09 de novembro de 2016 | N° 18682
ARTIGO | RENATO SOARES GUTIERREZ*
PROJETOS PARA A SAÚDE: VOTOS OU REALIDADE?
De forma geral, as prioridades em saúde – considerando aquilo que é muito comum, que tem grande potencial de morte ou danos e que pode ser reduzido por medidas fundamentadas de prevenção, diagnóstico e tratamento – deveriam ser objeto de protocolos a serem implementados em toda a rede do SUS.
Refiro-me a que esses meios de controle deveriam estar definidos, por critérios técnicos, de modo a que essas atividades estivessem caracterizadas para cada nível de atenção, desde a rede básica até os hospitais terciários, com a seleção das tecnologias mais apropriadas, ou seja, com boa base científica de sua eficácia, e com custos aceitáveis para os orçamentos.
Por exemplo, se a hipertensão arterial entrasse nesse rol de prioridades, o que é óbvio, nas unidades básicas se deveria determinar rotineiramente a pressão arterial dos consultantes e, pela definição de um protocolo, indicar mais investigação, ou tratar, por exemplo, com dietas de restrição de sal e gorduras, exercício físico e, por vezes, um fármaco diurético. Nessa linha, o protocolo também poderia determinar quando encaminhar para um ambulatório especializado ou uma internação.
Essas definições prévias permitiriam que os exames a serem empregados estivessem apontados, assim como todo e qualquer tipo de insumo necessário ao controle das situações individuais.
Sem seleção de prioridades e tecnologias, que implicam capacidade técnica dos assim chamados gestores, o atendimento à população é um voo cego, que leva a quase nenhuma resolutividade, e à contínua lotação das emergências, que são buscadas na falta de ações efetivas nas unidades periféricas.
Parecem difíceis essas definições de prioridades e modos de ação? Pois já foram feitas, anos atrás, em níveis gerenciais que representavam determinado governo e determinada agremiação política. O que fez o próximo adversário eleito? Sepultou o trabalho, desenvolvido, registrado e chancelado por universidades e sociedades médicas do Estado, porque era “dos outros”, do inimigo.
Esses fatos anteriores explicam a deterioração da saúde. Nenhum progresso vai existir sem projetos sistêmicos. A imaginação e o palavreado resolvem eleições, não mudam realidades.
*Médico pneumologista do Hospital Nossa Senhora da Conceição, SUS-RS