terça-feira, 12 de junho de 2018


12 DE JUNHO DE 2018
+ ECONOMIA

É INCOMPETÊNCIA DO GOVERNO


Presidente da Fruki

O planejamento da sucessão na Fruki foi detalhado: prevê que Aline, filha do atual presidente, Nelson Eggers, fique no cargo mais alto por 15 anos, para então ser substituída pelo irmão Júlio. Essa foi uma das revelações do empresário, ontem, na 12ª edição do Fórum Respostas Capitais, realizado na sede do Grupo RBS. Ele ainda aceitou relatar, finalmente, como a lata do guaraná que ajudou a formular foi parar na mão do ex-jogadar David Beckham. Dependente de frete, desabafou sobre o tratamento do assunto da tabela que elevou os preços do transporte pelo governo federal:

- É muita incompetência.

Poucas fábricas de refrigerante sobreviveram. Por que com a Fruki foi diferente?

Acho que foi pela vinda das grandes que a Fruki cresceu. São desenvolvidas e têm boa gestão. Copiamos o que sabem fazer.

O que permitiu expandir?

Buscar sempre o conhecimento. Só temos 150 pessoas trabalhando na fábrica, porque é automática. Não são operários comuns, são engenheiros ou estudantes universitários. São 12 engenheiros. O profissional que começou tudo tirou o meu lugar, porque eu era diretor industrial e agora é ele.

O senhor era adepto da educação continuada antes de ser moda?

Não tive toda essa educação, mas nunca parei de buscar conhecimento. Inclusive, fazem 58 anos que comecei na empresa, neste ano vou completar 59, e é o meu quarto emprego. Nossa escola tinha biblioteca, aprendi a ler lá e meu pai, que era leitor assíduo, dava o exemplo. No fim, fui trabalhar na empresa da família que era muito pequena, que tinha o pior salário de todos.

O que determinou?

Os outros não queriam, meus primos não queriam. Era um negócio ruim, muito pequeninho. Em compensação, hoje estão arrependidos de não serem diretores.

Foi nessa época que o senhor lavava garrafas?

Fazia de tudo. Pegava a garrafa suja, colocava um pouco de chumbo de caça e ficava sacudindo até tirar toda a sujeira. Agora, quem compra Água da Pedra pode ser o primeiro a colocar a mão na garrafa, tudo é automatizado. Saímos do zero há 17 anos e hoje temos 40%, 43% de participação de mercado. Somos o primeiro no Estado, em segundo lugar está a água da CocaCola, com 14%. Temos três vezes mais.

O que transformou o lavador de garrafa no empresário que bate Coca-Cola?

Foi um pouco a cada minuto. Há algum tempo, estive em uma reunião com uns cem pequenos fabricantes de refrigerante. Perguntaram quanto cada um vendia com e sem nota. Um disse ?50% com e 50% sem?, outro ?40% com e 60% sem?. Eu disse ?100% com nota?. Deu bafafá. Dois que me conheciam confirmaram que era verdade. Se o cara tem duas gavetas de dinheiro, perde todo o controle.

É lenda ou verdade que a fórmula do guaraná é sua?

Fiz de tudo, lavei garrafa com chumbinho, fiz contabilidade. Quando a Brahma comprou a Skol, lançou o guaraná Sport, que nos candidatamos a fabricar. Queria ter contato com uma grande, queria aprender. Conseguimos, deram treinamento, era nisso que queria chegar. Montamos laboratório, compramos equipamentos. Na primeira venda para distribuidores, compraram 80 volumes de Sport e 20 de Fruki. Na segunda, foi 50 de Sport e 50 de Fruki. Continuamos distribuindo, e a Sport desapareceu.

E a fórmula?

Dois meses antes de inaugurar, fui para o laboratório. Era uma salinha com pia, fogão e geladeira. Saiu o guarná Fruki. Em todos os Estados, o Antárctica é líder, só não é no Rio Grande do Sul, porque o líder é o Fruki. A gente olhava, parecia verde, mas tinha que ser amarelo. Jogava fora, preparava outra, de novo. Aí vimos que tinha um quadro verde na parede. Colocamos em um fundo branco, e não estava mais verde.

E qual é a história da famosa foto do jogador de futebol David Beckham com o guaraná Fruki?

Fazia inglês em Lajeado e tinha um coleguinha de 14 anos. Quando ele terminou o curso, foi para os Estados Unidos. Depois de muitos anos, telefona e diz: ?Olha, gostaria de vender Fruki aqui, a Antártica está vendendo pouco?. Vendi para ele, era Venice Beach, na Califórnia. Tinha um restaurante, Café Brasil, e lá perto morava o Beckham. Ele jogava com brasileiros, aprendeu a comer churrasco, feijão. Em uma ocasião, foi flagrado levando a lata de Fruki para casa.

Como está a experiência em SC?

Temos de expandir, já temos boa participação no Rio Grande do Sul, temos de pensar no futuro, tenho seis filhos. A Aline vai assumir a presidência no ano que vem. Em Santa Catarina, estamos atacando o Litoral, por Florianópolis, e o Interior, por Chapecó. Completamos um ano agora. Estamos atingindo as metas, mas ainda não dá lucro.

Como foi esse processo de sucessão na empresa?

Muito tranquilo. Costumo dizer que tenho sete filhos, três homens, três mulheres e a Fruki. A Aline trabalhou 10 anos na Ipiranga, aprendeu muito lá. Nando, o mais velho, é PCD e trabalha na Fruki, ele tem problema intelectual, mas não muito grave. O Júlio começou como encarregado de entrega e hoje é diretor de marketing. A Aline vai ficar 15 anos na presidência e depois ele vai assumir.

Como foi para a Fruki o impacto da greve e da tabela do frete?

Chegamos a carregar em uma noite em torno de 400 caminhões. Como temos 80 próprios, faltaram 320. Vendemos uma garrafa a R$ 0 ,90 lá nos postos de Bagé. Um terço é do governo, temos R$ 0,60, incluído o frete, imagina como somos atingidos. Se fosse tão ruim, os freteiros nos abandonariam. Não nos abandonaram. O que é ruim é a política do governo, que aumenta todos os dias o preço dos combustíveis. É incompetência do governo, não só desse, mas dos passados também, que trouxeram o país a essa situação. Não sei o que vai acontecer.

Quais são os próximos sonhos que quer realizar?

Agora é a cerveja. Meu filho Júlio acabou de voltar com um vidrinho de levedura desenvolvida na Inglaterra, é exclusiva. Vamos lançar uma lager, que vai competir com a Heineken. Fizemos acordos com diversas empresas que vão fabricar, por enquanto. Vamos lançar na Agas em agosto.

MARTA SFREDO