16 de novembro de 2016 | N° 18689
FÁBIO PRIKLADNICKI
AS MELHORES HISTÓRIAS
Aconteceu com um amigo meu. Um amigo, juro, acredite. Foi uma história linda: conheceu sua garota em um Ano-Novo na Times Square. Encontrou-a lendo um romance da Clarice Lispector em um canto enquanto a multidão enlouquecida se preparava para a virada. Ele também estava entediado, ambos tendo se desgarrado de seus grupos de amigos. O primeiro beijo – não os culpe pelo lugar-comum cinematográfico – foi à meia- noite que anunciava a chegada de 2016.
Mentira. Conheceram-se em um Carnaval em Atlântida, quando achavam que não precisariam mais pular Carnaval nunca mais na vida. Mas a solteirice, sabe como é. Ela não estava fantasiada de nada, pois achava tudo aquilo um saco; ele também não. Mas é verdade a parte em que haviam se desgarrado dos amigos. O primeiro beijo foi durante uma agradável caminhada no tradicional calçadão, ao sopro do mar castanho – passe o eufemismo – do Litoral Norte.
Mentira também. Conheceram-se por um aplicativo de relacionamentos. Agora é sério. Desculpe frustrar a expectativa, é a mais pura verdade. Depois de alguns encontros meia-boca com outros pretendentes, gostaram do perfil um do outro e começaram a se falar. Acharam-se atraentes: check. As idades regulam: check. Interesses parecidos: check. Moram perto: check. O primeiro beijo foi um emoji, o segundo foi na Cidade Baixa. Simples assim.
Influenciados por romances açucarados e filmes hollywoodianos, preferimos pensar que o amor é destino, e não algoritmo. Enquanto não recebemos um sinal divino, não acreditamos. Mas pense bem: nunca foi assim. Por acaso, eles se conheciam em um bar. Por acaso, tinham um amigo em comum. Por acaso, eram vizinhos, colegas de faculdade, trabalhavam na mesma empresa. Não tem predestinação nessa história.
Uma parte significativa dos casais já se aproximam com o auxílio de aplicativos, deslocam-se juntos por meio de aplicativos, comunicam-se diariamente por meio de aplicativos. E está tudo bem. Esqueça as histórias de amor à primeira vista do tipo Romeu e Julieta. O amor entrou na era da eficiência, você não precisa mais chegar de furão na festa da família inimiga para encontrar o seu alguém. Foi o que eu disse ao meu amigo: as melhores histórias são as que virão.