segunda-feira, 11 de junho de 2018


11 DE JUNHO DE 2018
L. F. VERISSIMO

Metamorfoses


Em 1968, há 50 anos neste mês, Robert Kennedy foi assassinado em Los Angeles por um imigrante palestino. Kennedy estava em campanha para a presidência dos Estados Unidos. Já tinha vencido algumas prévias do Partido Democrata e seria certamente o candidato do partido nas eleições que se aproximavam. 

Tinha o voto dos jovens, dos negros e de outras minorias. Se vencesse as eleições, seria o mais próximo que um americano debativelmente "de esquerda" chegaria ao poder. E, além dos seus discursos de campanha empolgantes contra a desigualdade e a intolerância, funcionava o velho charme dos Kennedys.

Como o seu irmão também assassinado, Robert era uma figura controvertida. Hoje se sabe que a eleição de John Kennedy foi comprada pelo patriarca Joseph Kennedy, com dinheiro de origem suspeita. O velho era um empreendedor sem muitos escrúpulos, curtido no vale-tudo da política na Nova Inglaterra, e diziam que tinha ligações com a máfia. 

Também ajudou Robert, que sofreu algumas metamorfoses na sua carreira antes de ser convidado pelo irmão presidente para ser seu procurador-geral. Foi consultor da comissão do Congresso que perseguiu supostos comunistas no governo, liderada pelo famigerado senador Joseph McCarthy. Na comissão, trabalhou lado a lado com o repelente Roy Cohn. Notabilizou-se também pela sua campanha contra o líder sindical Jimmy Hoffa, como consultor de outra comissão inquisidora.

No fim, o pai de John e Robert foi redimido pelo que seus filhos fizeram. Seu dinheiro sujo foi bem empregado. John não foi um grande presidente, mas sua atuação contra a discriminação racial foi pioneira e importante. Até hoje, tem gente que suspira por Camelot, a terra mágica só frequentada por Kennedys e agregados, na qual Jack e Jackie reinavam. E, na sua última metamorfose, Robert se descobriu um batalhador contra a injustiça e os podres da América, e é por isso que é lembrado.

1968, vale lembrar, foi o ano da morte de Martin Luther King e da quase revolução na França. E o ano que, segundo o Zuenir, nunca acabou.

L. F. VERISSIMO