônibus e as pessoas

Como pode Porto Alegre, num único dia, perder duas jovens maravilhosas, estudantes que tinham seus sonhos, esperanças e que gostavam de se locomover de bicicleta?

Sou de Belém do Pará, escolhi viver em Porto Alegre há 18 anos, onde casei e criei minha filha, que também é estudante da UFRGS e gosta de se locomover de bicicleta. Quando abri a Zero Hora fiquei chocada, uma jovem foi atropelada por um ônibus na Erico Verissimo, perto da minha casa. Mais tarde, mais uma jovem de bicicleta foi atropelada por outro ônibus e também perdeu a vida.

Porto Alegre, duas bicicletas e dois ônibus. Duas jovens estudantes e dois motoristas de ônibus. Fatalidade?!

Como disse, moro perto da Erico Verissimo, mais precisamente na Cidade Baixa, onde há três anos um motorista descontrolado atropelou dezenas de ciclistas na José do Patrocínio esquina com a Luis Afonso. Fato que teve bastante repercussão, mas nada de concreto. A sociedade porto-alegrense ainda está esperando justiça.

Tirando os ciclistas e suas bicicletas, uma coisa não tem nada a ver com a outra, ou tem? O crime cometido na José do Patrocínio deveria ter recebido um encaminhamento rigoroso, com punição ao motorista que propositalmente jogou seu carro sobre as demais pessoas que estavam na via pública. Por sorte, neste caso, não tivemos vítimas fatais.

As mortes que ocorreram ontem são fatalidades, acidentes de trânsito. Porém o poder público deve investigar as causas que levaram a esses acidentes fatais e muito semelhantes.

Parte do que ocorreu é de total responsabilidade do poder público, em especial da Prefeitura que cede espaço para os ciclistas às pressas, sem planejamento. Uma clara atitude de quem não vê a bicicleta como um transporte e prioriza o automóvel como meio de locomoção, porque sequer o transporte público é tratado como prioridade em Porto Alegre.

Outro ponto que está relacionado se trata do estresse a que os trabalhadores rodoviários estão submetidos. O excesso de trabalho, com o famigerado banco de horas e a longa carga horária, que tanto foi denunciado nos 15 dias de greve da categoria, está cobrando seu preço em acidentes recorrentes e, tragicamente, com vítimas fatais.

Só o poder público tem responsabilidade, dever e autoridade para corrigir os excessos. A licitação do transporte é uma excelente oportunidade que colocará à prova as prioridades do poder público de Porto Alegre. Transporte público de qualidade e segurança para todos ou o lucro e privilégio para poucos? Com a palavra o prefeito José Fortunati.


*Coordenadora geral da Assufrgs – Associação dos técnicos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul