quinta-feira, 6 de março de 2014


06 de março de 2014 | N° 17724
EDITORIAIS

RISCO DE INOPERÂNCIA

Passado o Carnaval, é absolutamente compreensível que o país volte as atenções para suas casas legislativas, pois abrigam representantes políticos da população e as pessoas das quais se esperam iniciativas para fazer o país andar. Além de ser eleitoral e de Copa do Mundo, o ano começou marcado por uma queda de braço entre o Planalto e sua própria base de apoio parlamentar.

Temeroso de ver aprovadas iniciativas que encolhem as receitas ou ampliam as despesas, além de outras de conteúdo polêmico, o Executivo recorreu a uma série de projetos em regime de urgência, que trancam a pauta enquanto não são votados. Enquanto isso, a própria base de apoio do governo se insurgiu, criando um blocão de insatisfeitos, composto por integrantes de oito partidos, que impede votações. O contribuinte paga a conta da inoperância.

Desde o início do ano e até o retorno do recesso espichado de Carnaval, que ainda deve se estender até o dia 11 de março, o resultado concreto é que apenas meia dúzia de projetos chegou a ser aprovada de forma conclusiva na Câmara e no Senado. Em 2013, o balanço indicava 25 votações a essa altura.

No ano anterior, 36. A redução, acentuada, pode até ser conveniente em alguns casos para o Planalto, que teme a aprovação de iniciativas demagógicas num ano de campanha presidencial, e para os parlamentares, que ficam com maior poder de barganha para pressionar o Executivo, cobrando a liberação de mais verbas de interesse de suas bases eleitorais. É péssima, porém, para os brasileiros, que elegem seus representantes na expectativa de vê-los cumprir seu papel, fazendo o que os eleitores determinaram como de sua atribuição.

Entre os projetos à espera de definição, está o da renegociação das dívidas dos Estados, de interesse de governadores e prefeitos mas não do Planalto. Segue à espera de definição também a chamada Lei Kiss, aguardada com expectativa pela sociedade por acenar com mais segurança na prevenção e combate a incêndios. O temor, procedente, é de que dificilmente algum tema não examinado agora terá alguma chance de avançar mais à frente.

Num ano previsivelmente encurtado por eventos como Copa e eleições, os parlamentares deveriam ter se preocupado mais em demonstrar maior capacidade de trabalho. Depois das manifestações populares intensificadas a partir de junho do ano passado, muitos parlamentares pareciam inclinados a deixar no passado aberrações como uma semana de trabalho entre terça e quinta-feira. Bastou o país voltar a uma relativa normalidade para que o ano já se iniciasse em ritmo lento e com uma produção que, de tão irrisória, não tem como ser aceita pela sociedade.


Num ano encurtado por eventos como Copa e eleições, os parlamentares deveriam ter se preocupado mais em demonstrar maior capacidade de trabalho.