15 de novembro de 2016 | N° 18687
ARTIGO | DENIS LERRER ROSENFIELD
O DIABO
O que o capeta tem a ver com os crimes e malfeitos dos governos petistas? Por que ser invocado em tal contexto, precisamente quando o país tenta se reerguer de uma crise tão profunda?
Talvez nem mesmo ele entenda. Procurou todo esse tempo resguardar-se, porque, eis uma hipótese, tivesse medo de tão ardilosa companhia. Será que os petistas tinham em vista uma competição com ele, que poderia levá-lo à sua substituição?
Qual seria a artimanha deles?
Primeiro, foi convocado para vencer uma eleição, quando todos os instrumentos, inclusive os mais nefastos, seriam trazidos à baila. Isto foi feito. A corrupção foi utilizada em uma campanha nababesca, com um fausto digno dos maiores banquetes. Qualquer limite foi ultrapassado. Gostou!
A mentira foi de praxe, pois o discurso eleitoral não guardou nenhuma relação com as medidas econômicas posteriormente tomadas. A mentira, aliás, ganhou dimensões inauditas, uma vez que a real situação do país, de desastre, foi habilmente ocultada. Enfim, pensou, verdadeiros seguidores.
Segundo, foi reconvocado em uma situação muito estranha, pois é como se tivesse mudado de lado. Ficou desconfiado. Se foram meus seguidores até agora, por que invocam o tal “pacto diabólico”, como se ele tivesse passado para o outro lado da trincheira? Até o diabo guarda coerência, pois se não o fizesse ficaria totalmente transtornado.
De fato, tinha sentido uma intensa afinidade com os petistas. Tinha apreciado o uso sistemático da mentira, o ocultamento da realidade, o desvio de recursos públicos e a bancarrota do país. Contudo, sentiu-se traído. Como podem eles, que tanto fizeram pelo mal, posicionar-se do lado do bem?
Pior ainda, Lula declara-se inocente e o mais justo dos homens. Poder-se-ia aqui cogitar de que se trataria apenas de uma outra mentira. Resgatar o bem seria, porém, inadmissível!
Ora, para o capeta não há justificativa nenhuma para que a justiça e o bem sejam invocados, sobretudo atualmente.
Entretanto, fez uma última ponderação. Não será que Lula procura se colocar na posição de um Capeta II, tendo como objetivo ocupar a sua posição? A sua preocupação atingiu aqui o paroxismo.
Uma coisa consiste no combate ao bem, algo legítimo. Outra bem diferente reside em uma rivalidade no fazer o mal. O ciúme foi intenso.