19 de novembro de 2016 | N° 18692
MARTHA MEDEIROS
Pense antes de dar um flagra
Redes sociais são parques de diversões. Alguns não sabem a hora de saltar do brinquedo e se atrapalham
Enquanto ele me contava sua história, eu ia lembrando outras histórias semelhantes, em especial a de uma amiga que teve os e-mails devassados pelo marido. O que foi descoberto? Apenas que ela conversava com um ex-namorado. Claro que havia no ar um clima amistoso de quem já dividiu lençóis e lembranças, mas não estava acontecendo nada. Eram provocações, insinuações, enfim, as inofensivas seduções das quais adultos se valem quando querem se divertir redes sociais são parques de diversões. Alguns não sabem a hora de saltar do brinquedo e se atrapalham, porém outros conseguem manter a suavidade da troca erótica sem provocar fissuras em seu status oficial.
Até que alguém desconfiado e ciumento crônico invade o que era para ser privado.
Eu continuava escutando meu amigo contar sua história. Ele tinha feito a maior burrada da vida: entrado no Facebook da namorada. Ela era seu grande amor, mas ele não havia gostado do jeito maroto com que ela havia cumprimentado um sujeito num bar e foi corroído por uma imaginação mortal. Em um dia que ela foi viajar, ele aproveitou para rastrear suas conversas inbox. Não encontrou nada que a condenasse, a não ser o conhecido tom jocoso que muitas vezes usamos em bate-papos particulares. Quando ela retornou de viagem, olhou para ele calmamente e disse adeus. Nem deixou que ele explicasse. Já estava sabendo que ele havia vasculhado sua correspondência.
Meu amigo estava desnorteado. Perguntava: você acha que eu ainda tenho chance com ela? Pouca. Não apenas porque ele havia sido invasivo, mas também porque a invasão dele fez a namorada sentir-se envergonhada da própria frivolidade e das emoções incoerentes que regem a ela e a todos nós, mesmo quando já somos maduros. O namorado a enxergou despida de um jeito que ninguém poderia.
Não foi o flagra de uma traição, que afinal não havia, e sim o flagra da carência existencial que poucos superam, e de uma vaidade também sem controle. Podem não ser qualidades honrosas, mas são absolutamente humanas.
Se alguém está se sentindo inseguro com seu par, que pergunte diretamente a ele sobre o que está acontecendo e conforme-se com a resposta. Se não se conformar, separe-se, pois ninguém merece viver torturado pela dúvida. Separar é uma saída mais digna do que bisbilhotar: encontrando ou não as pistas que busca, o fim do relacionamento será iminente, pois um limite foi transposto. Tentar trazer à tona, na marra, os segredos e fantasias do outro, é violar um espaço que pode não ser belo, mas é sagrado.
Meu amigo aprendeu a lição, mas terá que testar esse aprendizado com seu amor futuro.