segunda-feira, 2 de julho de 2018


02 DE JULHO DE 2018
EDITORIAL

COLEÇÃO DE PROMESSAS


A criação de uma fábrica estatal de chips é, sobretudo, fruto da visão equivocada de que o Estado deve gerar riqueza, quando o papel deve ser o de não atrapalhar a livre-iniciativa

Depois de enterrar R$ 1,08 bilhão de recursos públicos e sem qualquer perspectiva de equilíbrio financeiro, a Ceitec agora tenta um novo plano - o enésimo - para parar de dar prejuízo. Parcerias com a iniciativa privada ou até mesmo a privatização, descartada por ora pelo Planalto, seriam soluções plausíveis, se é que há algum interessado. A esta altura, está evidente que o Estado não sabe gerir, como mostra reportagem publicada na superedição de final de semana.

Dez anos após ser federalizada, a empresa que produz semicondutores ainda engatinha e tenta reverter a sensação de frustração em relação à promessa de colocar o Brasil no cenário mundial da microeletrônica. O feito mais expressivo, por enquanto, foi o de registrar resultados negativos em todos os anos de exercício sem conseguir ganhos significativos para a indústria nacional.

A criação de uma fábrica estatal de chips é, sobretudo, fruto da visão equivocada de que o Estado deve gerar riqueza, quando o papel deve ser o de não atrapalhar a livre-iniciativa.

Esse modo primário de gestão pública teve e ainda tem um alto custo social para os brasileiros. Com enormes desafios nas áreas de saneamento básico, educação, saúde e segurança, o governo federal ainda despende energia e recursos públicos em atividades que seriam mais bem assimiladas pelo setor privado.

Mesmo que seja uma empresa de alta tecnologia, a Ceitec não escapa do loteamento político e, apesar do quadro qualificado de cientistas, também serve de porto seguro para aliados do governo em seus cargos de direção. Sem dúvida, há técnicos excelentes em atuação na Ceitec, mas que poderiam se realizar mais profissionalmente, e ser mais bem remunerados, na iniciativa privada.

Num momento em que o país discute um rombo de R$ 139 bilhões nas contas federais e em que as estatais estão no centro dos principais escândalos de corrupção, nada justifica a insistência em um modelo de gestão que só acumula prejuízos e coleciona promessas.