António de Sousa Lara,
o 'tremendista' António de Sousa Lara, professor, político e autor de mais de 65 obras, acaba de publicar a versão ampliada de As portas de Dante (Editora Revan, 296 páginas).
O professor doutor Lara, deputado do parlamento português em várias legislaturas, subsecretário de Estado da Cultura, foi embaixador em Cabo Verde da Soberana e Militar de Malta e delegado do parlamento português na União da Europa Ocidental, entre outras missões. Professor universitário há 42 anos, Lara é titular do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa e doutor honoris causa por três universidades estrangeiras.
As portas de Dante tem profundas e embasadas reflexões, especialmente de ordem política, sobre métodos de ciências sociais; o caos da Europa dividida, a subversão, o terrorismo, a globalização econômico-financeira, o regresso da geopolítica, a esquerda e a direita no Ocidente e seus valores e interesses, a suspensão da democracia e a sua alternativa sistêmica, guerra de civilizações no cotidiano, consumo, teoria da alienação, ciência separada da fé, teologia da política, a resolução de conflitos e outras questões. Não por acaso, as epígrafes do livro são trechos do Inferno, da Divina Comédia de Dante.
Na introdução, o autor fala que colegas e amigos dizem que o politólogo se tornou um "tremendista" e apocalíptico. Ele diz que, para uma realidade apocalíptica, é preciso uma apreciação apocalíptica.
O autor não se interessa muito por ele mesmo e pensa que as considerações, sim, devem ser expostas à dialética da crítica e do contraditório. Lara até espera que a história venha lhe desdizer por completo e que tudo não passe de um pesadelo "tremendista". Mas ele não muda de posição. Os escritos do livro, recentemente publicados em obras coordenadas pelo professor, foram repensados, revisados e ele os considera um manifesto. "A guerra, o caos e a subversão no século XXI já são (e serão mais) de proporções tão dantescas quanto aos efeitos", diz ele.
Tal como os vulcões é o título da breve parte 12 do livro, seu final. Lá, escreveu Lara: "A guerra e qualquer outra forma de subversão muito raramente são uma surpresa total. Bem pelo contrário. Tal como os vulcões, anunciam-se com antecedência, não invulgarmente, mais do que uma vez. O processo subversivo não é mudo. As multidões é que não querem ouvir. Nem as elites. Estamos, de novo, perante a concretização do velho princípio vulgus vult decipi. E a história faz-lhes a vontade: ergo decipiatur. Este escrito trata de alertar para o vulcão que há muito estremece e fumega.
Dizem que as pessoas não querem mais más notícias, que precisam acreditar nos homens. Lembro-me sempre dos judeus na Alemanha nazista. Não quiseram ler o Mein Kampf. Não quiseram ver o óbvio. Quiseram acreditar nos homens. E abriram-se as portas do inferno. Na apresentação escreveu: "Cumpro um dever de consciência ao publicar este escrito. Está feito. O processo já começou. Parece ser imparável. Ai da humanidade".
a propósito...
Claro que as visões de António de Sousa Lara podem e devem ser objeto de polêmica, como, aliás, ele mesmo pretende. Ao fim e ao cabo, pensamentos e reflexões como as dele servem, no mínimo, para ficarmos atentos com relação ao complexo e, por vezes, aterrorizante quadro político global. Além de pensar e refletir, é preciso agir. Eleições estão chegando, bom momento para analisar a conjuntura e buscar o melhor caminho.
A democracia, como disse Churchill, é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum melhor do que ele. Mas é melhor deixar essa conversa séria para depois do Hexa, não é? (Jaime Cimenti) -
Jornal do Comércio (https://www.jornaldocomercio.com/_conteudo/colunas/livros/2018/06/632625-marco-aurelio-imperador-filosofo.html)