Jaime Cimenti
Velhice, envelhescência
Segundo a Organização Mundial da Saúde, idoso é quem tem 60 anos ou mais. Na real, todo mundo acha que só os outros é que são velhos e idosos. Ninguém é muito chegado a considerar-se idoso ou velho e pensar que um dia a cortina final se fecha. É bom pensar que velho é quem tem 20 ou 30 anos mais do que a gente. Antigamente, velho era quem tinha 10 anos mais do que nós. Hoje mudou, as pessoas estão vivendo bem mais.
Lá por 1974, por exemplo, o brasileiro vivia em média 55 anos. Hoje, vive 70 e poucos. Daqui a pouco, teremos em torno de um terço da população composta de idosos. Envelhescência é chamado o período que vai de 45 a 65 anos, no qual as pessoas se preparam para a velhice. Se preparam para ter uma nova cara, um novo olhar sobre o envelhecimento e pensar que nunca é tarde para se reinventar.
Os novos idosos e aposentados procuram, tanto quanto possível, viver as últimas décadas de vida com alegria, vida, saúde, movimento, produtividade e seguirem fazendo parte ativa da sociedade. Uns até tentam carreira de dançarino com 70 ou 80 anos. Na civilização oriental, especialmente na China, o idoso é venerado. Lao-Tsé entendia que a velhice era um momento supremo, o alcance espiritual máximo, quando o corpo, em êxtase, se libertaria para o humano se tornar um santo.
Confúcio encarava a velhice como um período em que as pessoas merecem paz, cuidado e atenção. No velho Egito, 2.500 a.C, Ptah-Holep, o filósofo, reclamava que a velhice era pior coisa que poderia acontecer a um homem. Na Grécia, Sócrates falava em preparação para a velhice saudável, através de atividades físicas regulares, boa alimentação, muita água, trabalho feliz e amizades profundas.
Já Aristóteles tinha uma visão amarga da velhice, dizendo que os velhos eram reticentes, de mau caráter, maldosos e desconfiados. O médico Hipócrates, por sua vez, pregava higiene física e mental, dieta sóbria e moderação na vida. Em Roma, Cícero ensinava que, na velhice, os prazeres corporais são substituídos pelos prazeres intelectuais e que vale a pena descobrir o prazer que cada idade proporciona.
Sêneca achava que a velhice era boa. Já Deepak Chopra, o médico do Bill Clinton, aproxima medicina oriental e ocidental, aplica princípios de física quântica e nos anima dizendo que não há fim para a dança cósmica, mostrando que a vida segue. Como se vê, nesses milênios, os doentes, os mal-humorados de nascença, os que estão em dificuldades financeiras e os que não gostam de sorrir acham que a velhice é uma m... ou uma m... pura.
Os que conseguem manter a saúde, a alegria de viver, de aprender e descobrir todo dia, acham que a "melhor idade" é um período maravilhoso. "O trabalho é a farra dos velhos", disse o Mario Quintana, que também ensinou: "A gente está velho quando começa a adular ou criticar os jovens". Sabia muito, o Mario, que deve estar lá em cima, em contato com os anjos que apareceram em muitos poemas que escreveu.
a propósito...
É isso. Precisamos falar mais em idosos do que em velhos ou macróbios.
Idoso é o velho respeitado. Precisamos de preparação para um país que terá um terço de idosos e, daqui para diante, muitos centenários, como no Japão e nos Estados Unidos, por exemplo. Envelhescência já, com disposição para os aposentados não ficarem só nos aposentos. Lugar de idoso é em todo lugar possível e imaginável.
Enquanto os idosos ainda dançam a "dança cósmica" por aqui, vida saudável, ativa e longa para eles. Quando forem bailar a "dança cósmica" em outras dimensões, aí suas boas lembranças permanecerão nos que ainda não entraram noutra.
Jornal do Comércio (http://jcrs.uol.com.br/_conteudo/2017/11/colunas/livros/598810-dialogo-e-etica-da-conversacao.html)