quarta-feira, 20 de junho de 2018



18 DE JUNHO DE 2018
+ ECONOMIA

MULHERES TÊM DE MOSTRAR QUE NÃO ESTÃO NO LUGAR ERRADO

Dois casos recentes de sucessão familiar quebram a escrita de obstáculos a mulheres. No entanto, Gissela Colombo, presidente da Lojas Colombo, e Aline Eggers, que assume a Fruki em 2019, ainda são exceções. Claúdia Tondo, sócia da Tondo Consultoria e doutora em Psicologia, estimula que a mudança seja suave, mas avisa que, no ritmo atual, o equilíbrio de gêneros na alta gestão só será alcançado em um século.

Há novo padrão das sucessões?

O que mais mudou nos últimos 20 anos nas empresas familiares foi a relação dos pais com as filhas mulheres. Um motivo é que quase todas as famílias tiveram alguma separação. Com isso, os pais perceberam que precisam educar a filha para ser sócia, não o genro. Quem só tinha filha mulher costumava recorrer aos genros na sucessão. Isso mudou.

Não há postura mais autônoma das mulheres em cobrar seu papel?

A ambição feminina tem sido maior. Também há a questão da educação formal, mulheres estudam mais, são maioria em estatísticas de graduação e pós-graduação. A necessidade de se realizar por meio do trabalho se tornou importante para as mulheres.

O RS é mais machista ou é lenda?

A prática mostra que, se existe uma mulher forte nos negócios na geração sênior, tende a ter filhas fortes. Quando não existe, não são a primeira escolha. Até que pais e tios identifiquem uma mulher como sucessora demora um bom tempo, o mind set deles não está preparado.

Isso ocorre só no RS?

Temos clientes de Pernambuco a Montevidéu. Vemos que São Paulo é mais exceção do que o RS. As pontas se parecem.

O que ainda difere uma mulher e um homem na gestão de alto nível?

A expectativa inicial é de que ela não seja tão boa, as pessoas se surpreendem muito quando as mulheres são boas. A primeira reação é de que ela está ali porque é filha do dono.

O homem não é ?filho do dono??

Também, mas as mulheres têm de mostrar que não estão no lugar errado. Para se fortalecer, é bom falar sobre esses temas em grupos, trocar experiências, até sobre divisão de papéis familiares, em que as mulheres são mais cobradas.

Os grupos costumam entrar nesse aspecto de relações familiares?

São três esferas conectadas: a família, a empresa e a propriedade ou sociedade. Conforme a fase do negócio ou da família, um círculo toma mais importância em relação aos outros. Trabalha-se muito a governança familiar, além da governança corporativa. É como a família se organiza como empresária, até porque várias famílias vendem seu negócio e continuam empreendendo, podem investir provisoriamente em outros negócios.

Em quanto tempo se pode mudar?

Se continuar no ritmo atual, levaria de 80 anos a cem anos. Há reuniões em que participo e nem sou ouvida, mesmo como consultora. Projetos de desenvolvimento, grupo de iguais e mentoria ajudam. Não se trata de mudança radical, mas que se decida por meritocracia, não por preconceito.