03
de março de 2014 | N° 17721
L. F. VERISSIMO
Outra carta da
Dorinha
Recebo
outra carta da ravissante Dora Avante. Dorinha, como se sabe, diz que só Deus e
o Pitanguy conhecem sua verdadeira idade, e confia na discrição dos dois. Ela
confirma que foi a primeira mulher a fazer “topless” numa praia brasileira, mas
nega que teve que parar porque o padre Anchieta protestou. Mesmo assim, a
história da Dorinha se confunde com a história do Brasil.
E
ela conta que o que alguns presidentes fizeram, figurativamente, com o país,
fizeram com ela, na cama – às vezes figurativamente também, suspira. Dorinha
mantém até hoje o que chama de “laços estreitos” com figuras importantes da
República, mas nada que envolva arreios ou chicote. Ficou muito enternecida com
o uso repetido do termo “vaquinha” que tem visto no noticiário atual, porque
era assim que chamava, carinhosamente, seu quarto ou quinto marido, entre
outras razões porque nunca se lembrava do seu nome.
Dorinha
e seu grupo de carteado e pressão política, as Socialaites Socialistas, que
pregam a instalação no Brasil do socialismo soviético na sua etapa mais
avançada, que é a volta ao feudalismo czarista, se reuniram para planejar sua
participação no... Mas deixemos que a própria Dorinha nos conte. Sua carta veio
escrita com tinta turquesa em papel rosa, cheirando a “Engorge moi”, um perfume
proibido em vários países.
“Caríssimo:
roto-beijos! É Carnaval e, como acontece todos os anos, tivemos que escolher
entre a purificação de nossas almas e uma profunda reflexão sobre a condição
humana, saindo na Sapucaí, ou o abandono lascivo de um convento. Você sabe como
fiquei traumatizada depois do meu acidente há dois anos, quando desfilei como
destaque fantasiada de Pássaro do Paraíso, perdi o equilíbrio e cai do
pedestal, abanando freneticamente minhas asas de acrílico na vã tentativa de
sair voando em vez de me estatelar no asfalto. Que vexame. No ano passado,
decidimos que ninguém sairia de destaque, desfilaríamos todas no chão, com o
povo, ou coisa parecida.
Mas
como só havia vagas na ala dos turistas, que na escola chamam de Ala Scholl,
acabamos no meio de uma delegação do Rotary Club do Paraná, que parou na frente
do camarote da Brahma, para ver os artistas, e se recusava a andar,
prejudicando nossa cronometragem. Este ano resolvemos sair de Black Block
Estilizado, com o rosto tapado e o resto do corpo completamente nu. Não sei
qual será a reação das arquibancadas e das autoridades. Por via das dúvidas, já
preparei meu recurso infringente. Da tua Dorinha, na expectativa”.