19 DE JUNHO DE 2018
INFORME ESPECIAL
ESTAMOS POR UM FIO
Há muito de preconceituoso na avalanche de críticas ao novo penteado do maior jogador brasileiro. Tenho convicção disso, mesmo que muitos dos que pegaram pesado com Neymar achem que estão falando apenas do cabelo dele. Não estão. De fato, há toda uma formulação estética, engessada em um padrão europeu e publicitário de antigamente, por trás do mau humor. Ficou estranho, concordo. Mas esse é um problema só do Neymar.
É óbvio que quando um dos melhores jogadores do planeta muda o visual para uma estreia de Copa, quer chamar a atenção e sabe que vai gerar zilhões de posts nas redes sociais. Não analiso aqui os comentários e as brincadeiras, mas o momento em que tudo isso passa do limite do humor e vira raiva e ódio.
Se o Neymar se sente bem sendo loiro, ou fantasiado de calopsita, que bom para ele. O cabelo é dele, a história é dele, a identidade dele é ele quem faz e constrói. Li e ouvi em muitos comentários a mesma música de fundo, desta vez mais disfarçada: "Moleque vileiro metido a besta". Engraçado. Quando um loiro cultiva dreads em homenagem a Bob Marley, é cool.
Tô nem aí pro cabelo do Neymar. No máximo, vou achar engraçado e continuar torcendo por ele e pela Seleção. Afinal de contas, na mais perfeita metáfora que faz a ponte entre país e futebol, estamos todos por um fio.
TULIO MILMAN