sábado, 5 de novembro de 2016


05 de novembro de 2016 | N° 18679 
EDITORIAL

O ENEM E A ÉTICA


Nestas quase duas décadas de existência, o Enem enfrentou boicotes, vazamentos de conteúdos, adiamento de provas e tentativas diversas de fraude.

Desde que foi implantado, em 1998, com o propósito de avaliar o desempenho dos estudantes ao final da educação básica e contribuir para a qualificação das escolas, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) vem enfrentando percalços de diversas naturezas. No início, serviu apenas para acirrar a disputa comercial entre as escolas privadas melhor ranqueadas, escancarando a distância entre aquelas e as instituições públicas. 

Depois, quando passou a ser utilizado como mecanismo de acesso ao Ensino Superior, começou a se popularizar até tornar-se o que é hoje, a maior prova de avaliação educacional do país e a principal porta de entrada na universidade, mobilizando cerca de 8 milhões de candidatos em 1,7 mil municípios brasileiros. 

Nestas quase duas décadas de existência, o Enem enfrentou boicotes de estudantes, vazamentos de con-teúdos, adiamento de provas e tentativas diversas de fraude, tornando-se também um teste de competência para o Ministério de Educação e um verdadeiro teste de integridade ética para os jovens que buscam um rumo profissional pelo caminho do estudo.

A competição por vagas em universidades conceituadas e por financiamentos e bolsas de programas governamentais tornou ainda mais atraente a disputa pelas melhores notas. Infelizmente, alguns jovens entre os milhares que se habilitam anualmente para a disputa acabam caindo na tentação de utilizar meios ilícitos e desleais para alcançar seus propósitos. 

Não passa ano sem que algumas dezenas de candidatos sejam flagrados em tentativas de fraude, que vão do emprego de aparelhos eletrônicos à falsidade ideológica. Também por isso os controles têm sido intensificados, a ponto de, na edição deste ano, ter sido introduzida a coleta de dado biométrico dos candidatos, que poderão ter suas impressões digitais conferidas nos arquivos da Polícia Federal.

Essa vigilância até pode parecer excessiva, mas justifica- se plenamente não apenas pelo histórico do próprio exame como também pelo mau exemplo dos governantes, políticos e lideranças de outros setores da vida nacional que se envolveram com a corrupção. Ainda assim, é importante ressaltar que a imensa maioria dos estudantes vai para a prova na boa-fé, munidos apenas dos conhecimentos adquiridos e da vontade legítima de conquistar uma oportunidade de crescimento e amadurecimento futuro. 

Em respeito a esses jovens íntegros, que têm potencial para construir e comandar um país mais digno e justo, é imprescindível que a prova deste final de semana transcorra dentro da mais absoluta normalidade e sirva efetivamente de estímulo para os mais aptos e mais honestos.