Folha
Profissionais se calam ao ver
infrações éticas graves, aponta estudo
Quase
80% das pessoas não denunciam desvio de dinheiro e assédio nas empresas
Funcionários
brasileiros relutam a delatar companheiros de trabalho flagrados em violações
éticas. Uma pesquisa da consultoria de RH VitalSmarts indica que 78% dos
profissionais ficam calados ao ver infrações graves como desvio de dinheiro, punições
injustas e assédio sexual.
O
levantamento foi feito pela internet com 926 pessoas. Segundo Rodrigo Lolato,
diretor da VitalSmarts, a chave da questão está na cultura empresarial. A
empresa precisa estimular o comportamento ético e fazer com que os profissionais
se responsabilizem uns pelos outros.
"Com
isso, o fato de reportar uma violação deixa de ser uma denúncia para se
transformar em uma preocupação [com a companhia]", diz.
Para
Renato Santos, gerente-executivo da consultoria de negócios ICTS, as pessoas se
omitem nesses casos ou por encarar o ato de denunciar como antiético ou porque
a empresa não dá as ferramentas adequadas para isso.
Segundo
a pesquisa, 44% dos profissionais dizem não ser socialmente apoiados por
colegas, chefes ou RH para denunciar falhas graves.
Susana
Falchi, presidente-executiva da consultoria HSD, afirma que a Lei
Anticorrupção, que entrou em vigor em janeiro e endurece a punição de empresas
envolvidas em atos contra a administração pública, tem feito com que muitas empresas
adotem canais de denúncia confidenciais, principalmente para violações graves.
EFEITO
MANADA
O
levantamento mostra que violações éticas acontecem com muita frequência nas
companhias: um terço dos entrevistados afirmou ter visto pequenas infrações,
como tomar crédito pelo trabalho dos outros, na semana anterior ao
questionamento.
Existe
também um certo "efeito manada" entre as pessoas. Em um levantamento
da ICTS feito em 2012, 69% dos funcionários se enquadraram em um quadro de
"ética flexível". "Eles dançam conforme a música. Se todo mundo
comete infrações, eles também", explica Santos.
Para
ele, é possível mudar esse comportamento. "Ética não se aprende no berço.
As organizações têm influência nisso, não são só vítimas."
Colaborou
BÁRBARA LIBÓRIO, de São Paulo