Jaime Cimenti
Lugar de todo mundo é na cozinha
Não custa repetir que, se a gente cozinhasse uma vez por dia, talvez não precisasse fazer terapia ou tomar remédios para os males da alma. Mesmo para quem vive sozinho e não gosta de fogão e panelas isso é verdade. Todo mundo devia saber cozinhar. Comida saudável, de verdade, disse Rita Lobo, que trabalha há mais de vinte anos com culinária e pesquisas. Criatividade na cozinha, mão nas massas e não pensar em tantos problemas é bom.
Depois de pesquisas na USP sobre alimentação da população brasileira e de duas séries no Youtube Comida de Verdade e O que tem na geladeira?, enfatizando que as pessoas devem cozinhar para se alimentar melhor e que é bom usar receitas a partir de compras nas feiras livres, Rita lançou o livro O que tem na geladeira?
No Brasil, em torno de 60% das pessoas estão som sobrepeso e por volta de 20% são obesas por conta, principalmente, de mudança de hábitos. Mais ou menos isso: deixaram de comer arroz, feijão, bife com salada, frutas, comidas caseiras e passaram a consumir alimentos industrializados, refeições em lancherias, restaurantes e deu no que deu. A coisa está mudando, os mercados e restaurantes também, claro, as feiras livres, todos estão atentos e quem quiser curtir a comida de verdade que a vovó e a mamãe comia sabe que é possível.
Com um pouco de boa vontade, receitinhas e uns 30 minutos, as pessoas conseguem fazer um almoço ou jantar razoável, sem precisar comer só aquele peito de frango sem molho ou então aqueles pratos industrializados do comércio que trazem sódio e outras coisas que nem é bom falar. De mais a mais, a preparação da comida e a degustação pode e deve ser algo coletivo, na medida do possível, e aí a galera alimenta os relacionamentos diversos. Claro, durante a semana, especialmente, a gente sabe que família é um grupo que tem a mesma chave da casa e que, eventualmente, dorme debaixo do mesmo teto. Mesmo assim a ideia de que cozinhar deve ser como ler, escrever ou andar de bicicleta é algo a ser cultivado.
Nem falo em preços altos da comida fora de casa, segurança e outros problemas que pintam. Sei, muitos não gostam de lavar panelas, pratos e talheres, mas, paciência, tem sempre alguns que gostam e todo mundo ajudando um pouco a coisa vai.
Sei que esta crônica está meio arroz com feijão, mas qual o problema? Nem todo dia é hora de alta gastronomia e todo mundo sabe que os grandes chefs, no cotidiano, adoram comer arroz com feijão, pão com ovo, bife acebolado, galinha caipira assada e outras iguarias de verdade. As chamadas comidas da alma, da vovó, que têm aquele gosto de natureza, vida e infância que pratos refinados quase não têm.
Ir na feira pelo menos uma vez por semana sempre é bom. Tem gosto de interior, de chácara. Feira da Vasco, da Travessa do Carmo, da Redenção, da Ceará, tantas por aí, ecológicas, orgânicas ou simplesmente naturais e, agora, algumas em shoppings, deixam a gente feliz, encontrando os amigos e os feirantes, que se tornam amigos. Eu sei, estou falando abobrinhas, mas são da feira.
a propósito...
São mais de 30 anos de Feira do Livro, que chega à 62ª edição, e este ano topei uma ideia do site e da fotografia do JC. Estamos produzindo uma série com histórias que rolam pela praça. Já mostraram as crianças da Rede de Escolas São Francisco que lançaram livro o mundo dos balaios e vem mais: a árvore solar (tecnologia que foi plantada na praça), meus encontros com colegas como Luiz de Miranda e a madrinha Cíntia Moscovich, achados e barbadas de biografias e muita história no quiosque das editoras do Senado e Câmara dos Deputados. Veja no site e no Facebook do JC e assista!
(Jaime Cimenti)