23
de março de 2014 | N° 17741
MARTHA
MEDEIROS
A fita crepe
Sempre
fiquei intrigada com mulheres que posam para fotos virando-se de costas, dando
apenas uma espiadinha para a câmera por cima do ombro. Que as Mulheres Melões e
Melancias façam isso, é compreensível: estão oferecendo às lentes o produto que
as tornou famosas. Porém, no sofisticado tapete vermelho, acontece o mesmo.
Divas
em seus vestidos longos de grife oferecem ao mundo uma visão frente e verso, e
não só a bem torneada Jennifer Lopez, mas também sílfides como Anne Hathaway,
Cate Blanchett e Naomi Watts. Provavelmente para mostrarem suas escápulas em um
exclusivo decote Dior, para exibirem o colar da Tiffany que pende pelas costas,
para que reparem no corte de cabelo batidinho na nuca, ou em alguma tatuagem, vá
saber. Mas gosto de pensar que elas dão essa viradinha por um motivo mais
divertido: para provar que não há fita crepe ajustando a roupa ao corpo.
Nem
sempre as roupas que a gente vê nas revistas caem feito uma luva no corpo das
modelos. Aliás, quase nunca. Metros e metros de fita crepe ajustam camisas,
grudam vestidos na cintura, afunilam a perna da calça – quando não esticam o
pescoço da criatura ou puxam sua barriga, numa espécie de cirurgia plástica
instantânea. Acontece não só dentro dos estúdios. Já escutei casos hilários de
mulheres que foram flagradas em festas com uma fita crepe escondida atrás da
orelha, a fim de estender uma pelezinha saliente que não deu tempo de remover
com bisturi.
Estou
exagerando, claro, mas nem tanto. Há uma frase célebre de bastidor: não haveria
cinema sem a fita crepe. E também não haveria a fotografia, a televisão, as
mostras de decoração e arquitetura. Todos os expositores sabem que sem fita
crepe não é possível construir uma ilusão.
Sem
desprestígio aos alfinetes, às joaninhas, aos pregadores de roupa, aos clipes e
demais acessórios de primeiros socorros de uma produção, mas é inegável que
fita crepe é o quebra-galho soberano: funciona para tudo. Prende, cola, ajeita,
segura, amarra.
É o
salvador dos cenários, o braço direito dos iluminadores, e, como já se disse, a
melhor amiga dos figurinistas. Você não precisa ser atriz de Hollywood para
testar: basta conferir o efeito de uma camiseta exposta no manequim da vitrine
de uma loja e depois experimentar o efeito vestindo-a em você mesma, dentro do
provador. Pois é, alguns vitrinistas também recorrem a essa espécie de “photoshop”
artesanal.
Não
pretendo ser estraga-prazer, ao contrário, espero estar salvando seu dia: quando
você for às compras e a roupa não cair tão bem no seu corpo como cai no da
Alessandra Ambrósio, não excomungue os deuses nem a si mesma. Até as mais
perfeitas das beldades, aquelas que ganham milhões de dólares para fotografar
com lingeries divinas, já contaram com a ajuda bem terrena de uma fita crepe
que custa menos de 10 reais.