quarta-feira, 20 de junho de 2018


18 DE JUNHO DE 2018
SEGURANÇA

Ostentação que gerou desconfiança


Se por um lado pretendiam manter o esquema escondido, a ostentação de alguns PMs despertou desconfiança dos colegas. Gastos pareciam não condizer com o salário de policial. Viagens internacionais, carros luxuosos, jantares em restaurantes caros passaram a pipocar nas redes sociais. A vida de glamour era atribuída ao salário da mulher, da renda da família ou de alguma herança.

- Chamava a atenção policial ostentando em ambientes luxuosos. Mas entre perceber e provar que aquilo ali não é legal é difícil - conta outro colega de batalhão.

Enquanto uns esbanjavam, outros tentavam apagar rastros deixados pelo envolvimento com o crime. Chegavam a pedir para trocar de escala ou elogiavam uns aos outros para a chefia, como forma de serem considerados fora de suspeita. Mas nem sempre conseguiam esconder os lucros. No dia da operação, R$ 240 mil foram apreendidos entre eles.

- Ter R$ 18 mil na tua casa, debaixo do colchão, não dá. Sem contar a questão de policiais com droga dentro de casa. Uma coisa não casa com a outra. Não é por ser policial que fica isento - revolta-se um servidor do batalhão.

DEPURAÇÃO DOS QUADROS É NECESSÁRIA, DIZ SUBCOMANDANTE-GERAL DA BRIGADA

O MP solicitou à Justiça o sequestro e o bloqueio de bens. O pedido foi parcialmente deferido.

- A ação foi clara demonstração de que a sociedade gaúcha e suas instituições públicas não são tolerantes a desvios de condutas dos agentes públicos, principalmente quando estas dizem respeito àqueles que têm o dever de fazer cumprir as leis e proteger as pessoas, no caso policiais. A segurança deve começar dentro de casa e, por isso, a depuração dos quadros é necessária e tem o total apoio dos próprios profissionais - atesta o coronel Eduardo Biacchi, subcomandante-geral da Brigada Militar.

Agora, é urgente a continuidade do trabalho. Além dos policiais que acabaram presos, chegaram a ser realizadas buscas nas residências de outros PMs, sob investigação. A expectativa com as apreensões é de que surjam mais suspeitos e a descoberta de outros crimes. Se as informações de um único celular serviram para desencadear tantas descobertas, o conteúdo guardado nos 126 telefones apreendidos deve, no mínimo, surpreender. Os cinco dias das prisões temporárias venceram na sexta-feira e o MP pediu a renovação, que foi aceita pela Justiça - os flagrantes foram convertidos em preventivas. Os presos estão recolhidos no Presídio Militar da Capital.