quarta-feira, 20 de junho de 2018



20 DE JUNHO DE 2018
ARTIGO

ROMPENDO O SILÊNCIO
SILVANA VILODRE GOELLNER - Professora titular da UFRGS - vilodre@gmail.com

Oano de 2018 é emblemático para o futebol brasileiro: não porque os homens participam da Copa do Mundo, mas porque se completam 30 anos da primeira convocação da seleção de mulheres, ocorrida em 1988, visando disputar o primeiro torneio organizado pela Fifa.

Emblemático também porque mostra o quanto o futebol ainda é representado como um esporte pensado pelos homens e para os homens. Não sem razão, muitas mulheres ergueram suas vozes diante da desvalorização de sua atuação, rompendo o silêncio que invisibiliza suas histórias no passado e no presente. Silêncio que não significa ausência, visto que a presença das mulheres no futebol brasileiro acontece desde as primeiras décadas do século 20, apesar das adversidades que tiveram e têm que enfrentar para viver deste e neste esporte. 

O futebol foi proibido para as mulheres por quase 40 anos: em 1941, o Conselho Nacional de Desportos sancionou um decreto impedindo a prática de esportes considerados incompatíveis com a sua "natureza". Tal legislação foi revogada em 1979, ainda assim mantendo uma deliberação que não permitia a filiação de equipes a clubes federados nem a realização de jogos dentro dos estádios oficiais. A regulamentação do futebol de mulheres aconteceu apenas no ano de 1983.

A repressão legal imposta às mulheres, indubitavelmente, cerceou sua participação nesse esporte. Contudo, uma ressalva merece ser feita: o fato de o futebol ter sido proibido não significa que elas dele se afastaram. Resistiram e, a despeito da interdição, o vivenciaram mesmo que na informalidade e nas sombras da oficialidade dos discursos, das práticas e das representações. 

Criaram múltiplas estratégias para se inserir e permanecer no futebol como jogadoras, árbitras, técnicas, torcedoras, jornalistas, gestoras. Quebraram barreiras e lutaram pelo direito de vivenciá-lo em suas múltiplas dimensões, transformando seus desejos em ato político. Ao protagonizar o futebol como exercício de liberdade, de sociabilidade e de empoderamento, as mulheres afirmaram que esse espaço também é seu. E o futebol delas está aí, basta querer ver!